Confins do Universo 203 - Literatura e(m) Quadrinhos
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Um mito do mundo dos quadrinhos

1 dezembro 2001
Joe Kubert
Joe Kubert, um dos mais cultuados desenhistas do mundo

Atualmente, pouquíssimos desenhistas de super-heróis "da antiga" (leia-se entre 60 e 80 anos) conseguem despertar a admiração dos leitores mais jovens. A maioria desses artistas, lamentavelmente, é pouco lembrada. Mas, ainda bem, há exceções. E uma delas é Joe Kubert.

Aos 75 anos, esse fantástico desenhista (cujo nome verdadeiro é Joseph Kubert), que fez gerações e mais gerações de fãs vibrarem com as aventuras de Tarzan, Gavião Negro, Ás Inimigo, Sargento Rock, Sr. Destino, Joel Ciclone e muitos outros, ainda hoje é destaque em toda convenção de quadrinhos onde aparece.

Fax From Sarajevo, de Joe Kubert
Fax From Sarajevo

Dono de um grande talento, Joe Kubert já mostrou toda sua versatilidade em obras como Fax from Sarajevo, a revista que desenha para o exército americano, o Imagine Batman de Stan Lee (lançado pela Editora Abril, em 2001) ou o Tex Gigante que realizou para a Sergio Bonelli Editore (e que sairá ainda este ano no Brasil, pela Mythos Editora).

Durante meses, o Universo HQ tentou viabilizar essa entrevista (uma vez que Kubert não usa internet). Para nossa alegria, o amigo e ótimo desenhista Sérgio Cariello (que é professor da Joe Kubert School) se prontificou para ser o nosso "porta-voz", o que nos honrou demais.

Nas próximas linhas, você descobrirá coisas incríveis sobre este mestre das HQs. Desde seus ídolos até os projetos atuais, passando, inclusive, por algumas curiosidades, como o fato de Joe Kubert ter sido o autor da primeira HQ americana em 3D e ter trabalhado no estúdio de Will Eisner, com apenas 12 anos de idade! Boa leitura!

Universo HQ: Com quantos anos você começou a trabalhar com quadrinhos?

Joe Kubert: Sempre adorei os quadrinhos. Meu primeiro trabalho foi publicado quando eu tinha 11 anos e meio. Foi o primeiro trabalho pago que tive.

Flash Comics #94, capa de Joe Kubert
Revista Flash Comics #94, de abril de 1948, que publicava o Flash original (chamado no Brasil de Joel Ciclone) e Hawkman (Gavião Negro).

UHQ: Qual era esse trabalho? O senhor se lembra?

Kubert: Foi algo chamado Volton. Recebi 5 dólares por página. Foi o primeiro trabalho que fiz. E foi publicado.

UHQ: Quais são seus ídolos? Atualmente, o senhor acompanha algum artista em especial?

Kubert: Tenho muitos. Os três mais importantes são: Hal Foster, que fez Príncipe Valente; Alex Raymond, de Flash Gordon; e Milton Canniff, autor de Terry e os Piratas. Quando eu era jovem e comecei a me interessar por quadrinhos, eles eram os melhores. Todos os conheciam, e continuam sendo meus favoritos, mesmo hoje em dia.

UHQ: Quando o senhor assumiu Tarzan, o título vinha de uma linhagem de artistas de renome (Hal Foster, Burne Hogarth, Russ Maning). O que representou dar seqüência a essa missão?

Tarzan #210, arte de Joe Kubert
Tarzan #210, julho de 1972

Kubert: Foi muito emocionante, estimulante e recompensador, porque quando a DC e os Burroughs se juntaram, eu fui convidado para fazer Tarzan. Esse foi um dos trabalhos que Foster fez antes de Príncipe Valente. Foi publicado no começo da década de 1930. Eu era menino e essa obra foi um dos principais motivos que me fez sentir que era isso que eu queria fazer... Anos depois, tive a oportunidade de fazer algo que amava quando criança, e foi muito recompensador pra mim. Adorei a oportunidade.

UHQ: Falando em Tarzan, o senhor desenhava os animais do título (leões, gorilas etc) de maneira surpreendentemente dinâmica. Isso foi sempre talento puro, ou exigiu muita pesquisa?

