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A BOA SORTE DE SOLANO DOMINGUEZ

1 dezembro 2007


Título: A BOA SORTE DE SOLANO DOMINGUEZ (Desiderata)
- Edição especial

Autores: Wander Antunes (texto) e Mozart Couto (arte).

Preço: R$ 29,90

Número de páginas: 48

Data de lançamento: Outubro de 2007

Sinopse: Cuba, 1953. Solano Dominguez chora a morte da prostituta Maria, sua amante e também fonte de dinheiro. Safado que é, tem dívidas por toda a ilha, contando com os clientes da mulher para, vez que outra, saná-las.

Um dia, ao sair da igreja, Maria morreu atropelada. Parecia o fim de Solano. Mas não foi: o casal tinha uma filha, deixada por anos em um internato. A moça já não era uma nenhuma menininha - e herdara a bunda da mãe!

Positivo/Negativo: "É Nelson Rodrigues temperado com Buñuel e multiplicado por Carlos Zéfiro", diz o escritor Ruy Castro na contracapa de A Boa Sorte de Solano Dominguez. E, na real, é isso mesmo.

Wander Antunes já era candidato ao posto de melhor roteirista nacional de 2007 com O Corno que Sabia Demais, lançado pela Pixel, e chega ao final do ano com mais um belo álbum, agora com o traço maduro de Mozart Couto, em que os contos dão lugar a uma única história longa.

É uma novela que grita sua latinidade, em que os personagens usam pouca roupa e evidentemente têm uma camada fina de suor na testa o tempo todo, mesmo que ela nem sempre esteja no desenho. São poucos os que trabalham, mesmo quando não têm dinheiro - o que é brecha aberta pelo imaginário dos trópicos. A esperteza sacana, traduzida por aqui como "jeitinho brasileiro", predomina, revelando-se capaz de ultrapassar nossas fronteiras.

Poderia se acusar Antunes e Couto de abusarem de clichês, o que é uma verdade distorcida. Mas a verdade é que ambos exploram os lugares-comuns com a mesma malícia com que seu protagonista abusa da própria filha. Eles os transformam em uma mitologia latino-americana, um olimpo que não faz questão de ser grande coisa e em que tudo fica do jeito que está, enjambrado no botequim.

O resultado é satírico, divertido, pra se rir de si mesmo. Afinal, nesse mundo tão sensual, até o fálico rei da banana, título pra lá de psicanalítico, é outra coisa além do que se espera.

Junto com Caraíba, de Flavio Colin, A Boa Sorte de Solano Dominguez inaugurou a coleção de HQs da Desiderata, editora que vem namorando com o gênero há meses com suas publicações voltadas ao cartum. O tratamento é de pompa, mas sem excessos: há um efeito em verniz na capa negra, papel e impressão de qualidade, tudo de primeira, nada over.

Classificação:

4,0

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