Confins do Universo 203 - Literatura e(m) Quadrinhos
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Entrevistas

Um autêntico herdeiro do romance noir

1 dezembro 2001
Max Allan Collins
Max Allan Collins, um autor apaixonado por histórias policiais

Nascido em 1948, Max Allan Collins, natural de Iowa, nos Estados Unidos, sempre se interessou pelas histórias de detetives, crimes e mistérios.

Isso fica evidente quando se avalia o seu trabalho. Um de seus mais importantes personagens, Nolan, um ladrão profissional, fez estreou em 1973, no livro Bait Money.

Collins criou outros tipos característicos do universo do romance noir, como: Quarry, um assassino profissional; Mallory, um escritor sempre envolvido em assassinatos e encrencas; e Nate Heller, seu personagem mais importante, um ex-policial de Chicago, que virou detetive e participa de casos históricos, como o seqüestro do bebê de Lindbergh, o Massacre de São Valentino e outros. Um material meticulosamente pesquisado, o que, aliás, é uma das marcas registradas do trabalho do autor.

Bait Money
Bait Money, primeiro livro do personagem Nolan, publicado em 1973

Outro ramo em que atua bastante é na adaptação de roteiros de filmes, transformando-os em novelizações. Foi ele quem transpôs para os livros sucessos como Dick Tracy, O Resgate do Soldado Ryan, A Múmia, Maverick, O Fugitivo, U.S. Marshalls - Os Federais e, até mesmo, histórias originais baseadas nos seriados de TV NYPD Blue e C.S.I.

Nos quadrinhos, ficou famoso por ter escrito a tira de Dick Tracy de 1977 a 1993, revitalizando o personagem após a saída de seu criador Chester Gould.

Junto com Terry Beatty, criou em 1979 o personagem Mike Mist, um investigador. Também foi dessa parceria que surgiu sua série mais famosa nos quadrinhos (até Estrada para Perdição), a detetive Ms. Tree. Esta personagem, que durante anos foi única nas HQs, foi publicada durante quase toda a década de 1980, com mais de 70 edições divididas por editoras como Eclipse, First e DC.

Estrada para Perdição #1, da Via Lettera
Primeiro volume de Estrada para Perdição, publicado no Brasil pela Via Lettera

Ainda nos quadrinhos, Collins escreveu a tira de jornal de Batman; a revista mensal Batman (de 1987 a 1988); criou os personagens Wild Dog (para a DC); e Johnny Dynamite (Dark Horse), além de roteirizar uma edição especial do Homem Morcego.

Seu trabalho mais aclamado, entretanto, é a graphic novel Estrada para Perdição (lançada no Brasil pela Via Lettera, que foi adaptada para o cinema, e lançada no dia 11 de outubro em circuito nacional. O filme tem no elenco Tom Hanks, Paul Newman e Jude Law; e na direção, Sam Mendes (de Beleza Americana), e é uma das apostas para o próximo Oscar.

Se isso tudo ainda não fosse bastante, ele já trabalhou como musico, dirigiu alguns filmes independentes e teve alguns de seus roteiros transportados para o cinema e TV.

Com você, Max Allan Collins.

Estrada para Perdição
Estrada para Perdição, filme da 20th Century Fox, adaptado da graphic novel de Max Allan Collins

Universo HQ: O que o levou a escrever Estrada para Perdição?

Max Allan Collins: Um editor da DC me perguntou se eu gostaria de escrever uma graphic novel de crime e mistério. Ele estava especificamente interessado na minha característica de usar fatos históricos, como fiz nos mistérios de Nate Heller, um detetive particular, na Chicago das décadas de 1930 e 40, como os criados por Dashiell Hammet, Raymond Chandler e Mickey Spillane, mas os crimes que ele investiga são reais: o seqüestro do bebê de Lindbergh, o desaparecimento de Amelia Earhart etc. Faço uma extensa pesquisa sobre isto.

Então, o editor da DC queria este tipo de história, mas com um personagem novo, e usando a técnica da pesquisa histórica. Eu também brincava com a idéia de fazer algo nos quadrinhos que refletisse o meu interesse na cultura pop asiática (isso em 1993). Estava mergulhando fundo sobre John Woo, e achei que aquele tipo de história exagerada e melodramática funcionaria perfeitamente para as HQs.


