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Gianfranco Manfredi encerrará Mágico Vento em 2010

16 dezembro 2008

Gianfranco Manfredi
alguns dias foi divulgada na Itália a informação de que o roteirista Gianfranco
Manfredi
encerrará o fumetti Mágico Vento, da Sergio
Bonelli Editore
, em 2010.

No Brasil, Mágico Vento é publicado pela Mythos
Editora
desde 2002.

O Universo HQ entrou em contato com o autor para saber mais detalhes
sobre o assunto que mexeu com os fãs do personagem. Nesta rápida entrevista,
Manfredi informou, com exclusividade, qual deve ser a última edição
da saga de Ned Ellis.

Mágico VentoUniverso
HQ: Por que concluir a série em 2010? Até lá terão acabado todas as histórias
que você queria contar sobre Ned Ellis?

Gianfranco Manfredi: Com o passar dos anos, Mágico Vento
tornou-se um longo romance/saga, no qual os episódios individuais eram
ligados por uma continuidade cada vez mais fechada. Uma história assim
precisa ter uma conclusão, senão vira uma daquelas novelas infinitas em
que os protagonistas envelhecem junto com o público.

Por isso, quis completar a obra enquanto ela está cheia de vida, evitando
o risco de um declínio devido ao meu cansaço com o gênero faroeste (o
qual já escrevo há 15 anos) ou a uma progressiva diminuição nas vendas
- que levaria a um declínio na qualidade, se tivéssemos que passar o material
a desenhistas não tão bons e que custam menos. Ou ainda por uma queda
do mercado que, nesses tempos de crise, é mais que possível. Em resumo,
todas essas considerações me levaram a concluir o projeto.

Mágico VentoUHQ:
Você reservou algo grandioso para o final? Em que edição terminará Mágico
Vento
?

Manfredi: Mágico Vento terminará no número 130 (ou 131)
e depois virá o especial que várias vezes prometemos aos leitores e que
se tornou realmente "especial", pois terá um estilo único, com três episódios
inéditos: um (desenhado por Marcello - autor do álbum
A Noite Bárbara,
da Martins Fontes) é do início da série; outro fala da primeira
investigação jornalística de Poe e o último traz um episódio da vida de
Ned no final de suas aventuras, ambientado no México.

As histórias de antes do especial (ou seja, as que sairão na Itália em
2009 e 2010) serão divididas em três ciclos: o primeiro, em fase de publicação,
fala da perseguição de Ned a Hogan ao longo do curso do rio Mississipi
até o confronto final nos pântanos de Nova Orleans. O segundo conta dos
deslocamentos de Ned através do Texas e do Novo México para encontrar
os rebeldes apaches de Victorio no Arizona. E o último retrata as guerras
apaches até a morte de Victorio no México.

Se eu fosse além, teria que falar do declínio das nações indígenas até
Wounded Knee, e a história seria extremamente triste.

Mágico VentoUHQ:
Como foi a reação de Sergio Bonelli? Na editora dele não é comum as séries
terem começo, meio e fim.

Manfredi: Sergio teve muitas dúvidas. Nos últimos anos foram
produzidas muitas minisséries, mas ele aprecia muito as séries longas
e potencialmente infinitas. Mas essas revistas hoje têm um sério problema
com a quantidade de desenhistas, de roteiristas e de tamanho da equipe.
Por isso, são muito difíceis de projetar e de administrar.

E também aconteceu que Tex precisou de novos desenhistas e esses
foram quase todos "pescados" de
Mágico Vento, que, pelas suas exigências,
já tinha poucos.

Deve-se ter em mente que os desenhistas mais novos têm dificuldade com
os cavalos e com o faroeste em geral. Em razão disso, não chegavam novas
forças para substituir os nossos "campeões" que iam para o time de
Tex
ou para outros personagens.

Nessas condições não é possível manter duas séries de faroeste. É evidente
que sobrevive o mais forte, isto é, aquele que vende mais. De minha parte,
não tive crises de consciência porque há tempos queria escrever outras
coisas. A minha nova série
Volto Nascosto (em português, Rosto
Escondido), sobre a primeira guerra colonial italiana, durou 14 números
e foi muito bem. Atualmente, estou projetando outra obra, ambientada na
China no período da revolta dos
boxers. Tenho necessidade de variar,
não sou autor de um personagem só.

Mágico VentoUHQ:
Depois do final, existe alguma chance de continuarem sendo feitas edições
especiais (sem periodicidade) de Mágico Vento?

Manfredi: No momento, não penso nisso. Se houvesse uma rebelião
de leitores contra o encerramento, poderíamos avaliar. Mas creio ter contado
tudo o que queria contar sobre o Oeste.

Além disso, neste período também estou escrevendo alguns episódios de
Tex. Por isso tudo, no momento prefiro pensar em histórias de outro
tipo.

UHQ: Você pensa em continuar escrevendo fumetti? Já tem alguma
série em produção?

Manfredi: Em parte, já expliquei nas respostas anteriores, e
só posso acrescentar que, no futuro, gostaria de me dedicar a romances
literários. O meu novo romance,
Ho freddo (Estou com frio),
que acabou de ser publicado pela editora Gargoyle Books, está indo
muito bem. Para quem tiver interesse e quiser saber mais, é só visitar
o site oficial, que
também poderá ver um documentário de dez minutos gravado nos locais retratados.

O romance retoma um tema que eu havia mencionado em Mágico Vento,
que é a história da família Tillinghast e da Peste Vampírica do final
do Século XVIII, em Rhode Island.

Em Mágico Vento, contei essa história de um ponto de vista fantástico
(nota do tradutor: edições 102 a 104), mas no romance parto de um ponto
de vista histórico, porque aquela família existiu realmente. Ou seja,
eu queria falar dos "vampiros reais", não daqueles com a capa preta de
forro vermelho. Disso saiu um romance de 540 páginas.

Ho freddo
Numa história em quadrinhos, eu jamais poderia fazer uma coisa dessas.
Como escritor literário, me sinto muito mais livre. Não preciso respeitar
formatos nem regras redacionais, e também não preciso depender da qualidade
dos desenhistas; posso realmente escrever tudo o que quero e como quero.

Mas isso não significa que eu tenha intenção de parar com os quadrinhos,
e nem excluo a possibilidade de criar outra série longa, se achar a idéia
certa. Mas, por enquanto,
Ho freddo já foi encomendado em vários
países e estou pensando numa seqüência.

Também espero conseguir achar um editor brasileiro. Assim, os leitores
daí poderão ler e fazer uma comparação entre o Manfredi dos quadrinhos
e o dos romances. Nos dois casos sou o mesmo, mas - repito - num romance
acho que consigo dar algumas surpresas a mais aos leitores.

A entrevista foi gentilmente transcrita para o português por Julio
Schneider
, tradutor de Mágico Vento e de outros fumetti
publicados em nossas bancas
.

Vedi qui l'intervista in italiano.

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