Confins do Universo 203 - Literatura e(m) Quadrinhos
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IV FIHQ-PE: um evento pra se tirar o chapéu

1 dezembro 2001

Torre Malakoff, local onde se realizou o IV FIHQ-PEO dia 21 de maio de 2002 apresentava ares promissores. Afinal, era a data da abertura oficial do IV Festival Internacional de Humor e Quadrinhos de Pernambuco. E as expectativas se confirmaram.

À tarde, já era possível "trombar" com um ou outro convidado verificando as novidades à venda nas prateleiras das instalações da Gazeta (uma bem-instalada comic shop de Recife, parceira do evento), ou passeando pela tenda erguida em homenagem aos convidados especiais, os implacáveis Los Três Amigos, que, na verdade, são quatro - Angeli, Laerte, Glauco e Adão Iturrusgarai.

Ás 19h, Lailson de Holanda Cavalcanti, coordenador do Festival, iniciou as atividades, dando boas-vindas ao público e aos artistas presentes. Lailson Cavalcanti abre o IV FIHQ-PEEm seguida foi anunciado o resultado das premiações. Os trabalhos, nas categorias cartum, charge, histórias em quadrinhos e caricatura, puderam ser apreciados em duas salas do centro cultural Torre Malakoff.

Na exposição, e pelos depoimentos dos jurados (inclusive os estrangeiros), ficou evidente que os artistas brasileiros têm evoluído muito, a ponto de fazer vulto em qualquer evento internacional de humor gráfico. A qualidade das obras estava admirável, e os vencedores concorreram num páreo duro, enfrentando trabalhos oriundos dos quatro cantos do planeta. Foram inscritos trabalhos de 25 países.Jantar para convidados do IV FIHQ-PE, a esq. Jotapê Martins, editor da Via Lettera e Sidney Gusman, do Universo HQ

Um avanço em relação às versões anteriores do evento foi o fato de todas as atrações - palestras, exposições e workshops - terem ocorrido num só lugar, evitando o deslocamento do público.

Um jornal do festival, distribuído no local, colaborou para difundir o trabalho de cada convidado, juntamente com a programação e oportunas entrevistas.Jotapê Martins, da Via Lettera durante um Workshop O destaque, obviamente, era para Los Três Amigos. Esse periódico foi, sem dúvida, uma grande sacada.

Outra inovação importante, e que trouxe força para o FIHQ-PE, foi a inclusão de um torneio de RPG nas atividades. Isso possibilitou uma desmistificação para grande parte do público leigo, que podia ter seu primeiro contato com o jogo, participando das aventuras, assistindo às partidas ou tirando dúvidas com o pessoal do Pernambuco Imortal Os Doutores da AlegriaLive Action RPG, o clube de aventuras que se encarregou de organizar a atividade.

Também merece destaque a presença dos Doutores da Alegria, artistas pernambucanos que permaneciam no local do evento fazendo caricaturas dos visitantes, que formaram grandes filas para serem "imortalizados" em papel.

Los Três Amigos, que são quatro (da esq. para a dir.: Glauco, Angeli, Laerte e Adão), durante palestraAlém da tenda Los Três Amigos, onde havia uma pequena exposição das impagáveis histórias, o público pôde conferir de perto um pouco do humor ácido dos cartunistas, na palestra do dia 22 de maio.

Em alguns momentos, até foi possível vê-los falando sério sobre mercado, política etc. A internet foi citada como uma nova forma para os cartunistas iniciantes mostrarem seu trabalho. Angeli questionou o moralismo na questão da descriminalização das drogas e, falando sobre seu trabalho, disse preferir abordar em suas charges os efeitos da política no cidadão comum, ao contrário da maioria dos chargistas, que se limita a retratar os políticos famosos e suas desventuras.

Tenda Los Três AmigosLos Três amigos também rememoraram os tempos das revistas Chiclete com Banana e Circo; e fizeram uma comparação entre o cenário dos quadrinhos nacionais daquela época e o de hoje. Os temas da palestra foram conduzidos por perguntas do público. Laerte encerrou destacando a importância do Festival, declarando ser muito enriquecedor o contato entre o artista e o público.

Gilberto Zappa ministrando um workshopNos dias 23 e 24 de maio, o cartunista mineiro, mas radicado no Espírito Santo, Gilberto Zappa ministrou workshops. O tema era criação, roteiro e arte-final. Durante as aulas, sempre com sala cheia, ele ressaltou a importância da simplificação do elemento gráfico para o humor.