Tom Hanks, no filme Estrada para Perdição
Tom Hanks, interpretando Michael Sullivan Sr., numa cena do filme Estrada para Perdição

UHQ: Você já trabalhou com diversos projetos relacionados com cinema. Desde livros adaptados de sucessos das telas, à direção dos mesmos. Passava pela sua cabeça que Estrada para Perdição poderia se tornar um grande filme?

Collins: Não perco muito tempo pensando no que pode acontecer, no que se refere a Hollywood. Já tive perto de 20 trabalhos oferecidos a Hollywood nos últimos 25 anos, mas este foi o primeiro que foi desenvolvido (sem contar meus filmes independentes, dos últimos anos). Mas eu acreditava que a natureza visual de Estrada para Perdição poderia atraí-los, também achei que a relação de pai e filho, combinada com uma violenta narrativa sobre gângsteres, poderia ser interessante para eles.

Jude Law, numa cena de Estrada para Perdição
Jude Law, numa cena de Estrada para Perdição

UHQ: Você ficou satisfeito com o resultado final?

Collins: Eu gostei do filme. O diretor Sam Mendes, o roteirista David Self, Tom Hanks e Paul Newman, e os outros atores, o fotógrafo Conrad Hall, a música de Thomas Newman... Tudo é ótimo. Um verdadeiro sonho que se realizou para mim.

O filme é muito fiel ao espírito da graphic novel, e dois terços dele foi tirado diretamente do meu material. Eu aprovo a compressão que fizeram. Afinal, minha história tinha 300 páginas, e a expansão que fizeram do relacionamento típico de pai e filho que fizeram com Tom Hanks e Paul Newman também fez bastante sentido.

aul Newman e Tom Hanks, numa cena de Estrada para Perdição
Paul Newman e Tom Hanks, numa cena de Estrada para Perdição

Foi o mesmo caso com os diversos perseguidores sem face que criei, compostos e transformados no fotógrafo interpretado por Jude Law. É interessante perceber, que muitas das mudanças feitas serviram para fazer do filme algo mais próximo ao meu próprio trabalho. A violência exagerada, no estilo Hong Kong, da graphic novel, por exemplo, foi reduzida por Mendes, de modo a se parecer mais com a brutalidade encontrada num de meus livros de Nate Heller.

Cena de Estrada para Perdição
Pai e filho juntos, numa cena de Estrada para Perdição

Existe algo que eu faria diferente? É obvio que sim. Preferia o meu final (e Steven Spielberg também preferiu!), e teria feito Sullivan (Nota do UHQ: personagem interpretado por Tom Hanks) escapando a tiros, na seqüência do Hotel Lexington; e amarraria melhor alguns pequenos furos do último ato. Mas, no fim das contas, é um filme de qualidade, e deverá ser lembrado. Sam Mendes me fez um enorme favor.

Estrada para Perdição #2, da Via Lettera
Segundo livro de Estrada para Perdição, da Via Lettera

UHQ: Sobre Estrada para Perdição, existem planos para algum tipo de continuação, seja nos quadrinhos ou em outra mídia?

Collins: Estou fazendo duas seqüências em prosa: Estrada para o Purgatório e Estrada para o Paraíso, seguindo os eventos da vida de Michael Jr. Também devo produzir uma série de três graphic novels de 100 páginas, que serão compiladas num volume, que deve ser chamado Contos da Estrada para Perdição. São histórias sobre pai e filho na estrada.

UHQ: Tramas de crime e mistério inseridas num contexto histórico real são comuns nos seus livros, e este também é um dos charmes de Estrada para Perdição. Que tipo de pesquisa você fez para esta obra?

Collins: Fiz muita pesquisa e, na verdade, a história de John Looney e seu filho homicida Connor, descobri quando pesquisava para outro livro, e arquivei para usar posteriormente.

