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Entrevistas

Jim Starlin: Um sucesso escrito nas estrelas

3 março 2001

O Universo HQ entrevistou, COM EXCLUSIVIDADE, Jim Starlin, o criador de Dreadstar; e conseguiu artes inéditas, NO MUNDO INTEIRO, de seu próximo trabalho para a Marvel

 

Jim StarlinA vastidão do Cosmos sempre fascinou o homem. Em todas as formas de arte, muitos já utilizaram o espaço como tema principal de suas obras. Nos quadrinhos, um artista que fez – e ainda faz – inúmeras incursões pelas estrelas é Jim Starlin.

Criador do saudoso Dreadstar (veja matéria especial sobre o personagem), Starlin tem um currículo invejável. Foi o primeiro artista a matar “de verdade” um super-herói, o Capitão Marvel (da Marvel; não confundir com o da DC Comics); era o roteirista da Morte de Jason Todd, o segundo Robin; criou o mega-vilão Thanos; e trabalhou com vários os super-heróis “de peso”, como Super-Homem, Batman, Surfista Prateado, Hulk, Homem de Ferro, Aquaman e outros.

Recentemente, desenhou algumas edições do novo Capitão Marvel e está envolvido em uma série de projetos, como a republicação de toda a saga de Dreadstar em volumes encadernado, em preto e branco, pela Slave Labor Graphics. Aliás, para os fãs do Guerreiro das Estrelas, uma surpresa: Starlin disse que pretende retomá-lo e, provavelmente, o matará!

Jim Starlin concedeu uma entrevista ao Universo HQ, na qual fala de sua carreira, de sua relação com as grandes editoras americanas, dos personagens prediletos e de seus trabalhos futuros. E tem mais: você vai conferir, COM ABSOLUTA EXCLUSIVIDADE, NO MUNDO INTEIRO, páginas inéditas do seu novo trabalho para a Marvel. É isso mesmo que você leu! Essas imagens não foram divulgadas nem nos Estados Unidos!

Portanto, prepare-se! Sua viagem intergaláctica está apenas começando!

Universo HQ: Qual é a sua formação acadêmica e artística?

Jim Starlin: Tenho pouquíssimo treinamento acadêmico. Eu costumava desenhar no meu quarto quando criança, olhando as revistas e tentando descobrir como desenhá-las.

UHQ: Qual sua idade e quando começou a trabalhar com quadrinhos? O que o levou a querer trabalhar nessa área?

Starlin: Estou com 51 anos, e trabalho profissionalmente com quadrinhos desde 1972. Sempre amei quadrinhos, e quis escrevê-los e desenhá-los desde os oito anos.

UHQ: Muitos dizem que Jack Kirby foi uma grande influência em seu trabalho. Isso é verdade? Quais artistas marcaram seu estilo? Quais foram seus ídolos?

Starlin: Kirby era o meu Deus, seguido de perto por Steve Ditko, em segundo lugar. Outras influências que tive quando pequeno foram Gil Kane, Carmine Infantino e Joe Kubert.

UHQ: Quais as diferenças entre se trabalhar na Marvel e na DC? Você prefere trabalhar com os personagens de qual das duas editoras?

Starlin: Na maioria das vezes, as diferenças são bem pequenas. Tudo depende de quem está no comando em determinado momento; e com qual editor se está trabalhando. Quando trabalhei com Kevin Dooley, em Hardcore Station (nota do UHQ: uma minissérie em seis partes, da Liga da Justiça, para a DC Comics), foi um verdadeiro pesadelo. Mas eu também atuei lá com Archie Goodwin, em outro projeto, e foi maravilhoso. Agora, estou trabalhando com Tom Brevoort, na Marvel, e está sendo ótimo. Ele é muito profissional e amigável. Com outros editores da Marvel, eu não tive tanta sorte.

Eu tenho um grande carinho pelo Super-Homem e Batman, porque eu cresci com eles, mas, atualmente, estou trabalhando com os meus personagens favoritos na Marvel. Tudo muda, dependendo de quem está no comando em cada companhia. No momento, eu gosto do pessoal que está na Marvel, e por isso estou com eles. Isso pode mudar no próximo ano. Quem sabe?

Dreadstar - The Metamorphosis Odyssey Hardcore Station

UHQ: Pouca gente lembra que você desenhou as primeiras histórias do Mestre do Kung Fu, um personagem que marcou muitos leitores. Qual a sua relação com o personagem? Foi um momento importante para sua carreira?

