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A DIVINA COMÉDIA DE DANTE

1 dezembro 2011

A DIVINA COMÉDIA DE DANTE

Editora: Quadrinhos na Cia. - Edição especial

Autor: Seymour Chwast (roteiro e arte) - Publicado originalmente em Dante's divine comedy.

Preço: R$ 33,00

Número de páginas: 128

Data de lançamento: Maio de 2011

 

Sinopse

Adaptação da epopeia criada por Dante Alighieri no Século 14. Dante se faz personagem e visita Inferno, Purgatório e Paraíso para reencontrar sua amada Beatriz.

Positivo/Negativo

A história de Dante, escrita em versos, é um inquestionável clássico da história da literatura mundial.

O livro foi construído em três partes, divididas em cantos. Ao final, é preciso devorar 100 deles para acompanhar a peregrinação de Dante em busca de Beatriz, sua amada. A viagem do poeta pelo Inferno, Purgatório e Paraíso inspirou diversas obras derivadas.

Além disso, há muitas citações e homenagens. Frases como a inicial "No meio do caminho de nossa vida / me encontrei em uma selva escura /pois a via reta me estava perdida" (variando de acordo com a tradução) e a advertência sobre a porta de entrada do Inferno "Abandone toda a esperança, vocês que aqui entram", são memoráveis e muito repetidas, nos mais diversos contextos.

O livro, além de ser um excelente texto poético, apresenta a visão religiosa católica europeia do Século 14, os costumes sociais e muito sobre a política italiana, pela qual Dante Alighieri era muito interessado. Assim, diversos de seus adversários políticos figuram em algum dos círculos do Inferno.

Dentre as diversas recriações, inspirações e adaptações a partir de a Divina Comédia, têm destaque as ilustrações que acompanham algumas edições do livro. Artistas do quilate de Gustave Doré, Sandro Botticelli e Salvador Dalí ilustraram diversos cantos da obra.

Diante de toda essa avalanche de recriações, homenagens e trabalho de artistas como os acima citados, por que fazer uma adaptação da epopeia de Dante?

Os desenhos de Seymour Chwast não lembram, no estilo e na beleza, Dalí,
Doré ou Botticelli. São traços tremidos, imprecisos, simples, sem volume,
com pouco trabalho de luz e sombra. Mas isso não torna A divina comédia
de Dante
ruim.

Cada adaptação ou recriação de uma obra gera, obviamente uma nova obra. Nova, porém com um forte elo com o original. Cada adaptação é uma leitura, para se tornar uma releitura.

E é nesse espaço que entra a personalidade de cada artista. E é por aqui que o leitor pode formular a resposta para a pergunta feita alguns parágrafos acima. Não importa o quanto se faça sobre a mesma obra, cada adaptação virá impregnada do trabalho de seu criador.

Desse modo, a iniciativa é sempre válida, desde que o adaptador possa mirar uma obra sua a partir de outra, e não uma de outro no meio daquilo que poderia ser seu. Claro, isso não é regra, apenas o vislumbre de uma jornada mais interessante para o leitor.

Além disso, nenhum dos três pintores gênios anteriormente citados fez uma história em quadrinhos com a obra de Dante. E os pontos para Chwast continuam a somar-se.

Esta edição é o primeiro trabalho do designer e tipologista nos quadrinhos. E esta informação é bastante relevante para tentar entender o que A divina comédia de Dante tem de melhor.

Se o traço parece feio e meio desajustado, o mesmo não pode ser dito das diagramações e montagens de página. Os elementos equilibram-se bem e tudo parece estar no lugar certo. O desenho simplório amplia-se em dimensão diante disso. Mais ou menos como o simples esquema de rimas de Dante no poema original, que ganha uma proporção tão grande que passe a ser chamado de "dantesco".

E que o leitor atente ainda para o belíssimo trabalho com as palavras e com a tipografia. Vale citar o "dantesco" talento de Lilian Mitsunaga na reprodução e adaptação desse recurso para o português.

A Quadrinhos na Cia. optou acertadamente por usar a tradução da editora 34 quando Chwast cita o texto de Dante, o que evita uma série de dores de cabeça com a métrica dos versos.

Versos esses que fizeram falta na adaptação. Seria interessante encontrar mais algumas vezes as belas frases de Dante, potencialmente transformadas pelo tipografia de Chwast.

Mas não parece justo culpar uma obra pelo que ela não é. Vale muito mais ressaltar as interessantíssimas escolhas de representação dos personagens com indumentárias da década de 1940 norte-americana.

Essa simples escolha já traz uma nova perspectiva para a história, que parece mais próxima de nós.

Chwast traz todos os cantos nas páginas da HQ, fazendo com que sua obra, se comparada à de Dante, seja um bacana guia ilustrado.

Porém, se vista como obra autônoma, ainda que em referência a outra, A divina comédia de Dante apresenta uma excelente HQ, com uma história extremamente humana e repleta de boas ideias narrativas.

O álbum é uma jornada que vale a pena.

Classificação:

4,0

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