Kubert: (Risos) Obrigado pelo elogio. Tento pesquisar tudo que faço, o quanto puder. Muitas fotos, visitas ao zoológico e ao Museu de História Natural. Colecionei fotos de diferentes animais, leões, gorilas, chimpanzés, árvores, tudo que tinha que desenhar, eu precisava ver primeiro. É vital para qualquer artista desenhar estas coisas com credibilidade e veracidade. As histórias são tão incrivelmente imaginativas, que, se os desenhos não forem reconhecíveis, não haverá nada de acreditável na historia. Será uma perda de tempo. Portanto, a pesquisa é muito importante!

O traço dinâmico de Kubert, na série Tarzan
O traço dinâmico de Kubert, na série Tarzan

UHQ: O senhor já respondeu a próxima pergunta!

Kubert: Ótimo! (risos)

UHQ: O primeiro quadrinho em 3D (Might Mouse) publicado nos EUA foi realmente idéia sua?

Kubert: Sim! (rindo)

UHQ: Como isso ocorreu? Qual foi a repercussão na época? A tiragem foi expressiva?

Kubert:

Bem, me possibilitou construir minha primeira casa! Vendeu muito! (risos) Foi quando voltei do exército, em 1952. Muitas revistas estavam sendo publicadas. Muita competição... Então, eu e Norman Maurer (ótimo artista e um maravilhoso talento criativo) decidimos fazer algo diferente de tudo que estava saindo.

Tarzan #212
Tarzan #212, de setembro de 1972

Quando estive na Alemanha, servindo no exército, vi revistas com fotos 3D, que eram vistas com óculos especiais. Falei pro meu amigo Norman: "Seria ótimo fazermos o mesmo, com personagens de quadrinhos que 'pulassem' do papel!".

Daí, começamos a trabalhar nisso e desenvolvemos o primeiro Might Mouse. Essa primeira revista foi difícil, não só por causa do trabalho ser em 3D, mas porque tínhamos que bolar algo que valesse a pena cobrar barato o suficiente.

Os quadrinhos da época custavam 10 centavos. Sabíamos que se fizéssemos mais caro que 25 centavos, ninguém compraria. E conseguimos montar tudo, com óculos, por 25 centavos. O primeiro exemplar vendeu mais um milhão e duzentas mil cópias!

UHQ: De tantos e tantos trabalhos que o senhor fez, qual o seu favorito em especial? Tem algum personagem predileto?

Tor #3, publicado pela editora St. John em maio de 1954
Tor #3, publicado pela editora St. John em maio de 1954

Kubert: Tor é o meu favorito! Um homem das cavernas, parecido com o Tarzan... Por isso, é o meu predileto!

UHQ: Nas suas mãos, o Gavião Negro, Enemy Ace e o Sargento Rock viveram grandes momentos e tornaram-se marcos nos quadrinhos de super-heróis e de guerra, respectivamente. Por que o senhor acha que esses personagens passaram tanto tempo sumidos, quase sempre esquecidos pelos leitores e editores?

Kubert: Não tenho a mínima idéia, mas eles estão sendo publicados hoje! Lieber acabou de fazer Gavião Negro, e fez um excelente trabalho! Rags Morales, um ex-aluno nosso, fez o lápis. Tenho uma cópia aqui. Fico muito feliz, porque ele é formado na escola. O letrista também saiu daqui. Para mim, é emocionante ver pessoas que cursaram esta escola, como você (nota do UHQ: Sérgio Cariello foi aluno da Joe Kubert School e hoje leciona no local), se saírem bem no mercado. Fico tão feliz de ver isso, quanto se eu tivesse fazendo!

Sgt. Rock #367
Sgt. Rock #367, de agosto de 1982

UHQ: O senhor está fazendo Sargento Rock, certo?

Kubert: Sim, eu estou fazendo Sargento Rock, escrito por Brian Azzarello. Terá entre 120 e 130 páginas. Farei a arte e a capa.

UHQ: Então, afinal de contas, os editores não perderam o interesse no personagem?

Kubert: Não, não. Estão publicando também histórias antigas do Sargento Rock, e Tor, em formato de luxo.Os quadrinhos nunca morrem! Sempre são publicados de novo! (risos)

Entrevista Joe Kubert - parte 2

 

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