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Relembrando a aventura de Ranma ½ pela Animangá

31 agosto 2010

Muitos leitores brasileiros conheceram os mangás por intermédio dessa revista, que tinha muitos problemas, mas marcou época

 

Ranma ½ Antes de a Conrad Editora lançar os megassucessos Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco, em dezembro de 2000, fazendo explodir a febre dos mangás no Brasil, uma microeditora paulistana vinha tentando emplacar as histórias quadrinhos orientais por aqui.

Tratava-se da Animangá, oriunda de uma famosa loja especializada em quadrinhos japoneses de São Paulo. A editora publicava bimestralmente - a palavra mais correta seria sazonalmente, pois a periodicidade nunca foi muito constante - a série de mangá Ranma ½, de Rumiko Takahashi.

A publicação começou em 1998, precedendo em dois anos a revolução promovida pela Conrad. Por isso mesmo, ainda não apresentava algumas características que se tornaram praxe na edição de mangás no Brasil.

Cada volume tinha 48 páginas, em formato americano e com leitura ocidentalizada. As imagens sofreram pesadas adaptações, com as onomatopeias sendo ocidentalizadas sem retoques caprichados no original.

Ranma ½

Além disso, os gibis não primavam pela qualidade gráfica, com muitas edições, sobretudo as primeiras, ficando com imagens apagadas e opacas e deixando o leitor com uma eterna sensação de miopia ao ler as páginas da revista.

Os primeiros volumes tinham ainda problemas de edição, mesmo com essa etapa sendo assinada pela empresa de Jal e Gual - os criadores do prêmio HQ Mix - e de revisão.

Na verdade, havia muitos erros de revisão, que iam desde simples mancadas de ortografia, que um corretor ortográfico do Word, já bastante popular na época, resolveria, como um "palhasso" no número de estreia.

Ranma ½

Mas, apesar de todos esses problemas, os primeiros números da publicação marcaram época. Logo uma equipe específica da editora começou a assinar a produção e a grande demanda por quadrinhos japoneses na época alavancou as vendas de Ranma ½.

Afinal, por pior que fosse a qualidade da edição, era a única opção de leitores que compravam aos baldes coisas como Animax, Megaman e Hypercomix, revistas inspiradas nos mangás, que eram distribuídas em bancas, mas não passavam de fanzines.

Ranma ½

Com o respaldo do público, a partir do quinto número de Ranma ½, alguns materiais extras começaram a surgir nas páginas do gibi. Logo na estreia dessa novidade, há notícias sobre os ainda incipientes eventos de animê e mangá em São Paulo, informativos sobre aulas de desenho, de japonês, uma matéria sobre o desenho animado Zenki e um editorial contando a trajetória da autora Rumiko Takahashi.

Por meio desse texto, os leitores souberam do curioso fato que a autora, especializada em comédias românticas, fora aluna do roteirista Kazuo Koike, de Lobo Solitário.

Uma coisa que sempre agradou aos fãs de mangás eram essas matérias, que continuaram até o último número publicado pela Animangá, com destaque para as sobre a cultura japonesa.

Pela revista, os otakus passaram a conhecer usos e costumes dos japoneses, como sua cultura, hábitos alimentares, higiene, organização familiar, artes marciais etc.

Ranma ½

A sexta edição apresentou uma matéria sobre os pães que foram o motivo da desavença entre os personagens Ranma e Ryoga. Segundo um pequeno texto, a palavra japonesa "pan", que significa pão, veio do português, introduzida por missionários do Século 16. Essas curiosidades enriqueciam ainda mais a divertida leitura dos quadrinhos.

Nesse mesmo volume havia mais uma curiosidade: afirmando que o mangá estava sendo um sucesso, a editora organizou uma pesquisa de opinião para saber o que deveria publicar a seguir. Dentre as opções estavam diversos títulos que, de fato, chegaram ao País, mas por outras editoras, como Slayers, , Vídeo Girl Ai, Guerreiras Mágicas de Rayearth, Rurouni Kenshin (Samurai X) e Fushigi Yûgi, que foi o escolhido.

Só que Fushigi Yûgi jamais chegou a ser editado pela Animangá. Os leitores brasileiros conheceram a série, sim, mas já na segunda geração de mangás publicados pela Conrad, chegando ao seu final, coisa de que a primeira versão de Ranma ½ nunca conseguiria.

Por algum tempo, a revista reinou absoluta entre os fãs do estilo, tendo seu lugar cativo na banca de jornal. Entre 1998 e 2000, foram 15 edições. A editora, apesar de nanica, conseguia manter a publicação no azul, distribuindo-a para todo o Brasil pela também finada Fernando Chinaglia e com bom retorno dos fãs, fosse pela internet ou pela seção de cartas.

Ranma ½

Só que, como já foi dito, em dezembro de 2000, a Conrad entrava pesado no mercado brasileiro de mangás, com dois "petardos": Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco.

As duas publicações, além de serem como o original, com leitura oriental, onomatopeias em japonês, formato de livro etc., eram quinzenais, tinham mais de 100 páginas por revista e custavam apenas R$ 3,90 cada.

Ranma ½ tinha praticamente o mesmo preço com metade das páginas e com uma qualidade bastante inferior.

A editora acusou o golpe e não demorou para que aumentasse o número de páginas com o preço praticamente inalterado. Mesmo assim, a avalanche Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco foi avassaladora e foi seguida pela entrada da JBC no mercado, no meio de 2001, com quatro títulos logo de cara: Samurai X, Sakura Card Captors, Guerreiras Mágicas de Rayearth e Video Girl Ai.

Ranma ½

Com tantas opções nas bancas e a demora entre uma edição e outra de Ranma ½, os leitores naturalmente foram abandonando a revista, que voltou ao número antigo de páginas sem reduzir o preço. Pelo contrário, aumentando-o sempre que possível.

Depois veio um papel de qualidade inferior (de gramatura tão baixa que a imagem de uma página "vazava" na outra), edições ainda mais espaçadas, até que um dia, sem mais nem menos, nunca mais se ouviu falar da editora Animangá.

A última edição da revista foi a # 29, em 2003, que ainda prometia para breve um novo produto: a Revista Animangá, que publicaria os vencedores de dois concursos de quadrinhos promovidos pela editora entre 2001 e 2002.

Recentemente, a JBC passou a republicar Ranma ½ desde o início - uma edição acertada. Além disso, deu à série o mesmo padrão de qualidade dos mangás encadernados da atualidade: capa cartonada, cerca de 200 páginas por volume, leitura oriental, onomatopeias com arte original etc.

O resultado, claro, foi o êxito comercial de Ranma ½ na nova casa.

Da Animangá restam poucos vestígios, além de um site fora do ar e uma loja virtual meio capenga.

Mesmo assim, é inegável que, apesar dos altos e baixos, Ranma ½, da Animangá, deixa nostálgico qualquer um que adentrou ao mundo dos mangás por intermédio dessa publicação.

Guilherme Kroll Domingues gostaria de ter completado a coleção de Ranma 1/2.

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