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CICATRIZES

1 dezembro 2010

CICATRIZES

Editora: Leya / Barba Negra - Edição especial

Autor: David Small (texto e arte) e Cassius Medauar (tradução).

Preço: R$ 39,90

Número de páginas: 336

Data de lançamento: Novembro de 2010

 

Sinopse

Relato autobiográfico da infância e pré-adolescência do autor, sua conturbada relação com a família e os episódios que deixaram marcas profundas em sua vida.

Positivo/Negativo

Histórias autobiográficas estão na moda. É bacana produzi-las, é legal lê-las. Marjane Satrapi e sua Persépolis, Alison Bechdel e sua Fun Home, Craig Thompson e seus Retalhos... É uma lista grande.

Lendo esses livros, alguém pode pensar: "será que, além de histórias autobiográficas, ter tido uma juventude difícil também está na moda?".

Nas primeiras páginas de Cicatrizes, tem-se a impressão de que lá vem mais uma historinha de "eu cresci numa família complicada e tive uma adolescência difícil". Mas então acontece.

David Small merece o título de "sobrevivente", bem mais do que seus colegas citados acima. Tanto que o título Cicatrizes serve muito bem à obra - e não apenas no aspecto físico do personagem, assim como o original em inglês, Stitches. Contar mais que isso estraga a história.

Aliás, o maior problema desta publicação, se é que se pode considerá-lo assim, é justamente o fato desse "acontecimento" ser contado logo na orelha do livro. Por isso, um conselho importantíssimo: só leia o texto da orelha no final.

Lógico que a narrativa não se limita apenas ao "acontecimento" que rege a obra. Há toda uma riqueza de detalhes e contextualizações que amplificam muito mais o impacto do episódio sobre a vida de Small.

Daí vem o aspecto técnico da obra. Small é um ilustrador que trabalha com livros infantis e editoriais. Seu trabalho pode ser conferido no seu site oficial. A arte de Cicatrizes é feita com traços de bico de pena e pincel e tons de cinza produzidos por aguadas de nanquim.

O estilo de desenho dos personagens é feito de maneira simplificada, estilizada, com um traço expressivo. Destaque para o painel da página 211. Guarde este número, confira numa livraria e constate.

David Small tem seu ponto forte na arte e na narrativa sequencial. Os blocos de textos são curtos e há sequências de diversas páginas sem palavra alguma. Isso torna a história muito ágil, mas nunca superficial.

A riqueza do trabalho do autor não está em longas elucubrações descritivas sobre a psicologia de seus pais, mas na força expressiva dos desenhos, na economia de recursos que comunica a informação necessária e deixa espaço para o leitor trabalhar na construção do significado.

O que comprova que, mesmo sendo uma história autobiográfica, Small pensou em como contá-la em forma de HQ. E o fez com extrema competência.

Além disso, há outras pequenas surpresas narrativas...

Parabéns à parceria Leya / Barba Negra por esse lançamento e pela capa belíssima - elogiada, inclusive, pelo autor. Só vale ter mais cuidado para que textos editoriais não estraguem boas surpresas. Cicatrizes é um dos melhores lançamentos de 2010. Uma obra recomendadíssima.

Classificação:

4,0

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