Quatro meses depois de ser lançado na França, o quarto e último tomo da série Bórgia chegou ao Brasil, numa bem cuidada edição em capa dura da Conrad.

A expectativa era grande, especialmente após o bom desenvolvimento da trama nos volumes anteriores, Sangue para o papa, O poder e o incesto e As chamas da fogueira.

No entanto, se a arte de Milo Manara mantém o alto nível dos três primeiros tomos, com traços e cores belíssimas, não se pode dizer o mesmo do roteiro de Jodorowsky.

Apesar de indubitavelmente talentoso, o escritor chileno constrói um enredo apressado, com um ritmo que dista bastante do apresentado nos álbuns anteriores. Durante a leitura, é nítida a impressão de que a conclusão da história poderia - e merecia - ser mais bem trabalhada, em um quinto volume.

Por exemplo: Lucrécia tem uma participação mínima na trama e seu irmão e seu pai nem sequer repercutem ou lamentam a sua morte. Fica uma sensação de que faltou algo.

Mas o leitor pode ficar tranquilo, pois a história tem, sim, uma conclusão. E, até chegar a ela, estão presentes na trama as traições, as mortes, o sexo e a podridão que marcou a família Bórgia. Com direito até a uma participação homossexual de Leonardo Da Vinci.

Talvez essa "correria" do quarto volume tenha sido uma imposição da editora francesa, a Drugstore, para que Jodorowsky concluísse a saga, mas isso o leitor dificilmente saberá.

Mas é fato que, por isso, este relato em quadrinhos da vida dos Bórgia, que até então veio sempre acompanhado do adjetivo "ótimo", é concluído apenas com um "bom".