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CANDYLAND

1 dezembro 2010

CANDYLAND

Editora: Caderno Listrado e Barba Negra - Edição especial

Autores: Olavo Rocha (roteiro) e Guilherme Caldas (arte).

Preço: R$ 89,00

Número de páginas: 72

Data de lançamentoNovembro de 2010

 

Sinopse

Em algum lugar existe um território chamado Candyland. Sua paisagem é árida e desolada, mas serve de palco para diversos episódios surreais, como a implementação de absurdos projetos arquitetônicos, corridas vale-tudo pelo deserto e um grupo de guerrilha liderado por um homem que ocasionalmente possui poderes divinos.

Martin é o protagonista que perambula por esse cenário enquanto procura um jeito decente de ganhar a vida.

Positivo/Negativo

Macondo era a aldeia pacata onde viviam os personagens de 100 Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez. Palomar era a vila onde se desenrolavam as histórias de Gilbert Hernandez (Love & Rockets). E agora há Candyland, não uma vila, mas uma "terra indômita, intrigante, indomável..."

A lembrança das cidades criadas por García Márquez e Gilbert Hernandez é inevitável. Candyland abriga personagens exóticos e possui uma geografia bem definida. Os eventos que ocorrem são absurdos, às vezes fortemente carregados de um realismo mágico. Entretanto, se não chega a ter o mesmo peso cult que as obras citadas, este álbum tem como mérito principal ser um livro muito divertido e despretensioso.

As histórias de Olavo Rocha são leves e possuem um humor delicioso e sutil. Suas tramas são inusitadas e quebram qualquer expectativa que o leitor possa construir.

Tudo gira em torno de Martin, que simplesmente busca um trabalho que lhe dê um sustento digno. Então, arrisca-se como engenheiro, depois como mecânico e até guia turístico. Entretanto, ele não é exatamente o protagonista da trama. Está mais para um sujeito perdido que perambula entre um acontecimento e outro.

O grande protagonista de Candyland é o próprio território. Além das histórias em quadrinhos, há no início e no final do volume trechos de um "guia turístico". São descritas atrações, hospedagem e passeios "imperdíveis" em um texto escrito com um bom humor cativante.

Dentro desses artigos no início do volume há uma ótima apresentação escrita por Fábio Zimbres em forma de uma série de dedicatórias. Entretanto, não fica claro que ele seja o autor, uma vez que apenas suas iniciais assinam o texto.

Guilherme Caldas tem um traço limpo, que lembra a escola belga. Não há texturas elaboradas ou áreas de sombras muito pesadas na página. O seu desenho valoriza a narrativa e o texto das histórias. Aliás, cabe também destacar o projeto gráfico, um dos principais diferenciais do livro.

Os desenhos de Caldas são impressos em azul, num espesso papel canson. E tudo em serigrafia, uma técnica artesanal, comumente utilizada em estampas de camisetas.

Artesanal também é o processo de encadernação: cada capa, feita em cartão revestido de tecido impresso, foi costurada aos cadernos internos uma a uma, manualmente. Daí a edição limitada a 200 exemplares e um interessante aspecto de produto não-industrial. E, claro, o preço da edição.

As histórias apresentadas nesse volume estão entre as mais recentes de uma produção que teve início há mais de 18 anos. Começando por zines e tendo participação de outros desenhistas, Candyland também já foi publicada como webcomic. Atualmente, o site está fora do ar, mas os autores esperam tornar a disponibilizar online, em breve, as aventuras de Martin e seus amigos.

No fim das contas, Candyland é uma publicação que se destaca em formato e conteúdo. Levanta questões e propostas interessantes sobre a produção de quadrinhos, sua tiragem, público e distribuição.

Afinal, há espaço no mercado para essas propostas mais artesanais, em que cada exemplar é praticamente uma gravura numerada? Seria esse um novo diferencial para o formato dos quadrinhos?

Classificação:

4,0

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