Starlin: Trabalhar com Steve Englehart foi divertido, e eu adorava o programa de TV do Kung Fu (nota do UHQ: uma série, dos anos 70, onde o personagem principal era interpretado por David Carradine). Nós queríamos fazer uma adaptação do programa, mas a Time Warner era dona dele. O ruim sobre esse projeto foi ter Fu Manchu incorporado à mistura.

Nunca havia lido nada dele e não tinha idéia de quão racistas os livros eram. Muitos dos meus amigos asiáticos me deram um “puxão de orelha” depois que foi lançado.

UHQ: Quais as diferenças entre trabalhar na Marvel na fase em que você desenhava Adam Warlock e Vingadores (Saga de Thanos) e, posteriormente, quando fez as mini-séries Desafio Infinito e Thanos: Em Busca do Poder?

Starlin: Quanto mais tempo eu trabalho na Marvel, mais devagar eles ficam para aprovar projetos. Quando eu fiz Warlock, falei com Roy Thomas durante a tarde e, à noite, já estava desenhando a primeira página. Agora, tive que esperar três meses para concordarem em fazer Infinity Abyss.

UHQ: Você usou a Graphic Novel “A Morte do Capitão Marvel” como uma forma de colocar para fora sentimentos referentes à morte do seu pai, vítima de um câncer. Como foi executar essa obra? Qual foi a reação dos fãs em relação a essa história? Afinal, você matou um herói muito querido!

Starlin: Foi uma forma barata de terapia. Adorei fazer o projeto, e muitos fãs também gostaram. Recebi algumas ameaças de morte, mas nada demais. Recebi mais aborrecimentos de diversos dos meus companheiros de profissão, que estavam irritados porque eu consegui o primeiro negócio com royalties nos Estados Unidos.

UHQ: É verdade que, na época, você fez a Graphic Novel, para que a Marvel, em troca, publicasse Dreadstar, pela Epic (nota do UHQ: um selo da Marvel para matérias especiais/adultos, com alguns títulos cujos direitos eram dos autores)?

Starlin: Sim. Eu e Shooter fizemos um acordo sobre começar uma linha que tivesse histórias com personagens que pertencessem aos autores, mas só se eu fizesse esse projeto antes.

A Morte do Capitão Marvel Walock

UHQ: O que está achando da nova revista mensal do Capitão Marvel, escrita pelo Peter David? Como é sua relação com ele, uma vez que David também já trabalho com o Dreadstar? Você ainda acompanha os personagens que lhe trouxeram fama, como Vingadores, Adam Warlock e outros?

Starlin: É boa. Nos últimos tempos, desenhei três edições do novo Capitão Marvel para o Peter David (números 11, 17 e 18). Sobre os outros personagens, em breve, usarei vários, como Thanos, Capitão Marvel, Serpente da Lua, Gamora, Dr. Estranho, Homem-Aranha e Pip, em Infinity Abyss, uma mini-série, em seis edições, que vou escrever e desenhar para a editora.

UHQ: Como surgiu Metamorphosys Odyssey, na Epic Comics, na qual você deu inicio a história que culminou no surgimento do título “Dreadstar”? Você tinha isso em mente desde o início?

Starlin: Não! Originalmente, a idéia era fazer uma história com um final parecido com um conto de fadas. Mas eu comecei a gostar de Dreadstar, à medida que a história se desenvolvia. Além disso, a Marvel, repentinamente, percebeu as vantagens de lançar personagens que pertencessem aos seus criadores. Foi assim que a linha Epic começou.

UHQ: Conte um pouco sobre o trabalho na mini-série O Messias, de Batman. Afinal, esse foi um dos primeiros trabalhos de destaque do personagem depois de Cavaleiro das Trevas, e as comparações foram inevitáveis! Como você lidou com isso?

Starlin: Na verdade, não me lembro de qualquer comparação entre as duas histórias. Eu tentei afastar o meu Batman da versão do Miller, porque era o melhor a fazer naquele momento Se tivesse que comparar com qualquer trabalho do Miller, seria com Ronin, pois ambas as histórias têm longos períodos situados dentro dos esgotos.

A Morte do Robin The Infinity Abyss - Trabelho inédito de Jim Starlin

UHQ: Como foi a repercussão da Morte de Robin (nota do UHQ: Starlin era o roteirista da história)? É verdade que os leitores americanos detestavam Jason Todd? Como foi a história da votação do público, para decidir se ele devia ou não morrer?

