Confins do Universo 203 - Literatura e(m) Quadrinhos
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Aurora

30 outubro 2015

AuroraEditora: Instituto HQ – Edição especial

Autores: Felipe Folgosi (roteiro), Klebs Junior (adaptação e layout), Leno Carvalho (desenhos), Nelson Pereira (arte-final), Stefani Rennee, Márcio Manyz, Thiago Ribeiro, Rodrigo Fernandes, Carlos Lopez e Marcio Freire (cores).

Preço: R$ 39,90

Número de páginas: 104

Data de lançamento: Outubro de 2015

Sinopse

Um pescador presencia em alto-mar um fenômeno natural nunca visto antes. Essa experiência o transforma em algo maior do que um simples humano, um herói moldado pela evolução natural, que acaba perseguido pelo governo norte-americano por conta de seus poderes.

Positivo/Negativo

O próximo salto na história da evolução humana é a premissa deste thriller de ficção científica, estreia do ator Felipe Folgosi como roteirista de histórias em quadrinhos.

O ponto de partida de Aurora é bem simples: alvo do acaso, um pescador é banhado por uma misteriosa e estranha radiação cósmica. Como consequência, ele passa a ler pensamentos e ter telecinese, dentre outros poderes. Fechando o pacote básico, também passa a ser caçado por agentes governamentais e uma sociedade secreta.

O ensejo de usar melanomas, ocasionadas em virtude da exposição à radiação, como uma espécie de “cartografia astronômica” gravada no corpo do protagonista chega a ser interessante, mas a forma forçada como é colocada na trama, por meio de uma médica, não convence, mesmo tendo o embasamento da precessão dos equinócios.

Dentre esta e outras ideias apresentadas, é como se o roteirista fizesse sua “lição de casa” para questões científicas e filosóficas para dar consistência à trama. Até aí, tudo bem. O problema é o tom sempre na mesma frequência do didatismo, mesmo percebendo o esforço do autor para ser mais natural ou orgânico.

Um exemplo é quando o vilão-mor fala de cor e de forma precisa números com oito dígitos para entrar no tema do principio da evolução exponencial pela Razão Áurea. Uma conversa que só serve para “situar” o leitor, já que ele gratuitamente mata seu assecla ouvinte. A atitude, que não impressiona, foi só para atestar a sua “maldade”?

O que piora no desenrolar da história são os velhos clichês do gênero – eliminação das testemunhas, o passado atormentado do vilão, a base prestes a explodir no desfecho etc. – e os diálogos melodramáticos fora das fronteiras das pesquisas, articulados de maneira pobre na boca dos personagens, sem dar nenhuma credibilidade ou profundidade a eles.

Não se sustentam também os embates entre ciência e religião, promovidos pelos discursos (rasos) entre irmãos: um físico com problemas de alcoolismo que foi largado pela esposa e um padre com conhecimento do sacerdócio que não acrescenta em nada na trama.

Outro problema é a falta de ritmo do álbum, com reviravoltas insossas. Quando aparece a ação, não existem sequências bem pontuadas ou executadas para causar o mínimo de entretenimento, apesar da funcional arte de Leno Carvalho ter bons enquadramentos. Seus desenhos por muitas vezes erra nas proporções, perspectivas e anatomia, esta última de formas mais grosseiras.

A edição, financiada coletivamente pelo site Catarse, possui capa tríplex com aplique de verniz e papel couché de boa gramatura e impressão. Houve alguns escorregões pela falta de revisão textual, inclusive erros primários, como trocar "por que" por “porque” em perguntas.

Uma curiosidade é a bonita capa assinada pelo veterano Klebs Junior, que ostenta apenas o nome do criador da obra, descartando os idealizadores visuais dela.

Mesmo não fazendo parte da criação original (que nasceu de um roteiro cinematográfico, segundo a introdução), desenhista, adaptador e arte-finalista integram o núcleo de idealização. Sem falar na (também indispensável) colorização, apesar do grande time de profissionais envolvidos, o que iria “congestionar” visualmente a capa.

Com apenas o nome do Felipe Folgosi na capa, tudo indica uma estratégia de marketing aproveitando a fama nos palcos e na TV do seu nome além do cenário da HQ nacional para arregimentar novos leitores.

Enfim, a obra não consegue entreter, refletir ou contar uma história sem ser previsível até a última página. Com essas “iscas”, não se pode “pescar” um satisfatório thriller de ficção científica.

Faltam ainda raios cósmicos da experiência para se banhar e começar a dar o salto evolutivo para se produzir uma boa história em quadrinhos.

Classificação

1,5

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