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A VOLTA DA GRAÚNA

1 dezembro 2004


Autor: Henfil (texto e arte)

Preço: R$ 25,00

Número de páginas: 128

Data de lançamento: Maio de 1994 (segunda edição; a primeira é
de 1993)

Sinopse: Seleção de diversas charges da personagem Graúna e seus
companheiros, o cangaceiro Zeferino e o bode Orelana, sempre usando o
sarcasmo e o humor negro para apontar as contradições cotidianas da política
brasileira.

Conta ainda com uma introdução do filho do cartunista, além da apresentação
do amigo e parceiro de Pasquim, Ziraldo (criador do Menino Maluquinho,
do Pererê etc.).

Positivo/Negativo: "Não somos um país sério", diz o bode Orelana,
ao fim de uma das mais escrachadas piadas do livro. Talvez seja justamente
por isso que o Brasil possa contar com humoristas do calibre de Henfil.
Seu traço é cheio de vida, de movimento, de graça e fúria; quiçá "expressionista",
como quer Ziraldo. Alguns diriam "exagerado", excessivamente dramático,
teatral demais.

Isso é perceptível na paranóia caricata de Ubaldo
ou na crueldade irreal dos Fradins. As expressões saltam imediatamente
à vista do leitor, arrancando-lhe não somente o riso como também certas
emoções contidas. Nisso, Henfil lembra muito Don Martin, um dos melhores
cartunistas da Mad original. A comparação chega a ser inevitável.

Contudo, o brasileiro vai mais fundo. Seus traços rudimentares penetram
com violência surda a consciência da nação. Tudo de Henfil parece ter
urgência demais, uma necessidade inadiável de destruir o castelo de erros
que era (é?) a política brasileira.

Suas charges tinham a pressa e a vontade de um furacão bem pensado. Henfil
parecia ter tanta crença na importância de uma piada gráfica bem colocada
que, imerso em sua missão, não deixava entrever a pessoa leve e divertida
que percebemos neste livro, principalmente na figura da Graúna.

Com seus traços básicos, seu riso fácil (deboche sempre?), a pequena Graúna
se sobrepõe em sua obra, uma figura feminina leve e fina, mas de forte
presença; contrapondo-se ao corpulento e ingênuo Zeferino ou ao intelectualizado
e cínico Orelana, numa trindade de excepcional apelo cômico.

Nota-se facilmente que a Graúna é a personagem mais humana de Henfil.
Não surpreende, portanto, que (e este álbum deixa isso bem claro) suas
piadas políticas funcionem tão bem, melhor ainda que com a maioria dos
outros personagens.

Este é um livro necessário, embora incompleto. A exemplo de Hiroshima,
meu humor
, não faria nada mal se a edição fornecesse informações
sobre o contexto em que foram concebidas as piadas, embora sejam efetivamente
bem menos datadas que as daquele álbum. Porém, o trabalho não compromete
significativamente o entendimento da obra. Percebe-se um Henfil sempre
presente, em sua urgência demolidora, em sua fúria revolucionária, o sarcasmo
contra os tanques.

Sentencia Ziraldo, no ótimo texto de apresentação: "Seu desenho era uma
escrita". Completa o próprio Henfil, na quarta capa: "Morro, mas meu desenho
fica". Amém, camarada. Sempre indispensável, inadiável.

Classificação:

4,0

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