Starlin: Sim, todos detestavam Jason Todd. Eu queria matar o Robin, logo que comecei a escrever Batman. A idéia de pegar uma criança para lutar contra o crime é ridícula! Então, Denny O’Neil veio com a idéia da votação por telefone. Ele ganhou o crédito da idéia de matar o Robin desde o começo.

Então, a revista foi lançada, e os executivos da Time Warner perceberam que eles tinham todas aquelas lancheiras e pastas com o Robin estampado nelas e, de repente, a culpa da morte do Robin passou a ser minha! Em menos de três meses, eu já estava fora da DC.

UHQ: Por que Dreadstar saiu do selo Epic? Depois de passar pela First, o que causou o seu cancelamento? No Brasil até hoje, existe uma legião de fãs, auto-intitulada “órfãos de Dreadstar”, que desconhece o final da saga do personagem!

Starlin: Estou empenhado em publicar toda a série de Dreadstar pela Slave Labor Graphics. AEpic foi uma linha da Marvel que publicava personagens que pertenciam aos autores. Quando aMarvel e eu tivemos uma briga sobre o dinheiro que me deviam, levei o material para a First e, posteriormente, para a Malibu.

UHQ: Você foi um pioneiro em termos de direitos autorais na indústria americana dos Comics, com Dreadstar. Porém, não produziu mais obras com o personagem e, na sua volta, após vários anos, permitiu que o roteiro e desenho fossem feitos por outros artistas (nota do UHQ: Peter David assumiu os roteiros e os desenhos ficaram por conta de artistas como Luke MacDonnell e Angel Medina). Você perdeu o prazer de trabalhar com Dreadstar?

Starlin: Eu escrevi, desenhei e arte-finalizei o equivalente a aproximadamente 50 edições de Dreadstar. Precisei parar e, desde então, não encontrei a oportunidade ideal para voltar a fazer dinheiro com novas histórias do personagem. Afinal, isso aqui é um negócio!

UHQ: Como estão as vendas das republicações da saga de Dreadstar, pela Slave Labor Graphics (nota do UHQ: Starlin está relançando toda a série de histórias de Dreadstar, em edições encadernadas, em preto e branco)?

Starlin: Boas o suficiente para continuarem publicando. Haverá um intervalo de uns seis meses entre as publicações dos livros quatro e cinco, enquanto eu estiver trabalhando em Infinity Abyss.

Epic Marvel Dreadstar

UHQ: Existe um ditado que afirma que toda história boa tem começo, meio e fim. Você pretende encerrar em definitivo a saga de Dreadstar algum dia? Quais os planos futuros para o personagem?

Starlin: Algum dia, em algum lugar, eu retornarei ao Dreadstar e, provavelmente, vou matá-lo no fim da saga. Eu também tenho uma história que quero fazer com ele, chamada Class Warfare.

UHQ: Como surgiu a Bravura Comics (nota do UHQ: um selo da Malibu Comics), onde você publicou duas mini-séries Breed I e II? Qual foi sua participação nisso? Na sua opinião quais os motivos que levaram ao fim desse selo?

Starlin: Harris Miller, meu advogado e também da maioria do pessoal envolvido na linha Bravura, fechou um acordo sobre os direitos dos artistas com a Malibu Comics. Chaykin que sugeriu o seu nome. No fim, a linha morreu, porque os homens de negócios da Malibu não eram muito bons no seu trabalho, e a Marvel acabou por comprar a companhia.

UHQ: Você foi um dos primeiros argumentistas a matar, “de verdade”, personagens de grande sucesso. Hoje em dia, a morte/ressurreição de personagens virou lugar comum, quase sempre na tentativa de se aumentar a vendagem de revistas. O que acha disso?

Starlin: Prefiro não opinar.

UHQ: Na grande maioria de suas histórias temos a ação acontecendo no espaço sideral, em outros planetas ou outros universos. Existe algum motivo especial para essa fascinação pelo cosmos?

Starlin: Sim, eu odeio desenhar carros e pessoas com ternos. Além disso, você pode fazer histórias mais reais ou relevantes se as disfarçar com fantasias. Usando esse método, fiz contos sobre tudo, desde incesto até ridicularizar as grandes corporações; e não poderia ter feito isso se fosse no “mundo real”.

UHQ: Você acompanha alguma série de quadrinhos atualmente? Quais são seus artistas prediletos da atualidade?

Starlin: Leio muito pouco. Qualquer coisa do Alan Moore e Frank Miller, e algumas poucas coisas da Marvel, que têm ligação com o que eu estou fazendo. Também gosto das histórias do Peter David.

