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CELLULOID: AN EROTIC GRAPHIC NOVEL

1 dezembro 2011

CELLULOID: AN EROTIC GRAPHIC NOVEL

Editora: Fantagraphics Books - Edição especial

Autor: Dave McKean (texto e arte).

Preço: US$ 35,00

Número de páginas: 228

Data de lançamento: Junho de 2011

 

Sinopse

Uma mulher chegou de viagem e espera no apartamento pelo retorno de seu companheiro. Ao acionar um projetor que estava na sala, começa a assistir e interagir com um filme enigmático e provocante.

Positivo/Negativo

Deslumbrante.

A exemplo de Cages e outros trabalhos seus, Dave McKean dialoga com diversas mídias na elaboração desta graphic novel.

O tema que permeia toda a obra é o erotismo e a decisão de não utilizar palavra alguma valorizam extremamente a linguagem gráfica e sequencial do autor.

A primeira impressão que o livro passa é a de ser um sketchbook, um caderno de desenhos e pinturas. Todas as imagens e frames ocupam as páginas inteiras ou são painéis em toda a extensão vertical.

Ao longo das páginas, as técnicas de ilustração vão se alterando, indo do desenho a nanquim até a fotografia; da sobriedade da arte em dois tons aquarelados até um turbilhão de cores caleidoscópicas. Há colagens, pinturas, imagens que lembram movimentos artísticos como o surrealismo, o cubismo e diversos outros. As composições se alternam entre a simplicidade da figura e fundo e a complexidade multifacetada da decomposição da forma.

Visualmente o álbum é arrebatador.

A sucessão de técnicas na elaboração das imagens serve a um propósito narrativo que só se revela ao final.

A referência à linguagem cinematográfica é constante, tanto pela presença e pela papel da película (celuloide) ao longo da trama, quanto pela composição, enquadramentos e modos de organizar a narrativa e a transição entre os painéis.

Mesmo a abertura do álbum lembra um filme, com os "créditos" (título, nome do autor, dados da editora) se entremeando com os desenhos e os quadrinhos da história que começa já na primeira página.

Apesar disso, curiosamente, Celluloid parece que funcionaria tão bem se fosse uma animação ou um audiovisual. Ela foi pensada para ser uma história em quadrinhos.

O erotismo apresentado na obra baseia-se no devaneio e na fantasia. Nesse sentido, a ausência de palavras permite que o ritmo de tempo seja dado pelo próprio leitor, à medida que avança pelas páginas ou se detém na apreciação de alguma imagem.

Sem um texto para defini-las, a arte acaba tornando-se a única base para a construção do significado. Embora a narrativa seja clara, certos aspectos de interpretação ficam extremamente subjetivos e dependentes do leitor.

Assim como a lascívia em si, Celluloid é uma experiência sensorial muito particular, para a qual o leitor deve relaxar e se entregar no seu próprio ritmo, no seu tempo, no seu espaço, sem ruídos ou interferências externas.

Questões de formação cultural e inclinações sexuais também influenciarão muito na percepção do livro por parte do leitor. Vale lembrar que trata-se de um álbum feito sob uma ótica heterossexual e masculina, na qual a figura feminina, antes de ser protagonista, é o objeto de desejo e fantasia de autor e leitor.

Sujeita a diversas leituras e interpretações, Celluloid é uma obra ousada no tema e na apresentação; e vale principalmente pela apreciação da arte, técnica e linguagem de McKean.

Não se sabe se há alguma possibilidade de a obra ser publicada em uma versão brasileira, mas uma vez que se trata de uma narrativa sem palavras, o idioma não é obstáculo para quem quiser conferi-la.

Classificação:

4,0

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