Tom Hanks, em Estrada para Perdição
Tom Hanks, em Estrada para Perdição

Tomei mais liberdades com este material do que costumo fazer com o de Heller. O incidente real - Connor Looney assassinando um associado da família Looney, de maneira desastrada, e acabando morto, meses depois, traído por um dos tenentes de Looney - aconteceu em 1922.

Mas eu queria fazer algo no período da depressão. O objetivo era mostrar que Michael Sr. era um bom homem, dando uma boa vida para sua família em tempos difíceis... mas fazendo coisas muito ruins.


UHQ: Que impacto este projeto já exerceu sobre a sua carreira?

Collins: Agora, existe um grande interesse em mim, em diversas mídias: como novelista, escritor de quadrinhos, roteirista. Quem sabe quanto tempo isso irá durar?

Capa original de Estrada para Perdição
Capa original da graphic novel Estrada para Perdição

UHQ: Quais efeitos, sejam eles positivos ou negativos, você imagina que Estrada para Perdição terá na industria dos quadrinhos?

Collins: Se a indústria de quadrinhos prestar atenção ao fato de que muitas pessoas, que não são leitores de quadrinhos, compraram a reedição encadernada de Estrada para Perdição - em quantidade suficiente para colocá-lo na lista de best sellers do New York Times -, notará que os quadrinhos materiais, que não são de super-heróis, também podem ser divulgados de maneira eficiente, e para o público em geral.

Espero que Estrada para Perdição abra a porta para graphic novels escritas sobre todos os tipos de assuntos, em todos os tipos de gêneros.


Flying Blind, um livro do personagem Nathan Heller
Flying Blind, livro com o personagem Nathan Heller, sobre o desaparecimento de Amelia Earhart

UHQ: Quase todo o seu trabalho está relacionado com o gênero crime e mistério. Quais são suas maiores influências, e o que você ainda espera alcançar?

Collins: Minhas influências são (Dashiell) Hammett, (Raymond) Chandler, (Mickey) Spillane, Jim Thompson, James M. Cain e Donald Westlake. Nos quadrinhos, posso citar Chester Gould, Johnny Craig, Al Capp, Milton Caniff, e Will Eisner. No cinema: Hitchcock, Joseph Lewis, Robert Aldrich, Don Siegel, e os filmes clássicos de Hollywood, de modo geral.

Eu gostaria de alcançar um público maior, e as seqüências de Estrada para Perdição podem me ajudar a conseguir isto. Também quero terminar o meu ciclo de livros de Nathan Heller, uns oito ou dez deles, de modo a ter escrito uma história fictícia do crime na América, de 1930 a 1968. E quero muito fazer roteiros para grandes filmes, e poder dirigir meus filmes independentes de pequeno orçamento.

Tudo se resume a isto: sou um narrador, e desejo continuar contando histórias para um público maior e mais interessado, até que a tampa do caixão se feche.


Dick Tracy Meets Angeltop, coletânea de tiras do personagem, escritas por Max Allan Collins
Dick Tracy Meets Angeltop, coletânea de tiras do personagem, escritas por Max Allan Collins

UHQ: Como você se envolveu com as tiras de Dick Tracy?

Collins: Foi por acidente, na verdade. O editor do Chicago Tribune Syndicate decidiu que ele precisava de um escritor de mistério - e não de quadrinhos - para assumir a tira de Dick Tracy (seu autor, Chester Gould, estava prestes a se aposentar). E eu estava começando, meus livros policiais tinham diversas referências de cultura pop, inclusive aos quadrinhos, e diversas pessoas lhe disseram, que havia este jovem escritor de histórias de mistério, em Iowa, que parecia conhecer bastante sobre quadrinhos.

Na realidade, Dick Tracy era uma obsessão minha desde a infância, e conhecia a tira de trás para frente - eu havia até procurado Chester Gould, e fui um dos únicos fãs que realmente se aproximou dele, visitando seu escritório, sua casa, etc.

Recebi um telefonema, e tive a oportunidade de escrever uma história de teste. Eu fui um entre muitos escritores com esta chance. Escrevi da noite para o dia, mandei tudo imediatamente, e o editor ficou impressionado, não apenas com a minha habilidade e conhecimento da tira, mas também com a minha velocidade, que é muito importante num jornal. Aí, o Tribune parou a competição, e fui contratado instantaneamente.