Homem de Ferro Exclusivo: arte inédita de Jim Starlin

UHQ: Você trabalhou com Super-Homem, Batman, Surfista Prateado, Hulk, Homem de Ferro, Aquaman e Capitão Marvel, entre outros personagens de sucesso! Existe algum super-herói com o qual você gostaria de ter trabalhado, mas não conseguiu?

Starlin: Millie the Model (nota do UHQ: uma personagem feminina, no melhor estilo Barbie, que foi publicada das décadas de 40 a 60, nos Estados Unidos). Não, na verdade, fiz pelo menos algum trabalho com todos os personagens que sempre quis trabalhar.

UHQ: Qual o seu personagem favorito?

Starlin: Thanos, porque eu o criei e, toda vez que vou para a Marvel, ele está num canto, sentado, esperando por mim para “brincarmos” juntos, não importa em qual título eu esteja trabalhando.

UHQ: Você trabalha com quadrinhos há mais de 30 anos. O que te atrai tanto nessa mídia? O que acha das dificuldades que os quadrinhos estão passando?

Starlin: As dificuldades passarão. Talvez agora, com o (George W.) Bush como presidente. Sempre que tivemos um presidente republicano e a economia em queda, a indústria de quadrinhos prosperou. É só olhar para trás, e ver quais foram os melhores anos: durante os governos de (Richard) Nixon, (Ronald) Reagan e (George) Bush. Nós temos um desempenho melhor quando os outros estão se “machucando”.

UHQ: Você já mencionou a mini-série chamada Infinity Abyss, que propôs para a Marvel. Do que se trata a história? Como andam as negociações?

Starlin: O projeto já foi autorizado, e é sobre a realidade caindo em um abismo. Mais detalhes no futuro.

UHQ: Depois de muitos anos, a Marvel resolveu “ressuscitar” Rom, numa mini-série em 5 partes, com textos seus e desenhos de Chris Batista. Como foi trabalhar com esse personagem (nota do UHQ: um homem que, para salvar o seu planeta, abdica da sua humanidade, para ser transformado num robô espacial. O personagem fez muito sucesso nas décadas de 70 e 80, inclusive no Brasil, pela RGE)? Você gostou de trabalhar com o personagem?

Starlin: Na verdade, não. Na década de setenta, eu o achava um personagem bem bobo. Apenas peguei o trabalho de escrever a série, pois assim poderia pagar algumas prestações do meu barco. Eu era estritamente mão-de-obra contratada naquele projeto. Não farei mais nada com Rom.

UHQ: Fale um pouco também sobre Wyrd: The Reluctant Warrior (Nota do UHQ: Mini-série em 6 edições, publicada pela Slave Labor), ainda desconhecido do público brasileiro.

Starlin: Wyrd é uma história humorística e política, sobre os ricos contra a magia e a homossexualidade não intencional. É um dos meus trabalhos favoritos; e é uma pena tão poucas pessoas terem lido. Está disponível em uma coleção da Slave Labor Graphics.

Wyrd: The Reluctant Warrior Exclusivo: arte inédita de Jim Starlin

UHQ: Você poderia dar mais detalhes de suas outras atividades atuais, como, por exemplo, a produção de livros e softwares?

Starlin: Eu co-escrevo quatro romances com Daina Graziunas, minha ex-mulher (Among Madmen, Lady El, Thinning the Predators e Pawns, que foi serializada com a história de fundo baseada em Dreadstar). Eu sou um dos sócios de uma companhia de computadores chamada Electric Prism, que faz de tudo, desde design de websites até adaptar desenhos arquitetônicos para plantas de construção. Meu envolvimento atual com a empresa é mínimo.

UHQ: Você acredita no potencial dos quadrinhos pela Internet? Eles podem substituir o papel algum dia? O que achou das recentes notícias sobre a Stan Lee Media?

Starlin: a Stan Lee Media demitiu a maioria do seu pessoal há algumas semanas. Eu não acho que descobrirão tão cedo um substituto para o prazer de segurar uma revista nas mãos. Você já tentou ler quadrinhos pela Internet enquanto vai ao banheiro?

UHQ: Você poderia mandar uma mensagem aos seus fãs brasileiros?

Starlin: Continuem lendo e acreditando. A vida é muito curta para não se ter fantasias.

UHQ: Muito obrigado por sua atenção. O Universo HQ lhe deseja sucesso, sempre!

Starlin: Muito obrigado.

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