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A RECLUSÃO DA PEDAGOGIA E A PEDAGOGIA DA RECLUSÃO

30 agosto 2009


Autor: Silvano Alves Bezerra da Silva.

Preço: variável (só encontrado em sebos ou sites de leilão)

Número de páginas: 80

Data de lançamento: 1989

Sinopse: A obra faz um estudo dos quadrinhos como ferramenta pedagógica, a partir da análise de uma história de Chico Bento, em que o personagem lida com elementos da cultura e da religiosidade afro-brasileira.

Positivo/Negativo: A importância de Mauricio de Sousa pode ser medida não apenas pela popularidade de sua obra e o volume de venda das publicações e produtos que trazem alguma de suas criações. Também no meio acadêmico, ele tem excelente acolhida, a se julgar pelo número de trabalhos que o elegeram, ou a seus personagens e histórias, como objeto de estudo.

Numa sondagem básica, sem o rigor de uma pesquisa mais aprofundada, foram localizadas nada menos do que 17 dissertações de mestrado, em faculdades de todo o Brasil, no período entre 1990 e 2008, sendo quatro apenas no ano de 2007.

No entanto, apesar desse interesse pelas realizações de Mauricio, são extremamente escassos os livros dedicados a ele ou à sua obra.

De modo geral, Mauricio figura em quase todos os livros nacionais e mesmo estrangeiros que comentam os quadrinhos brasileiros. No exterior, é citado, por exemplo, em Historia de los Comics (1984), de Javier Coma; Histoire Mondiale de la Bande Dessinée (1989), de Claude Moliterni; The Essential Guide to World Comics (2005), de Tim Pilcher e Brad Brooks; Del Tebeo al Manga: Uma Historia de los Cómics (2007), de Antoni Guiral; e é verbete da The World Encyclopedia of Comics (1998), de Maurice Horn.

Em alguns dos livros nacionais, Mauricio ou seus personagens ganharam mais destaque. Uma das primeiras obras a lhe dar espaço foi a revista Cultura Vozes, edição Quadrinhos Literatura do Século, de 1969, que publicou uma entrevista com o então novo fenômeno dos quadrinhos.

O professor Moacy Cirne, um dos maiores autores de livros sobre quadrinhos no Brasil, lançou em 1971, Para Ler os Quadrinhos, em que dedica cerca de metade das páginas à obra de Mauricio.

O livro Literatura em Tempo de Cultura de Massa, organizado por Ligia Averbuck, de 1984, traz um capítulo, de autoria de Teresa Montero Otondo, por sinal, baseado em sua dissertação de mestrado, que aborda o personagem Horácio.

Um raro título, se não o único, inteiramente devotado a um personagem de Mauricio é Reclusão da Pedagogia e a Pedagogia da Reclusão, de Silvano Alves Bezerra da Silva, editado pela Universidade Federal da Paraíba, em 1989.

A obra, resultado de trabalho para uma disciplina dentro do curso de mestrado em Biblioteconomia, é inteiramente baseada na análise da história O Rezador, publicada na revista Chico Bento # 67, de 1985.

Nela, Chico Bento é escolhido para herdar os conhecimentos rituais de uma rezadeira, que a ele são passados oralmente, como manda a tradição. Mas o menino sofre as consequências do mau uso dos poderes recém-adquiridos.

O principal objetivo de Silvano é mostrar que a pedagogia deve ir - e vai - muito além do conteúdo ensinado em sala de aula e tem nos quadrinhos uma importante ferramenta de complementação educacional.

O autor alerta, no entanto, quanto aos riscos de se distorcer conceitos, o que pode induzir a uma interpretação equivocada ou estereotipada de certas culturas, no caso, a afro-brasileira.

Um dos pontos que ele levanta é a pouca frequência de personagens negros nas HQs de Mauricio e o porquê de um personagem branco ter sido escolhido pela rezadeira negra para sucedê-la.

Suas observações são pertinentes até certo ponto, mas há evidentes exageros e deduções equivocadas, como achar que, pelo fato de o personagem Chico Bento jamais crescer, regra geral no universo de personagens de Mauricio e apenas recentemente rompida, haveria embutida uma intenção do roteirista em não deixar cumprir o destino de se tornar um rezador quando adulto.

Embora defenda pontos de vista que, certamente, são questionáveis, o livro não deixa de ser um estudo interessante, que aborda as HQs sob um prisma pouco explorado, mesmo passados 20 anos desde sua publicação.

 

Classificação:

4,0

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