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CLARA DA NOITE - VOLUME 1

1 dezembro 2008


Autores: Carlos Trillo, Eduardo Maicas (texto) e Jordi Bernet (arte).

Preço: R$ 29,00

Número de páginas: 64

Data de lançamento: Março de 2008

Sinopse: Coletânea de histórias da prostituta Clara da Noite.

Positivo/Negativo: O riso não é ponto passivo numa relação sexual. No anedotário brasileiro, há um bom número de piadas em que ele quebra o clima e estraga a noite. Chega a ser considerado indesejável. Um dos motivos, parece, é que o imaginário popular leva o sexo muito a sério, deixando-o mais próximo das coreografias de cinema pornô que da vida real.

Mas, quando se fala de gente de verdade, o sexo tende a ser lúdico, divertido e, claro, risível. O humor ajuda a relaxar, a seduzir, a envolver e, no fim das contas, a tudo dar certo.

É a essa linha que se filia Clara da Noite, o novo lançamento da Zarabatana. Com histórias rápidas em preto-e-branco, que se desenrolam em duas páginas e na maior parte das vezes acabam em uma gag, a prostituta bonitona seduz não só por conta de sua boa forma e da piscadela da capa, mas também pela leveza com que toca sua vida.

Ao fazer rir, Clara se afasta da perfeição das criaturas de Milo Manara e da voracidade sexual de Druuna, outras musas do erotismo em quadrinhos, e ganha uma cara própria, mais doce, palpável, até mesmo mais sincera que as colegas.

Mesmo quando não está nua, e não é sempre que a moça se despe, Clara é absolutamente sexy, tal qual a pin-up Betty Page, em que é visivelmente inspirada. O traço de Bernet, rápido e leve, só a ajuda. Às vezes, parece que ela pode até sair da revista e sentar ao lado do leitor no sofá - e o sujeito, sortudo, sente uma mão roçando o joelho.

Mas é em pequenos dramas, quando toca em tabus como estupro (página 36), gravidez (página 38) e cegueira (página 42), que a série se torna memorável. Clara sai da saia justa e mostra que, mesmo na dureza, não perde o rebolado, nem mesmo quando seu filho acha que todo cliente é seu pai desaparecido.

O mérito da série está em três autores do eixo ibero-americano: dois escritores argentinos e um artista catalão. Jordi e Trillo são velhos conhecidos dos brasileiros. Podem não ser best-sellers nem assíduos nas prateleiras de lançamentos, mas já foram bastante publicados por aqui. São tarimbados e, com Clara, acertam na mosca e revelam uma obra de grande frescor.

É o trabalho de edição da Zarabatana, marcante justamente por ser irretocável, que peca um pouco neste álbum. Na contracapa, onde estão as biografias dos autores, faltou incluir detalhes sobre o humorista argentino Eduardo Maicas. Na página 7, a tradução excessivamente literal do calão "puta madre", o equivalente em espanhol ao "puta que o pariu" daqui, compromete a piada. Na página 33, percebe-se outro errinho: uma vírgula separando sujeito e verbo na oração "eu, não sei...".

Os deslizes são uma pena, claro, mas não comprometem o álbum como um todo. Nem mesmo tiram os méritos da Zarabatana, que prima em buscar títulos preciosíssimos em mercados pouco explorados pelas editoras brasileiras.

E, a propósito, este é apenas o primeiro volume de Clara da Noite. Lá fora, há pelo menos mais quatro. Que venham. Clara, que depois da primeira leitura se chama apenas pelo primeiro nome, já é de casa. E sempre bem-vinda.

Classificação:

4,0

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