Confins do Universo 203 - Literatura e(m) Quadrinhos
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Ao Coração da Tempestade

18 fevereiro 2011

Ao Coração da TempestadeEditora: Quadrinhos na Cia. - Edição especial

Autor: Will Eisner (roteiro e arte) - Publicado originalmente em To the heart of the storm.

Preço: R$ 42,00

Número de páginas: 208

Data de lançamento: Novembro de 2010

Sinopse

Conheça a história de um promissor quadrinhista norte-americano que interrompe seu trabalho para servir ao exército. Seu nome: Will Eisner.

Positivo/Negativo

Existe toda uma discussão sobre Eisner ser o pai das graphic novels. Discussão essa que desencavou muito material possível de ser chamado de romance gráfico antes das publicações do criador do Spirit.

Mas há também que defenda que pai não é quem concebe, mas quem cria, educa e ajuda a se desenvolver. Nesse caso, poucas dúvidas: Eisner é um pai muito preocupado com o que seu filho faz e pode fazer.

Esse filho teve seus filhos e hoje existem exemplos bons, maus e feios exemplos de graphic novel.

Outra discussão que avançou já não pensa quadrinhos como literatura, algo que tanto queria Eisner.

A posição do autor era esteticamente equivocada, porém, politicamente justificável: era preciso dar respaldo aos quadrinhos. E a literatura é uma arte de respeito consolidado.

Em tempo: histórias em quadrinhos não são literatura, porque são uma arte própria e não uma subdivisão. Voltando ao que importa, ou seja, a Eisner.

Ao coração da tempestade é mais um trabalho do velho mestre. Essa frase, porém, contém um equívoco. Um quadrinho dele nunca é "mais um". É sempre uma janela para as possibilidades narrativas das HQs.

Quanto à edição, vale lembrar que a obra já foi publicada pela Abril no começo da década de 1990. O título era outro: No coração da tempestade.

O que é equívoco de tradução antiga, foi acertado nesta nova edição. O movimento sugerido pela preposição "Ao" e ausente em "No", tem tudo a ver com o constante ritmo do trem em que o personagem está.

Neste álbum, o cenário novamente é a Nova York da primeira metade do Século 20. A diferença é que aqui a presença autobiográfica é muito maior. A história que se conta é da família de "Willie" Eisner e suas mudanças por diversos bairros da cidade, quem são seus pais, quem foram seus amigos.

O álbum inicia-se com um quadro cheio de hachuras e com uma carga de realismo bem maior que os demais trabalhos do autor. No seguinte, o traço já é aquele velho conhecido do leitor.

Um homem fardado (o próprio autor), olha pela janela de um trem que leva recrutas do exército para um quartel. Por ela, o leitor observa uma paisagem que liga presente e passado.

O "truque" é belíssimo. As lembranças são acionadas por objetos, pessoas, locais e ações, vistos a partir de uma janela em movimento. E o leitor acompanha o personagem nesse momento contemplativo. Mas não é só.

O álbum mesmo se abre com uma série de pequenas janelas para que o leitor contemple as lembranças de Eisner. O que é passado para o autor, se torna presente para quem lê a obra.

E o que se lê é lírico, impactante e forte. Elementos que se espera encontrar em alta literatura, e o que explica mais um pouco a confusão entre quadrinhos e as belas letras.

O que Eisner fez em toda a sua produção foi abrir uma janela e mostrar ao mundo um pouco do que pode ser feito com os quadrinhos. Apoie os cotovelos e observe com calma. Permita-se ficar uns minutinhos, pois vale a pena.

Classificação

5,0

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