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CHE – OS ÚLTIMOS DIAS DE UM HERÓI

2 agosto 2009


Autores: Héctor Oesterheld (texto), Alberto Breccia e Enrique Breccia (arte).

Preço: R$ 34,90

Número de páginas: 96

Data de lançamento: Dezembro de 2008

Sinopse: Biografia do médico e guerrilheiro argentino Ernesto "Che" Guevara, um dos líderes da Revolução Cubana.

Positivo/Negativo: A figura de Ernesto "Che" Guevara está longe de ser consensual.

Por um lado, o líder da Revolução Cubana é um dos últimos símbolos do comunismo do século 20 a parar em pé. É admirado pelos quatro cantos do mundo e, tal qual um popstar warholiano, tem um rosto que estampa camisetas, pôsteres e bandeiras. Defensor ferrenho de seus ideais de igualdade e justiça social, tornou-se uma inspiração para a juventude.

Por outro, é inegável que Guevara foi um guerrilheiro, um sujeito de armas, reformista pela violência, e que seus feitos ajudaram a transformar Cuba em uma tenebrosa ditadura que deve muito para o rótulo utópico de paraíso socialista.

Entre as duas visões, há um emaranhado de complicações sociais, políticas e ideológicas. E é dos difíceis de serem desfeitos.

Che - Os últimos dias de um herói, HQ argentina que a Conrad lançou nos últimos dias de 2008, não vai esgotar o debate sobre seu protagonista. Mas revela belas luzes sobre sua biografia.

A obra traz, sim, a visão de Oesterheld - e ela é despudoradamente favorável, com a postura política forte que requeriam os dias de ditaduras e Guerra Fria em que a obra foi criada e lançada. Naquele contexto obtuso, minorar Che era ser a favor dos mesmos horrores que acabaram matando Oesterheld e sua família. Daí que o autor mostra o protagonista como um guerrilheiro, sim, mas sempre como um idealista e um humanista.

Independentemente do veredicto dos autores e das preferências ideológicas do leitor, Che é uma senhora história em quadrinhos.

A começar pela arte, que enche os olhos à primeira vista. O nanquim dos Breccia cria contrastes simples e avassaladores. São muitos, e não se contam nos dedos, os quadros que, por si só, contam uma história apenas pelo impacto visual imediato.

Há também o texto de Oesterheld: elegante, econômico, preciso e pontual, típico de um autor maduro. Mesmo antes de surgir o conceito de romances gráficos, as graphic novels, o roteirista criou um texto literário e sofisticado.

O encontro dos dois rende uma história em quadrinhos magnífica. A narrativa se difere da maioria dos quadrinhos tradicionais ao se afastar da linearidade e da transição didática de quadro a quatro. Os autores não banalizam a arte de fazer quadrinhos nem, por tabela, seus leitores.

Assim como a literatura tem suas entrelinhas, Oesterheld e os Breccia usam com mestria o "entrequadrinhos". Como em um bom conto, o melhor da trama está no subtexto. Quem ganha com isso é o leitor, de quem é exigida certa erudição para a fruição da obra.

Além da HQ, o álbum traz um prólogo do escritor argentino Ernesto Sabato, que enaltece Che, e um posfácio do editor Rogério de Campos - que exagera ao pintar Oesterheld como o primeiro grande roteirista dos quadrinhos mundiais, mas cumpre a função de situar o leitor no contexto em que a HQ surgiu.

É bom ver que a edição - a primeira de Oesterheld no Brasil - está à altura da história, com capa dura, bom acabamento e impressão impecável, no nível dos melhores trabalhos da Conrad.

 

Classificação:

4,0

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