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Comentários de desenhista sobre caso de estupro no Rio causam fim de parceria com estúdio

31 maio 2016

Na semana passada, o caso do estupro coletivo de 33 homens contra uma jovem de 16 anos, no Rio de Janeiro, tomou conta dos noticiários e provocou os mais diversos tipos de comentários na internet. Pessoas comuns, artistas, políticos, todos se manifestaram.

Um movimento contra a cultura do estupro, repudiando o crime, também teve início nas redes sociais e ganhou força.

Um dos comentários que gerou mais polêmica foi o do desenhista brasileiro Allan Goldman, que já ilustrou títulos da DC Comics como Action Comics, OMAC, Justice League of America, Superman, Teen Titans e outros.

“O que acontece se os 30 estupradores da menina alegarem que são mulheres? Segundo a ideologia de gênero dos esquerdistas, uma pessoa é o que sente, e sua biologia não importa. Como a Justiça irá julgar o caso de uma mulher que foi violentada por 30 outras mulheres?”, postou ele no Facebook, em mensagem que não está mais aberta para visualização do público.

Rapidamente, a postagem começou a receber vários comentários de repúdio e compartilhamentos.

Para piorar, um amigo do desenhista ameaçou uma mulher de estupro durante a discussão acalorada. Mais tarde, ele pediu desculpas, dizendo que tudo não passava de uma brincadeira, mas isso não impediu que fosse denunciado e registrado um boletim de ocorrência.

Allan Goldman

Uma das principais repercussões foi a posição da Chiaroscuro Studios, que decidiu terminar a relação de trabalho como agente de ambos.

O Universo HQ entrou em contato com todas as partes envolvidas. A Chiaroscuro preferiu não se pronunciar mais após o comunicado que postou em sua página no Facebook, reproduzido abaixo.

“Aos nossos fãs e amigos,

O mais recente caso de violência contra a mulher nos encheu de tristeza e indignação.

Cabe a nós defender, valorizar e apoiar as mulheres, a comunidade LGBT e todas as minorias e causas que representam uma luta pela justiça, liberdade e igualdade, que entendemos como questões que são mais profundas que a simples polarização política.

A apologia e banalização da violência e da discriminação não cabem mais na sociedade e tampouco em nossa empresa.

Por esse motivo e à luz dos recentes acontecimentos que acabam de chegar ao nosso conhecimento, decidimos encerrar o relacionamento com artistas não alinhados com valores que, para nós, são absolutamente inegociáveis.

#‎NãoÀCulturaDoEstupro e que nossa sociedade seja cada vez mais justa, igualitária e inclusiva.

Direção e artistas da Chiaroscuro Studios.”

Chiaroscuro Studios

O estúdio recebeu várias mensagens de apoio, mas também críticas, acusando-o de agir contra a liberdade de expressão ao “demitir” um desenhista.

Entretanto, a parceria entre eles não é empregatícia. Allan não é contratado do estúdio.

“Esclarecendo o modelo de trabalho dos estúdios: é o artista quem contrata o estúdio e não o contrário. Somos prestadores de serviços contratados pelos artistas e atendendo aos seus interesses profissionais. Nossa postura foi de abrir mão deles como clientes nossos. Esperamos que tenha ficado claro”, explicou a Chiaroscuro, num comentário no Facebook.

Ou seja, o estúdio se demitiu.

Allan Goldman preferiu encaminhar a mesma declaração que enviara anteriormente ao jornal O Globo, na qual diz ser vítima de perseguição política pelas pessoas que o criticaram na rede social.

Leia abaixo, na íntegra.

"Estou sendo vítima de censura. Se você ler meu post, verá que não faço apologia à violência muito menos ao estupro. Aliás, o estupro nem era o objeto do meu questionamento. Eu fiz uma crítica à ideologia de gênero. Levantei uma questão sobre a relativização moral e judicial que poderiam advir da ideologia de gênero.

Insinuar que eu fiz apologia à violência ou ao estupro é de uma má-fé tremenda. O que acontece é que estou sendo vitimado por uma gangue de ‘Social Justice Warriors’ que não sabem lidar com a opinião alheia, agridem seus opositores da maneira mais baixa e vil possível. No fim, o fato de eu ter sido alvo dessa gangue é por causa do meu posicionamento de direita, contra a ideologia de gênero, o socialismo e por eu defender abertamente o candidato à presidência Jair Bolsonaro, que os esquerdistas tanto odeiam.

Aos montes de militantes de esquerda que não sabem o significado de democracia e tentaram me prejudicar fazendo lobby para que eu fosse demitido, digo que fiquem tranquilos pois a Chiaroscuro representava apenas uma parte menor dos meus trabalhos e eu continuarei conseguindo me sustentar sem a ajuda do Deus Estado que eles tanto amam."

Atualização: diferentemente do que informamos de início, Jack Herbert não tem nenhuma ligação com o caso. Nossas desculpas ao artista pelo erro.

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