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The Filth, de Grant Morrison, está chegando ao seu final

19 março 2003

The Filth #4Quando a DC Comics anunciou que publicaria The Filth pela linha Vertigo, muita gente foi pega de surpresa. Afinal, Grant Morrison havia deixado a editora após um desentendimento, para trabalhar com os X-Men na Marvel. Mas isso não atrapalhou as negociações, e agora a minissérie, em 13 partes, está para ser concluída. Faltam apenas quatro edições e o roteirista considera ser este um de seus trabalhos mais autorais.

The Filth mostra Greg Feely/Ned Slade, um agente de alto nível da agência The Hand que é forçado a assegurar que a sociedade continue seguindo um caminho pré-determinado, o Status Q, eliminando qualquer tipo de aberrações, sejam tecnológicas, espirituais ou sexuais. Simplificando: The Hand é uma espécie de força policial extradimensional, que está agindo desde 1952, cujo trabalho é fazer com que a humanidade se desenvolva e a civilização trace um caminho pré-determinado.

Simplificou? Não? Bom, essa é uma das principais características dos trabalhos de Grant Morrison, principalmente os autorais, como Os Invisíveis.

The Filth"O esquisito na série é a quantidade de pessoas que pensam não estar entendendo, quando na verdade estão. Li alguns reviews dizendo coisas como 'Por que deveria me importar com um velho e seu gato?', e minha resposta é 'Por que você deveria se importar com personagens ficcionais que se vestem como morcego ou ficam gigantes e abusam de sua esposa?'. Pessoalmente, acho que se você sente simpatia por um super-herói ridículo e não por um homem comum e solitário e seu animal, algo está errado com suas emoções e prioridades", disse.

"Para ajudar a curar essas deficiências emocionais, The Filth pode ser vista como uma vacina. Estou deliberadamente injetando os piores aspectos da vida na cabeça dos leitores, em pequenas doses, através de metáforas e símbolos, num esforço para ajudá-los a sobreviver às torrentes de indecência e horror a que somos expostos todos os dias, especialmente na cultura ocidental, cuja indústria de entretenimento faz uma pervertida mistura de fantasia, violência e degradação sexual, enquanto vive às custas de países pobres", explicou.

Morrison comparou ainda este novo trabalho com outra obra sua. "Invisíveis era sobre escolher um lado, apenas para descobrir que não há nenhum lado. As duas histórias são sobre viver dentro de um sistema, como é a cultura e sociedade humana, com ênfase na ocidental. Os Invisíveis se rebelam contra o sistema somente para descobrir que a própria rebelião é um componente essencial do sistema. Ned Slade e The Hand são policiais, não rebeldes, mas também são necessários para a função vital do sistema. Não há troca de lados já que não há lados".

Grant Morrison"Há um pouco de mim em todos os personagens. Greg Feely, a 'identidade secreta' de Ned Slade, é baseado em como me senti durante um período de dez meses, em 1999, quando estava em baixa, celibatário, miserável e sozinho com meu gato. Ao invés de ficar me lamentando, decidi transformar tudo num horroroso processo de solidão e decadência, em um tipo de purificação - ou putrefação - poética. Conseqüentemente, Greg e The Hand", revelou.

Morrison continua descrevendo sua criação. "Minha teoria é simples. Li sobre como os antibióticos estão contribuindo para a degradação do sistema imunológico humano, e como os médicos estão começando a injetar pó e sujeira na corrente sangüínea das crianças, num esforço para devolver a defesa natural novamente. Gostei dessa idéia como uma metáfora para o atual estado de apatia, medo e violência - que tomou conta principalmente dos Estados Unidos e Inglaterra - e decidi usá-la para construir uma história. The Filth é uma tentativa de injetar em meus leitores uma mistura curativa de idéias vis, emoções nocivas e imagens inaceitáveis".


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