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Batman - Lendas do Cavaleiro das Trevas - Alan Davis - Volume 1

12 junho 2015

Batman - Lendas do Cavaleiro das Trevas - Alan Davis - Volume 1Editora: Panini Comics – Edição especial

Autores: Mike W. Barr (roteiro), Alan Davis, Eufronio Reyes Cruz, Terry Beatty e Carmine Infantino (desenhos), Paul Neary, Dick Giordano e Al Vey (arte-final), Adrienne Roy e Carl Gafford (cores) – Originalmente em Detective Comics # 569 a # 572.

Preço: R$ 19,90

Número de páginas: 128

Data de lançamento: Dezembro de 2014

Sinopse

O Coringa rapta uma regenerada Mulher-Gato para fazê-la voltar a ser uma criminosa. O Espantalho atacar novamente e, desta vez, retirando totalmente o medo das pessoas. E um sequestro leva Batman e Robin a Londres, nos passos de um antigo caso de Sherlock Holmes.

Positivo/Negativo

É um Batman bem diferente do atual, esse das histórias escritas pelo norte-americano Mike W. Barr e desenhadas pelo inglês Alan Davis.

A dupla vinha de uma temporada à frente de Batman e os Renegados, quando foi escalada para assumir a revista Detective Comics, em 1986. Junto com Paul Neary na arte-final, o time permaneceu pouco tempo – sete meses – no título, mas deixou um trabalho memorável.

As histórias deste encadernado são exatamente os quatro primeiros números do trio, de dezembro de 1986 a março de 1987. Paralelamente, Frank Miller e David Mazzucchelli reinventavam o Homem-Morcego em Batman – Ano Um, na revista Batman, de fevereiro a maio de 1987.

O trabalho de Barr e Davis é, portanto, um dos momentos finais de um Batman sério, sim, mas bem menos sombrio e sisudo, ainda mais ligado à herança do que foi desenvolvido por Dennis O’Neil e Neal Adams nos anos 1970.

Nessa fase, Batman já faz parte do cotidiano de Gotham City e é temido pelos bandidos, mas se permite entrar em um bar do submundo pela porta da frente e sorrir ao conversar com uma prostituta.

Isso antes de deixar Robin tomando conta do pedaço, se livrar de um segurança brutamontes com uma piada e interrogar sozinho um informante, ameaçando-o com uma conotação surpreendentemente sexual.

Em termos de narrativa, as aventuras também são bem diferentes dos tempos atuais, em que uma megassaga puxa outra. Aqui, as tramas são episódicas, diretas e não têm ambição de muita profundidade: são diversão pura e ligeira. Fazem sentido independentemente das outras. Mesmo que tenham desdobramentos, eles em geral se resolvem na história seguinte.

E embaladas no belíssimo traço de Davis, que dá uma expressão toda especial aos rostos dos personagens. Ele também não tem medo de ser “irreal” ao colocar expressões nas máscaras da dupla dinâmica.

Neste primeiro de dois encadernados, Batman e Robin já têm pela frente vilões clássicos como Coringa, Mulher-Gato e Espantalho. Há um bom espaço para o humor, mas em um equilíbrio bastante difícil, porém eficiente, com a aventura e o drama.

As aventuras curtas também exigem do poder de síntese de Barr, que usa vários recursos de elipse que o leitor mais preocupado com o realismo pode até estranhar: começar o diálogo em um cenário e concluí-lo em outro (em uma situação que, no “mundo real”, seria algum tempo depois).

Um elemento importante para a leveza das histórias é o Robin. Aqui, ele era Jason Todd, o segundo ajudante de Batman. É possivelmente o melhor momento de Todd como o Menino-Prodígio.

Retratado como uma criança, como raras vezes acontece, é um ajudante nitidamente em treinamento. Todd comete erros o tempo todo, mas tem uma empolgação irresistível; e Batman reage como um professor – de jeito nenhum como um sargento e seu soldado – como Frank Miller, vez por outra, gostou de fazer.

A última história da edição, O livro do juízo final, comemorou os 50 anos da Detective Comics. É mais longa e trouxe convidados especiais, não só no elenco, mas também entre os artistas. Dick Giordano, Carmine Infantino, Terry Beatty e o filipino Eugenio Reyes Cruz desenham algumas partes da aventura, que tem cinco capítulos.

Batman e Robin juntam forças com o detetive Slam Bradley – personagem criado por Jerry Siegel e Joe Shuster, que estreou na primeira Detective Comics, em 1937, antes mesmo do Morcego – e o Homem-Elástico em um caso de sequestro que remete a um mistério dos tempos de Sherlock Holmes.

O próprio Sherlock é a estrela de um dos capítulos, num flashback dedicado a um dos maiores detetives da ficção, a quem Batman, Bradley e o Homem-Elástico, também detetives, rendem suas homenagens vivendo esta aventura em Londres. E o capítulo desenhado por Reyes que entrega um traço propositalmente formal, nos moldes das revistas de mistério de antigamente.

São tramas de um tempo em que os quadrinhos de super-heróis estavam, na maior parte das vezes, satisfeitos em divertir com histórias muito bem contadas. Sem grandes preocupações com cronologia obsessiva, densidade exagerada, torções cósmicas na tessitura do espaço-tempo ou grandes sagas em sequência.

Eram tempos mais inocentes – para o bem e para o mal. Mas, aqui, decididamente para o bem.

Classificação

4,0

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