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100 Balas – Volume 15 – Fim de jogo

21 fevereiro 2014

100 Balas – Volume 15 – Fim de jogoEditora: Panini Comics – Edição especial

Autores: Brian Azzarello (roteiro), Eduardo Risso (desenhos) e Patricia Mulvihill (cores) – Histórias originalmente publicadas nas edições # 95 a # 100 da série 100 Bullets.

Preço: R$ 21,90

Número de páginas: 160

Data de lançamento: Maio de 2013

Sinopse

100 Balas – Urgência – Ronnie Rome vai a Chicago visitar seu irmão Remi, internado após um acidente. Enquanto isso, Remi conversa com Victor Ray no terraço do hospital e decide o que fazer com sua vida em sua nova condição.

100 Balas – Mercadoria danificada – A reunião de Graves, Medici e Vasco segue tensa. Conforme combinado, Lono entrega a Benito um dos Minutemen de Graves, mas provoca uma reação completamente inesperada.

100 Balas – Apavorância em crise – Os poucos remanescentes do Cartel e dos Minutemen tentam se organizar, mas a situação geral segue descontrolada, rumo a um final desastroso e aparentemente inevitável.

100 Balas – Cinco torres(mos) – Os sobreviventes do Cartel marcam uma reunião na mansão de Medici para tentar negociar o futuro.

100 Balas – Em marcha – Os Minutemen acertam suas diferenças. O Cartel reestrutura sua organização de poder. Uma das novidades é tornar o agente Graves líder de uma das casas do Cartel.

100 Balas – A casa de Graves – Todos os personagens relevantes da história se encontram na mansão de Medici. Graves, Dizzy, Lono, Will Slaughter, os Minutemen, o Cartel. De todas essas pessoas, apenas três sairão vivas. É o fim da série.

Positivo/Negativo

100 edições. Muito mais que 100 balas. Diversas histórias, vários personagens, dramas, mortes.

Loop: “Fez isso a troco do quê?”

Cole: “Só queria foder com a cabeça dele. Que nem eu fiz com a sua.”

O diálogo está na página 39 da edição, e poderia ser uma mensagem do autor para o leitor.

O “grande plano”, a “grande conspiração”. Por todas as suas edições, 100 Balas sempre passou essa impressão: há algo mais. Há uma conexão. Nada é por acaso. Tudo faz parte de um plano maior. Ou não?

Supostamente, o agente Graves se recusou a cumprir as ordens do Cartel e repetir “o maior crime da História”. Acreditava-se que tinha sido esse fato que desencadeou todos os eventos da série.

“O maior crime da História” foi realizado por 13 famílias no Século 16. Em troca da América recém-descoberta, eles deixariam a Europa em paz. Para serem levados a sério, enviaram sete assassinos que dizimaram toda uma colônia e deixaram gravada em uma árvore a palavra croatoa, que significava “isso pertence a nós”.

Como resultado, as 13 famílias ganharam todo um novo país, para construírem segundo sua vontade. Assim, os Estados Unidos, segundo 100 Balas, é uma nação erguida por criminosos.

Croatoa é a palavra que Graves utilizou para reativar seus agentes e também está na pintura La morte di Cesare, que apareceu pela primeira vez em O Detetive Enquadrado (na página 100). Esse quadro tem significado simbólico para o Cartel e os Minutemen e, não por acaso, mostra a iminência de um assassinato. Além do matador com a faca em punho, há 13 pessoas representadas na pintura. E um cachorro.

A proposta para repetir o maior crime do século acabou se mostrando (ou se transformando) num plano para reduzir as 13 famílias a uma só. Mas, aparentemente, tudo fugiu do controle.

Uma grande conspiração. Um grande e complexo plano. Histórias que se cruzavam, pequenos detalhes que conectavam personagens e situações aparentemente aleatórias. Essa talvez seja a característica que mais chama a atenção em uma análise da série 100 Balas.

Mas a complexidade, que às vezes se embolava em um nó narrativo confuso, talvez não fosse o maior charme da obra de Azzarello e Risso. Surpreendentemente, em uma análise mais atenta, talvez seja a simplicidade que cative o leitor.

A simplicidade das tramas pequenas, das pessoas comuns e ordinárias, destroços humanos que recebiam a visita de Graves e sua maleta. Como a dona de casa de No frigir de ovos quebrados (no Volume 2, Segundas chances) ou o infeliz barman da história Brincando com fogo (no primeiro encadernado, Atire primeiro, pergunte depois).

O desfecho de 100 Balas era previsível para qualquer um. Mas, além dos confrontos e tiroteios finais, a simplicidade também marca presença.

Em Urgência, o principal da trama é o diálogo de Remi Rome e Victor Ray. O que é um assassino que não pode mais matar? O que é um homem que perde o controle das coisas mais simples da vida, como acender um cigarro? Que tipo de vida ele pode ter? Que tipo de vida ele aceitaria?

Como sempre, a trama principal ressoa com a paralela. A conversa de Remi e Victor é sutilmente pontuada pelo desastrado passeio de táxi de Ronnie Rome. Olhando bem, Urgência é como toda a série principal: dá pra saber exatamente como vai terminar e, ainda assim, é um final que deixa o leitor satisfeitíssimo.

A maioria das histórias de Final de jogo mostra os personagens conversando entre si, negociando, tentando evitar a própria morte ou entender o que acontece. Para quem acompanhou toda a série, os confrontos finais são eletrizantes.

A conclusão em A casa de Graves tem um jeito de último capítulo de novela, com todo o elenco reunido e uma definição do destino de cada um. Aliás, o painel final, ocupando toda a página de encerramento, fecha com perfeição toda a história, além de ser uma das mais interessantes releituras da Pietá já feitas nos quadrinhos.

A intenção de concluir e não deixar pontas soltas talvez entre em contradição com a proposta geral da série. Afinal, uma coisa que ficou clara é que o leitor tem a sensação constante de que há um plano, um sentido para tudo, mas o acaso e o improviso acabam tendo um peso muito maior na condução dos eventos.

Encerrar convenientemente com todos os personagens em um grande confronto final satisfaz uma necessidade de catarse, mas parece meio “falso”, se comparado com tudo o que aconteceu antes.

De qualquer modo, 100 Balas mostrou-se uma das séries de quadrinhos mais interessantes já vistas, extrapolando a premissa básica para além das expectativas do leitor. A cada arco foram mostrados novos personagens ou os protagonistas foram revisitados sob perspectivas diferentes.

Em sua introdução, Brian Azzarello diz: “Escrevi sobre a América”. Talvez não só sobre a América, os Estados Unidos, suas cidades, seus sotaques e expressões. Em cada personagem, em cada detalhe, 100 Balas apresentou diversas visões sobre Humanidade, em toda sua vilania, violência e corrupção.

E também em sua capacidade de se redimir e ser solidária.

Uma obra que merece ser revisitada diversas vezes.

Classificação

5,0

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