Quase duas décadas antes de o genial Christopher Nolan mudar as percepções do público sobre os filmes de super-heróis, Batman viveu aventuras cinematográficas bastante sombrias e violentas, começando pela bem-sucedida obra com direção de Tim Burton, em 1989, tendo no elenco Michael Keaton no papel do herói, o incomparável Jack Nicholson como Coringa e Kim Bassinger como Vicky Vale.

O longa-metragem Batman chegou num momento em que os quadrinhos davam um passo à frente no que se refere ao amadurecimento do gênero dos super-heróis, em histórias que alcançaram leitores mais adultos a partir de enredos mais complexos e instigantes.

Foi a época de clássicos como O Cavaleiro das Trevas e Ano um - ambas escritas por Frank Miller -, e de Watchmen, de Alan Moore e Dave Gibbons. Quando muitos ainda tinham na lembrança o seriado televisivo da década de 1960, estrelado pelo bonachão Adam West, o sucesso dirigido por Burton mostrou um justiceiro mergulhado na mais profunda escuridão.

Batman foi um fenômeno comercial no mundo inteiro, gerando uma avalanche de produtos de consumo e popularizando ainda mais o ícone da DC Comics. Capitalizando em cima do filme, a Abrillançou esta adaptação oficial em quadrinhos, que contou com texto do veterano Dennis O'Neil sobre a história de Sam Hamm, e arte do competente Jerry Ordway.

A revista hoje é um item de colecionador que muitos guardam com carinho, e mantém o vigor mesmo se comparada a interpretações mais pujantes do Homem-Morcego. A dupla de autores estava em forma, afinal, e não poderia ser mais apropriada para retratar o herói em sua mídia de origem.

A trama apresentava o advento do insano vilão Coringa, com um plano de envenenar Gotham City, enquanto a repórter fotográfica Vicky Vale investigava os rumores sobre uma criatura alada combatendo o crime na cidade. O argumento privilegiava o espetáculo em detrimento de introspecções filosóficas, mas o tom sombrio fez toda a diferença.

Como história em quadrinhos independente e como texto adaptado, Batman - Adaptação oficial do filme consegue manter o interesse do leitor e explora todos os pontos positivos da produção de Hollywood, algo raro em revistas do gênero.

O roteiro é bem direto, e os desenhos com personagens assumindo as feições dos atores são bonitos e funcionais. Perde-se um pouco nas cenas de ação, que enchem os olhos durante o filme, mas passam batidas no gibi.

Obras mais recentes, como The Authority e Os Supremos, provaram que se pode reproduzir o efeito fiel de uma narrativa cinematográfica em quadrinhos, mas aqui o trabalho de O'Neil e Ordway não consegue a mesma desenvoltura.

Também vale ressaltar a ligação entre as origens de Batman e Coringa, numa tendência foi voltou a ser seguida em muitas adaptações de super-heróis ao cinema, sempre visando aumentar a carga dramática dessas produções.

E, mesmo com algumas mudanças perceptíveis em sua mitologia, Batman ajudou a definir a imagem do Morcego para os tempos modernos.

Houve mais três filmes para cinema, com destaque para Batman - O retorno, também de Tim Burton, em 1992, e duas seqüências dirigidas por Joel Schumacher que é melhor esquecer. Todos foram adaptados para os quadrinhos, por Dennis O'Neil e artistas diversos, mas sem o brilho do original.

O filme Batman Begins, de 2005, mostrou ao mundo uma versão de Bruce Wayne mais fiel aos quadrinhos, enfrentando seus demônios interiores com a mesma força com que esmurrava criminosos.

Essa nova visão renovou o interesse pelo personagem e apresentou verdadeiras aulas de como adaptar um herói para o cinema. Mas a interpretação de Tim Burton também marcou época e resiste como uma das versões de Batman que mais cativou o público. Esta adaptação em quadrinhos é mais uma boa forma de entender e apreciar o fenômeno.