Foi um trabalho sensacional, mas dez anos depois um outro editor assumiu, e nós nos odiávamos. Um dia, discuti com ele, e fui despedido.


Dick Tracy Meets the Punks
Dick Tracy Meets the Punks, coletânea de tiras do personagem, escritas por Max Allan Collins

UHQ: Você escreveu esta tira de 1977 a 1993. O que o atraía no personagem, e por que ficou nela por tanto tempo?

Collins: Chester Gould me ensinou que você pode matar personagens simpáticos. Isto é muito importante. Ele criou um mundo onde tudo podia acontecer, e todos estavam potencialmente em perigo (exceto o próprio Tracy).

Eu permaneci, porque adorava a tira, me orgulhava de fazer parte daquilo, e, além disso, pagava muito bem. Trabalhava apenas um dia por semana, e ganhava um salário com o qual poderia viver com facilidade. Mas, em vez disso, usei o tempo livre para me desenvolver como um escritor de mistérios e de quadrinhos.


UHQ: Sua personagem Ms. Tree (desenhada por Terry Beatty, e que chegou a ter duas edições lançadas no Brasil, em 1988, pela Editora Success, sendo a primeira em 3-D) é um de seus trabalhos mais famosos nos quadrinhos. Ela foi publicada de 1981 a 1993, pulando de editoras, como Eclipse, First, Aardvark-Vanaheim e, finalmente, DC. Existe alguma chance de a vermos de volta, em breve?

Ms Tree, detetive de max Allan Collins e Terry Beatty
Ms Tree, detetive de Max Allan Collins e Terry Beatty

Collins: Bem, recebi propostas de reimprimir Ms. Tree, e sempre houve um interesse do cinema e da TV. Adoraria fazer uma nova graphic novel, e tenho certeza que Terry sente a mesma coisa.

UHQ: Você acha que a mulher como detetive ainda é algo pouco explorado dentro do gênero de crime e mistério, ou é simplesmente difícil de se fazer isso corretamente?

Collins: Na realidade, na América existem hordas de mulheres detetives. Nunca fui reconhecido como o primeiro a fazer uma detetive moderna, porque sou um homem e escritor de quadrinhos. Mas na esteira de Sara Paretsky e Sue Grafton surgiram dezenas e mais dezenas de mulheres detetives.

Realmente acho que é difícil para alguns autores. A mulher exagera o lado feminista, e os homens tendem a transformá-las em bonecas, ou até a exagerar no aspecto feminista.

Eu sempre tento escrever o personagem da maneira mais fiel que posso. Ms. Tree é basicamente Velda, a secretária de Mike Hammer.


Ms. Tree Special, da DC Comics
Ms Tree Special, revista lançada pela DC Comics.

UHQ: Em 1995, você escreveu Scar of the Bat (lançada aqui, pela Mythos Editora, como Batman - Os Intocáveis) uma edição especial da série Elseworlds (Túnel do Tempo ou Realidade Alternativa no Brasil), mas já havia trabalhado com o Cavaleiro das Trevas anteriormente. O que o levou à série do Batman, tanto a tira, quanto a revista mensal?

Collins: A revista mensal foi um desastre. O editor amava o meu Dick Tracy, e adorava a Ms. Tree, e me contratou para escrever um ano da revista. Eu fiz dupla com um jovem artista que estava estourando, e ele se queimou logo no primeiro número.

Tive oito desenhistas diferentes em dez edições. Não havia continuidade. Foi simplesmente horrível. Além disso, me pediram para recomeçar tudo - iniciar com uma nova origem do Robin. Mas o editor cortou o meu recordatório, que explicava isto, e as pessoas leram às cegas, tentando encaixar, sem sucesso, as minhas histórias dentro da cronologia existente.

Batman #412
Batman #412, escrito por Max Allan Collins

Some a tudo isso, o fato de que eu trabalhei diretamente após o incrível e super bem-sucedido Batman: Ano Um, de Frank Miller. Foi uma espécie de suicídio, e eu me tornei um dos escritores de Batman mais odiados de todos os tempos. Desisti depois de dez edições.

