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Mapinguari e Outras Histórias resgata obras de Flavio Colin

16 agosto 2003

Mapinguari e Outras HistóriasPara os artistas brasileiros e seus fãs, o nome de Colin está marcado como o de um artista que soube traduzir em seu desenho o que podemos chamar de "estilo brasileiro". Seu traço está dentre os mais pessoais de todos, assimilando o "espírito" da xilogravura e a narrativa dos cordéis nordestinos, mesmo não os tendo usado como referência. Seu estilo inconfundível tornou-o um dos mais importantes quadrinhistas do País.

Mapinguari e Outras Histórias (formato 21 x 28 cm, 48 páginas, R$ 12,90) publica cinco histórias de Flavio Colin, três delas inéditas. Além de uma entrevista inédita (realizada há dez anos por Luiz Antônio Sampaio para a revista Mestres do Terror) e um texto revelando que o autor desenhou uma edição da revista em quadrinhos Carga Pesada, que jamais foi lançada.

A história que dá título ao álbum, mostra claramente a ironia e acidez de Colin contra a estupidez humana e seu ímpeto de destruição dos recursos naturais. Um empresário estrangeiro tem a brilhante idéia de criar um imenso shopping center em plena selva amazônica. Ele só não contava que a selva é protegida por um animal lendário, conhecido pelos índios como Mapinguari.

Na segunda aventura, Zartan, sérios acidentes estão acontecendo numa madeireira, que contrata trabalhadores malaios ilegais. Os acidentes são atribuídos a um curupira. Os donos da empresa acabam acreditando e contratam um super-herói importado dos Estados Unidos para combater a criatura. Esta história é uma sátira ao imperialismo norte-americano sobre a cultura nacional, até mesmo no nome do herói (as sílabas de Tarzan invertidas), um soldado estilo Rambo.

O Gogó de Sola tem também um animal lendário que protege as selvas, mas que, dessa vez, vira assunto de três caçadores que agem como traficantes de animais em extinção. A mensagem dessa história é clara: quem maltrata a natureza pode pagar um preço alto. E um dos caçadores sente isso na pele.

As outras duas histórias são Maldição no Pampa e Pedro Valente (com roteiros de José Augusto e Samuel Knevitz, respectivamente), da fase de quadrinhos de terror de Flavio Colin, publicadas na revista Calafrio.

Ambientadas nas planícies gaúchas, também exploram o imaginário popular. Longe de serem histórias de terror de estilo universal, representam um horror tipicamente brasileiro, que se desenvolveu ao longo dos séculos pelo interior do Brasil.

O álbum será lançado na livraria Comix Book Shop, no dia 13 de agosto, exatamente um ano após a morte de Colin, aos 72 anos, vítima de problemas pulmonares. Com isso, a Opera Graphica pretende resgatar a memória de um dos mais importantes autores brasileiros dos quadrinhos, não deixando que o público leitor esqueça de sua importância para a história das HQs nacionais.

Este é o segundo álbum da editora dedicado a Colin. Antes já havia sido lançado O Filho do Urso e Outras Histórias.

Sobre o autor - Colin começou como funcionário da Rio Gráfica Editora, no final dos anos 50, com a série Ciência em Quadrinhos. E logo estava adaptando para os quadrinhos as aventuras de O Anjo, importante seriado radiofônico da época.

No início da década seguinte, participou do movimento de nacionalização dos quadrinhos, com o personagem Sepé Tiarajú. E dezenas de aventuras de terror que ficaram antológicas, como sua obra-prima O Morro dos Enforcados.

Neste mesmo período adaptou para os gibis o filme Shane, os brutos também amam, que é um marco na história do faroeste made in Brasil. E criou para as tiras de jornais as aventuras de Vizunga (republicada durante algum tempo pelo Universo HQ), uma obra ímpar, jamais igualada.

Seguindo para as agências de publicidade, em meados dos anos 60, Colin elaborou centenas de storyboards e viu circular em milhares de exemplares algumas de suas criações em quadrinhos, como o anúncio do Robin Hood para o refrigerante Fanta, entre outros.

Na década de 1970, Colin voltou ao mercado editorial, com fábulas de horror para o álbum O Grande livro do Terror, no qual adotava um novo estilo de desenho, que encantou a todos.

Utilizando esta mesma técnica, passou a produzir durante toda a década de 1980 aventuras curtas para as revistas Spektro, Neuros, Sertão e Pampas, Calafrio, Mestres do Terror, Mundo do Terror, Inter Quadrinhos e muitas outras.

Nos anos 90, ilustrou dois álbuns premiados A Mulher Diaba da Editora Sampa, e O Boi das Aspas de Ouro, para a Editora Escala.

Nos últimos anos publicou seus trabalhos para editoras independentes, como Fawcett, para a Nona Arte e os álbuns Estórias Gerais e Fastasmagoriana, escritos e editados por Wellington Srbek.

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