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A Fortaleza da Solidão

22 março 2013

A Fortaleza da Solidão Editora: Companhia das Letras - Romance

Autor: Jonathan Lethem.

Preço: R$ 68,00

Número de páginas: 616

Data de lançamento: 2007

Sinopse

Dylan é um garoto branco vivendo no Brooklyn da década de 1970, período marcado por tensão racial e convivência de diversas culturas distintas. Ele passa o tempo dividido entre a amizade com Mingus, revistas em quadrinhos, grafite e música.

Até que Dylan recebe um anel mágico, dotado de poderes especiais, e decide adotá-lo no combate ao mal. A posse da joia atravessa os anos, marcando a vida de Dylan e Mingus, em meio à ebulição cultural norte-americana.

Positivo/Negativo

A adolescência é sua própria identidade secreta, reflete o escritor Jonathan Lethem, num dos trechos mais inspirados de A Fortaleza da Solidão. O romance, lançado no Brasil em 2007, é uma verdadeira obra-prima, que encanta os mais diversos públicos, mas revela interesse especial aos apreciadores da nona arte, por conta de sua temática e referências especiais.

Costuma-se dizer que super-heróis são um gênero, e que as histórias em quadrinhos são uma mídia. De fato, a arte sequencial pode apresentar as mais diferentes formas de narrativas, enquanto os justiceiros de roupa colorida parecem se limitar ao confronto com vilões para salvar o mundo. Não é bem assim, contudo.

Autores como Joe Casey já afirmaram o quanto pode ser equivocado reduzir os super-heróis a um único gênero. Afinal, eles também podem explorar de contestação política à comédia romântica, sem perder a sua essência.

A Fortaleza da Solidão é uma saga de amadurecimento pessoal, abordando temas como amizade, a descoberta do sexo e formação cultural na América ao longo das décadas, com a presença do elemento do super-herói urbano e muitas surpresas. É a comprovação de como uma fantasia de poder adolescente evoluiu e marca presença no imaginário contemporâneo.

O romance de formação assinado por Lethem, uma das mais gratas surpresas dos últimos tempos, se destaca por dois fatores complementares: o trabalho primoroso na composição de personagens, e o pano de fundo bem pesquisado, que compõe um mapa da cultura pop americana.

O autor baseou muito de A Fortaleza da Solidão em suas experiências pessoais, e criou protagonistas marcantes, cheios de vida e qualidades únicas. A vida nas ruas do Brooklyn surge bastante crível e envolvente, e os jovens Dylan e Mingus representam uma etapa inesquecível da vida de cada um.

O relacionamento entre pais e filhos também é um ponto de destaque nessa jornada, assim como o envolvimento com as drogas e o crime. A trama é cheia de reviravoltas, alegrias e tragédias. É interessante notar como a leitura de quadrinhos é mostrada no texto, ajudando a moldar personalidades, como forma integrante da existência dos meninos. Até que surgem o anel com poderes mágicos e o uniforme colorido, forjando uma inédita identidade de super-herói.

Dylan é fanático pelos super-heróis da Marvel, despreza a DC e guarda seus exemplares em sacos plásticos, gerando identificação imediata com os colecionadores modernos. Muito além dos quadrinhos, entretanto, A Fortaleza da Solidão lida com os universos da música, da ficção científica e do grafite, sem perder o foco no lado humano.

O título emprestado da mitologia do Superman tem seu propósito bem definido no romance, cujas citações à cultura pop constituem apenas um elemento adicional à receita eficaz. A presença da identidade de super-herói é um ponto alto do enredo elaborado por Lethem, diferente de tudo o que se pode esperar do tema.

Trata-se de um livro volumoso, denso e cheio de ideias controversas, mas a leitura é sempre ágil, dinâmica e inquietante. Deve-se traçar um paralelo com o premiado As incríveis aventuras de Kavalier e Clay, que garantiu o Pulitzer a Michael Chabon, por mostrar também a importância dos quadrinhos na formação da América, mesmo que num período histórico diferente.

Hoje, os gibis estão focados num mercado de fãs mais devotados, enquanto os super-heróis têm alcance renovado por meio de adaptações cinematográficas, seriados televisivos e jogos eletrônicos. A permanência desses campeões da justiça prossegue, assim, cada vez mais certa no cotidiano de um público ávido por emoções fortes, marcando suas vidas. Nada mais natural, portanto, que este universo mágico esteja também representado na boa literatura.

Classificação

5,0

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