A minha versão do Robin é a que acabou fazendo parte daquela campanha por telefone, para decidir se o personagem deveria morrer ou não. Os fãs pediram a sua morte. Eu tenho um orgulho perverso disso.

Alguns editores da DC entenderam que eu era um bom escritor de Batman, e, um ou dois anos depois, me contrataram para fazer a tira de jornal.

Eu fiz, mas aquele odioso editor do Tribune me forçou a sair da tira, ameaçando me demitir do Dick Tracy, por fazer uma tira "rival". Isso ocorreu uns dois ou três anos antes de ele me despedir.

Batman: Scar of the Bat
Batman: Scar of the Bat, publicado no Brasil, pela Mythos, como Batman - Os Intocáveis

Recentemente, fiz Child of Dreams (nota do UHQ: o Batman Mangá, lançado no Brasil pela Mythos, que foi "adaptado" para o mercado americano), uma longa graphic novel do Batman, com o artista japonês Kia Asamiya. Portanto, periodicamente a DC me passa material do personagem para fazer.

UHQ: Você fez muitos projetos em colaboração com o autor Mickey Spillane, tanto nos quadrinhos (Mike Danger, publicado em 1995 e 1996, pelas editoras Tekno e Big, respectivamente), como no cinema (Mike Hammer's Mickey Spillane) e até mesmo livros (One Lonely Knight: Mickey Spillane's Mike Hammer). Como começou esta relação com Spillane e seus personagens?

Collins: Spillane era meu herói, meu ídolo, desde quando tinha por volta de 13 anos de idade. Nunca perdi meu entusiasmo por ele, ou por seu trabalho. Numa convenção de fãs de histórias policiais, no começo da década de 1980, me pediram para intermediar um contato entre Mickey e o evento. Foi nosso primeiro encontro, e ficamos grandes amigos desde então. Ele é o padrinho do meu filho Nate.

Mike Danger #1, da Big
Mike Danger #1, da Big, parceria entre Max Allan Collins e Mickey Spillane

Acho que fui atraído pela força de Mike Hammer, seu estilo de vingança com os dois punhos, que foi tão imitado nos 50 anos posteriores ao livro Eu, o Júri. Sem falar que Mickey é um poderoso narrador. Nenhum autor pode te fazer virar as páginas mais rápido que ele. E seus livros sempre começam de maneira maravilhosa, te puxando para a história, e terminando no momento em que o vilão recebe o que lhe é devido. Mickey é um dos melhores autores de mistério de todos os tempos, mas é pouco reconhecido.

UHQ: O que você acha do atual material de crime e mistério produzido para os quadrinhos, títulos como Jinx, 100 Balas, Powers, Hawaiian Dicks, entre outros? Você lê alguns deles?

Collins: Não li nenhum deles. Eu não acompanho. Não me interesso. Leio o material do Will Eisner, que é sempre muito bom. E é isso.

Wild Dog
Wild Dog, personagem de Max Allan Collins para a DC Comics

Para ser honesto, tenho um pouco de ressentimento pelo fato de eu (junto com Terry) termos aberto o caminho para estes caras, e nenhum deles reconhecer o que fizemos. E um deles me plagiou desavergonhadamente. Não pergunte quem!

UHQ: Você já trabalhou com super-heróis (Batman, Wild Dog). O que pensa do gênero?

Collins: Não tenho interesse em escrever sobre personagens com superpoderes. Entretanto, homens mascarados podem ser interessantes. Enquanto crescia, sempre fui um grande fã do Zorro, e isso sempre ficou comigo. Portanto, Batman é o meu personagem, e não o Super-Homem (embora tenha lido ambos quando criança).

UHQ: Qual sua opinião sobre os quadrinhos europeus e japoneses (o mangá)?

Cena de Estrada para Perdição
Cena de Estrada para Perdição

Collins: Acho que na Europa, e também no Japão, existem muitos trabalhos sensacionais. Os italianos fizeram coisas maravilhosas, como Diabolik, por exemplo. Quanto ao mangá, Lobo Solitário foi, obviamente, uma grande influência sobre Estrada para Perdição. Eu adorei o animê Cowboy Bebop, o melhor da cultura pop em muitos anos.