Ainda no dia 23, a palestra de Juan Garcia Cerrada (Diretor de Gestão Cultural da Fundação Geral da Universidade de Alcalá, na Espanha) e Jean Marc Thévenet (Diretor do Festival de Humor de Angoulême, na França) contou com a participação mais que especial da Professora Sônia M. Bibe Luyten, que assina a coluna Quadrinhos pelo Mundo, no Universo HQ.

OJuan Garcia Cerradan, Sonya Luyten e Jean Marc Thévenet, durante palestra público e os artistas presentes puderam ter um contato maior com a realidade das HQs e do humor gráfico na Espanha e na França. Juan Garcia Cerrada falou ainda sobre os projetos de intercâmbio com cartunistas brasileiros e sobre um projeto desenvolvido nos presídios de Alcalá. Através do desenho de humor, os presos passam por uma experiência de sociabilização, desenvolvendo melhor a consciência da situação em sua volta.

Da esq. para a dir.: Gilberto Zappa, Sidney Gusman e Jotapê Martins, durante palestraUma palestra pra lá de movimentada aconteceu no dia 24 de maio, pois reuniu o cartunista Gilberto Zappa; o editor-chefe do Universo HQ e editor executivo da Conrad, Sidney Gusman; e o tradutor e editor da Via Lettera e do Omelete, Jotapê Martins.

Os convidados falaram do início de suas carreiras e depois responderam as perguntas do público. Alguns dos temas abordados foram as possibilidades e dificuldades de publicação de quadrinhos no Brasil, os projetos cooperativos e os fanzines; os requisitos necessários para apresentação de material a editoras; a edição de material estrangeiro e as diferenças entre os editores de quadrinhos do Brasil e os dos Estados Unidos etc. A palestra terminou em festa para os presentes, quando Jotapê, Zappa e Sidney Gusman sortearam diversos brindes para a platéia.

J. J. Marreiro divulga Miscelânea, projeto editado pela Nona ArteDurante o Festival também foram lançados a caixa Cordel Ragú, um revolucionário trabalho adaptando o cordel para a linguagem das histórias em quadrinhos; e o álbum Miscelânea, do projeto Coletâneas Nona Arte.

No dia 25 de maio, o workshop foi Jotapê Martins, que falou sobre a edição de material americano no Brasil, cortes de páginas, traduções, "ajustes" cronológicos etc. Explicou também sobre a gênese do agenciamento de artistas brasileiros para o exterior, quando ainda era sócio do Estúdio Art & Comics, e sobre como está esse mercado hoje.

Jotapê Martins divulgando, e vendendo, os livros da Via LetteraDepois, Jotapê, que estava lançando o livro Fumaça e Espelhos, de Neil Gaiman, no melhor estilo do roteirista britânico, leu um dos contos da obra para atrair a atenção dos presentes e, claro, incentivar as vendas.

Neste IV FIHQ-PE o público, que sempre esteve presente em bom número, pôde, depois de alguns anos, ver juntos novamente Laerte, Glauco, Angeli e Adão; descobrir um pouco sobre o processo de edição de quadrinhos no Brasil; ter contato com a ótica européia a respeito do humor gráfico; e descobrir que alternativas de publicação existem em termos de HQ e cartum no Brasil.

Sidney Gusman, ao centro, com os cartunistas de Recife Samuca e MiguelApesar de pequenos imprevistos terem atrasado um pouco uma ou outra atividade, a organização merece os parabéns; e o saldo final desse congraçamento não poderia ser mais positivo. Aprimorando-se a cada ano, com novas atividades e opções, o Festival de Pernambuco já está entre os grandes eventos de humor e quadrinhos do Brasil atualmente. Imperdível tanto para o público, quanto para profissionais da área.

Da esq. para a dir. J.J. Marreiro, Sidney Gusman e Arthur Medeiros, proprietário da comic shop Gazeta e também colaborador do UHQE que os bons ares do Recife continuem soprando sobre os quadrinhos nacionais e internacionais por muitas e muitas edições do festival.

J. J. Marreiro, depois de quase dois anos de colaboração no UHQ e de amizade com o editor-chefe, Sidney Gusman, finalmente o conheceu pessoalmente. E, ao ver a "forma" do rapaz, sem pestanejar, exclamou: "Rapaz, agora entendo por que te chamam de Sidão!"

Da esq. para a dir.: Sidney Gusman, Sonia Luyten, Lailson Cavalcanti

 

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