Confins do Universo 203 - Literatura e(m) Quadrinhos
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Morre, na Bélgica, Morris, o criador debrLucky Luke

1 dezembro 2001

Lucky Luke  e Jolly JumperLucky Luke, o homem que atira mais rápido do que a própria sombra; Jolly Jumper, seu inseparável cavalo; o atrapalhado cachorro Rantanplan; e até os vilões Irmãos Dalton, que tanta alegria transmitiram aos seus leitores nas últimas décadas, hoje, estão tristes. Morreu, no dia 16 de julho de 2001, na cidade de Bruxelas, na Bélgica, aos 77 anos, Maurice de Bevere, mais conhecido como Morris, o homem que criou o simpático cowboy. O autor faleceu em conseqüência de uma embolia.

MorrisMorris nasceu em Courtrai, Bélgica, em 01/12/1923. Desde pequeno, sempre foi um apaixonado pelos desenhos animados. Após realizar um curso de animação, entra para a Compagnie Belge D'actualités, onde fica amigo de André Franquin (um dos mais famosos autores do personagem Spirou) e Peyo (o pseudônimo de Pierre Culliford, que trabalhou com os Schtroumpfs, conhecidos como Smurfs no Brasil).

RantanplanEm 1945, após realizar várias capas para o jornal humorístico Le Moustique, funda um estúdio de produção de quadrinhos, junto com Franquin, Peyo e Jijé (apelido de Joseph Gillain, autor do ótimo cowboy Jerry Spring, entre outras grandes obras).

Os irmãos DaltonNo ano seguinte, criou Lucky Luke, que se tornaria um dos maiores personagens dos quadrinhos em todos os tempos, que fez sua primeira aparição (na época, bochechudo) numa edição especial da revista semanal Spirou. O sucesso foi enorme. Os leitores pediram mais e, em 12 de junho de 1947, na mesma Spirou, o cowboy estrelava sua primeira série de aventuras, chamada Arizona 1880, começando a trilhar uma longa e feliz trajetória.

Ele costumava dizer que idealizou Lucky Luke, porque adorava desenhar cavalos e gostava muito de histórias de cowboys. Na época, havia muitos quadrinhos de western, mas todos em tom realista. Foi aí que o autor inovou, lançando uma paródia, sem negligenciar a verdade histórica. O resultado, claro, foi um sucesso absoluto.

Lucky Luke em sua primeira históriaDe 1948 a 1955, Morris viveu nos Estados Unidos, o que permitiu que ele realizasse muitas pesquisas e que acumulasse uma extensa documentação sobre a conquista do oeste americano. Nessa época, chegou a realizar uma divertida travessia de Nova York a Los Angeles, com uma incursão no México, ao lado dos amigos Franquin e Jijé.

Nos EUA, conheceu os desenhistas da Mad, Harvey Kurtzman e Wallace Wood, e o francês René Goscinny (criador do Asterix), que, quando ambos retornaram à Europa, passou a ser o roteirista de Lucky Luke, cargo que exerceu até a sua morte, em 1977. Após a morte do parceiro, Morris decidiu continuar publicando os álbuns sozinho ou com sua equipe de desenhistas.

Edição alemã de Lucky LukePara se mensurar o sucesso de Lucky Luke, basta mencionar que ele enfrentou lendas do velho oeste, como Jesse James, Billy The Kid e Calamity Jane (Jane Calamidade), estrelou 87 álbuns de histórias, foi traduzido para 30 idiomas e vendeu mais de 300 milhões de exemplares pelo mundo afora.

Tanto êxito fez o personagem "saltar das páginas". O primeiro passo de Lucky Luke no cinema seria dado em 1971. Depois disso, foram quatro longas-metragens; 56 vídeos; 13 filmes live-action para a TV, onde foi vivido por Terence Hill; e duas séries de desenhos animados, com 26 episódios (com 26 a 28 minutos de duração) cada uma. E uma nova versão do desenho, com 56 episódios, está prevista para estrear ainda em 2001, na Europa.

Lucky Luke mascando o capim que substituiu o cigarro em sua bocaPor seu brilhante trabalho, Morris recebeu diversos prêmios, mas alguns mereciam destaque especial, como o Grande Prêmio Especial do 20º aniversário do tradicionalíssimo Salão Internacional de Bande Dessinée de Angoulême, na França, em 1992; a distinção de "grau de oficial" do instituto Arts e Lettres, em 1998; e a medalha que ganhou da Organização Mundial da Saúde - OMS, em 1988, por ter feito Lucky Luke trocar o eterno cigarro nos lábios por um capim (fato que ocorreu em 1983).

Poliglota e extremamente culto, Morris jamais repousou sobre os louros que lhe foram conferidos. Certa vez, disse o seguinte: "Depois de meio século desenhando constantemente, ainda tenho prazer em fazer isso. Mesmo hoje, a cada prancha que desenho, continuo sempre a aprender".

O último álbum de Lucky Luke feito por Morris, O Profeta, ainda não chegou ao Brasil, mas a Meribérica, que detém os direitos de publicação do personagem (e tem mais de 60 álbuns do cowboy publicados), deve lançá-lo até o final de 2001.

Lucky Luke, mais rápido que sua própria sombraA dúvida, agora, é saber se as aventuras de Lucky Luke continuarão a ser produzidas. Mas, a julgar pelo zelo que Morris tinha com o personagem, provavelmente, o divertido cowboy "pendurará o chapéu e as armas".

Quem teve o prazer de ler os álbuns de Lucky Luke (20 deles chegaram a sair no Brasil também pela Martins Fontes, na década de 1980), sabe que ele sempre terminava suas aventuras cantarolando a seguinte estrofe: "I'm poor lonesome cowboy and a long long way from home...".

Esta canção pode perfeitamente expressar o pesar que os fãs do personagem estão sentindo com a morte de Morris, pois, infelizmente, a partir de agora, o cowboy Lucky Luke está realmente sozinho...

Lucky Luke, o cowboy solitário

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