UHQ: Existe algum personagem de quadrinhos que você gostaria escrever?

Collins: Eu gostaria de fazer um gibi de Cowboy Bebop. Fora disso, prefiro criar meus próprios personagens.

UHQ: Como você se sente, de modo geral, e como escritor de quadrinhos, a respeito da possibilidade do filme Estrada para Perdição ganhar algumas estatuetas no Oscar?

Collins: Se ganharmos alguns Oscar, vou ficar muito feliz e com muita, muita sorte. E farei tudo o que puder para tirar vantagem desta sorte.

Stolen Away, uma das obras perferidas do Autor
Stolen Away, um dos livros preferidos do Autor

UHQ: Na sua opinião, qual são seus melhores trabalhos nos livros e nos quadrinhos?

Collins: O meu melhor livro... prefiro dizer que os de Nate Heller, como um todo, representam meus melhores trabalho, do que escolher uma única obra. Se fosse forçado, diria que é Stolen Away, ou talvez Flying Blind, de Angel In Black, ou... não, prefiro Heller, de modo geral. Estrada para Perdição é o meu melhor trabalho nos quadrinhos até hoje.

UHQ: O que você lê atualmente?

Collins: Acabei de ler um livro imenso sobre o show de TV Saturday Night Live. E estou para iniciar a leitura de pesquisa para o meu livro London Blitz Murders, que terá Agatha Christie como personagem.

Gun Crazy, um dos filmes preferidos de Max Allan Collins
Gun Crazy, um dos filmes preferidos de Max Allan Collins

UHQ: Você pode dar o nome de alguns de seus filmes favoritos?

Collins: Um Corpo que Cai, Kiss Me Deadly, Chinatown, Gun Crazy, Get Carter, Rastros de Ódio, Rio Bravo, O Fantasma do Paraíso. Sou viciado em cinema. Possuo milhares de Laserdiscs e DVD's. Meu gosto é eclético, do horror italiano aos musicais de Hollywood, do James Bond de Sean Connery a Jerry Lewis. Tenho todos os filmes de Hitchcock, incluindo os mudos. Ele é o cineasta que eu estudo.

UHQ: Existe alguma chance dos personagens de seus livros, como Nolan, Quarry, Heller e Mallory chegarem ao cinema ou aos quadrinhos, num futuro próximo?

Johnny Dynamite, da Dark Horse
Johnny Dynamite, da Dark Horse

Collins: Um filme curto do Quarry, baseado num roteiro meu, acabou de ser feito, para participar do circuito de festivais. Foi filmado por um jovem cineasta californiano, e co-produzido por mim.

Terminei um roteiro de Nolan, Spree, que já foi oferecido aos produtores de cinema algumas vezes.

No momento, existe um interesse em Heller, tanto do pessoal do cinema, quanto da TV. Johnny Dynamite, a minissérie da Dark Horse, está sendo cogitada para virar um filme, baseado no meu próprio roteiro.

E existem conversas sobre um graphic novel de Heller.


Edição brasileira de Ms. Tree
Edição brasileira de Ms. Tree, da editora Success, da Dark Horse

UHQ: Você conhece algo sobre os quadrinhos e filmes brasileiros?

Collins; Muito pouco. Por favor, perdoe a minha ignorância. Eu tenho receio de mencionar algum nome de diretor ou filme, e eles serem espanhóis ou algo assim, e aí vou parecer um tonto.

Existe um diretor de cinema obscuro, que me fugiu o nome, mas, acredite em mim: com uma coleção de filmes como a minha, tenho certeza que tenho trabalhos brasileiros!


UHQ: Estrada para Perdição já foi publicado no Brasil e, antes disso, parte do seu trabalho anterior (principalmente para a DC), também já havia saído por aqui. O que você pode dizer aos seus leitores brasileiros?

Collins: Estou encantado, e me sinto privilegiado de poder incluir o Brasil no meu círculo de histórias. Espero que ainda haja muito mais pela frente.

UHQ: Em nome de nossa equipe e de nossos leitores, obrigado por esta entrevista.

 

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