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BAKUMAN # 1

1 dezembro 2011

BAKUMAN # 1

Editora: Editora JBC - Revista mensal

Autores: Tsugumi Ohba (roteiro) e Takeshi Obata (arte).

Preço: R$ 10,90

Número de páginas: 208

Data de lançamentoJulho de 2011

 

Sinopse

Moritaka Mashiro, de 14 anos, decide seguir os caminhos de seu tio e tornar-se um mangaká.

A principal razão para essa escolha é o amor pela menina Miho Azuki, que promete casar-se com ele quando Mashiro conseguir tornar-se um mangaká de sucesso.

O protagonista terá em Akito Takagi um companheiro fiel na jornada para realizar seus sonhos.

Positivo/Negativo

O desenho de Takeshi Obata é muito bom. A criação dos ambientes, a perspectiva dos cenários e o posicionamento dos personagens merecem ser vistos com cuidado.

Compreende-se melhor as escolhas de composição do desenhista ao comparar os esboços de página do roteirista Tsugumi Ohba (dispostos ao final de cada capítulo da história) com o resultado final.

O que o leitor ocidental não familiarizado com o mangá pode considerar um problema é o roteiro e as motivações dos personagens de Bakuman.

O garoto Mashiro está na escola, entediado com as possibilidades profissionais que se apresentam para seu futuro. Ao final de uma aula, esquece um caderno que é encontrado por seu colega de classe, Akito. Este fica fascinado com os desenhos do jovem protagonista e decide propor uma parceria: um entra como roteirista e o outro como desenhista e, juntos, tentarão se tornar famosos mangakás, os profissionais que produzem mangás.

Mashiro tem ainda como motivações a herança do tio, um mangaká que faleceu de exaustão no trabalho, e o amor pela menina Azuki.

Colocando a trama em linhas gerais, parece bom. Entretanto, é na leitura dos diálogos e na construção dos personagens que surgem incômodas arestas.

A começar pela personagem Azuki, caracterizada como um prêmio a ser conquistado e nada mais.

Ao listar as "qualidades" de Azuki, Akito comenta: "Ela sabe naturalmente que ser uma esposa bonita é o caminho mais fácil para a felicidade", "Acho que ela aprendeu naturalmente que é melhor para uma garota ser graciosa e educada", "Ela sabe instintivamente que ser 'esperta' não é ser atraente", entre outras frases misóginas que devem fazer a alegria dos machistas mais reacionários.

Não se sabe se isso reflete o papel da mulher dentro da própria sociedade e cultura japonesas, mas como este mangá está sendo lançado em português, para ser lido no Brasil, é totalmente válido, e mesmo obrigatório, questionar essa imagem da fêmea submissa e dócil.

Outro aspecto que pode irritar certos leitores é a relação "romântica" entre Mashiro e Azuki. Numa conversa rápida, eles decidem que vão se casar assim que conquistarem seus sonhos. Mas, até lá, não se falarão, a não ser por e-mail. Aliás, Mashiro não tem coragem de pedir o endereço eletrônico da moça.

Essa é a ideia de "romantismo" de Bakuman: manter distância da pessoa amada e criar uma série de expectativas baseadas em pura fantasia. Na cultura pop ocidental, talvez o paralelo mais próximo dessa abordagem esdrúxula do amor esteja na série de livros Crepúsculo. Mas, pelo menos, os personagens apaixonados de Stephenie Meyer conversavam entre si.

Existem diversas "coincidências" que abusam da boa vontade do leitor. Por exemplo, o falecido tio de Mashiro era apaixonado pela mãe de Azuki, numa relação bastante parecida com a que o sobrinho vive hoje. Se é que se pode chamar isso de relação.

Por fim, há o aspecto da carreira como mangaká, que é um dos grandes trunfos da série. Considerando a popularidade do mangá, muitos podem procurar na história informações sobre como ingressar na profissão.

Antes de qualquer coisa, o leitor brasileiro deve levar em conta que a trama foi escrita para o público japonês, que vive em outro contexto de mercado e cultura.

Apesar de trazer informações interessantes, o aspecto de fantasia do enredo distorce e idealiza o retrato do mangaká, atenuando as dificuldades e agruras que fazem parte da atividade. Tudo é visto pelo prisma "romântico".

Por convenientes "caprichos" do destino, os protagonistas de Bakuman recebem um estúdio pronto para usar, tem uma vasta coleção de material de apoio, apresentam um talento natural e parecem superar questões técnicas (desenho, roteiro) da noite para o dia. A maior dificuldade dos garotos é o cansaço de trabalhar madrugada adentro.

O espírito da série pode ser resumido em um clichê da auto-ajuda: "tudo o que quiser você terá, só basta acreditar". Desde que, é claro, você tenha sorte e não seja mulher.

Enfim, não se trata de uma escola muito confiável.

Classificação:

4,0

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