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Coleção Invictus # 24 - Batman de Neal Adams

28 fevereiro 2014

Coleção Invictus # 24 - Batman de Neal AdamsEditora: Nova Sampa - Edição especial

Autores: O fantasma do matador dos céus – Denny O’Neil (roteiro), Neal Adams e Dick Giordano (desenhos);

Pinte um quadro para o perigo – Denny O’Neil (roteiro), Neal Adams e Dick Giordano (desenhos);

O juramento da sepultura – Denny O’Neil (roteiro), Neal Adams e Dick Giordano (desenhos);

A casa que aterrorizou Batman – Len Wein e Marv Wolfman (roteiro), Neal Adams e Dick Giordano (desenhos).

Preço: R$ 2,50 (preço da época)

Número de páginas: 64

Data de lançamento: Julho de 1995

Sinopse

O fantasma do matador dos céus – Mortes e acidentes estranhos permeiam a rodagem da cinebiografia de um famoso aviador alemão, produzida por Bruce Wayne. Parece que o fantasma do piloto não quer o filme realizado, mas Batman não se convence e acaba encarando um adversário tomado pelo fanatismo.

Pinte um quadro para o perigo – O enigmático roubo do quadro de menor valor de uma exposição de arte em Gotham leva Batman a descobrir que o amor desmedido pode se transformar na mais profunda das loucuras.

O juramento da sepultura – Na caçada a um cruel assassino, o Morcego depara com uma família de aberrações circenses e é forçado a investigar um misterioso homicídio e mergulhar nas trevas do coração humano.

A casa que aterrorizou Batman – Há 24 horas Batman procura Robin, que sumiu sem deixar rastros. A busca chega a uma misteriosa casa... que não existia um dia antes. Lá dentro, o Cavaleiro das Trevas vive o mais profundo terror e tem sua sanidade testada ao limite por um inimigo que parece invisível e invencível.

Positivo/Negativo

Entre 1992 e 1996, a Nova Sampa (hoje o “Nova” ficou para trás) fez um trabalho seminal, republicando – e, às vezes, editando pela primeira vez – várias histórias da DC Comics, oriundas das Eras de Ouro, Prata e Bronze. Foi a Coleção Invictus, que teve 36 edições regulares e duas extras, estreladas invariavelmente por Batman, Superman, Flash, Capitão Marvel, Liga da Justiça e Legião dos Super-Heróis.

O volume 24 apresentou a primeira, embora modesta, coletânea brasileira de Batman sob o traço de Neal Adams. Falar da importância do desenhista para o Morcego e os quadrinhos em geral é “mais do mesmo”. Mas vale mencionar o trecho do texto na contracapa: “o artista que trouxe o verdadeiro Batman de volta aos quadrinhos, bem antes que Frank Miller explodisse cabeças com o seu O Cavaleiro das Trevas (1986)”.

A edição traz o melhor do Morcegão setentista e, não por acaso, três das quatro histórias foram concebidas por Denny O’Neil, o escritor que reapresentou um Batman detetivesco, gótico e soturno.

Em O fantasma do matador dos céus, ele e Adams começam a aventura com um recurso que se tornou raro: desloca o herói de seu habitat natural para um set de filmagem espanhol. Usando apenas sua dedução e compleição física, Batman vive uma trama de sabotagem e morte que tem uma “participação especial” de outro célebre personagem da DC, o Barão Hans Von Hammer, o Ás Inimigo, o homenageado do filme.

No desenrolar da HQ, O’Neil mostra o seu talento ao usar os recordatórios para imergir o leitor no clima sombrio de suas tramas, com textos que cairiam perfeitamente na boca de um Christopher Lee em qualquer produção da Hammer Films.

Embora originalmente colorida, esta versão em preto e branco valoriza os talentos de Adams e do arte-finalista Dick Giordano, que a cada aparição de Batman, davam credibilidade à aparência do herói, para justificar o pavor dos facínoras ao confrontá-lo.

E, com o perdão do trocadilho, a matadora sequência do desfecho, com um duelo aéreo a bordo de Fokkers da Primeira Guerra Mundial, é espetacular.

Pinte um quadro para o perigo é uma típica trama policial, que mostra, com uma simplicidade capaz emudecer muitos roteiristas atuais, como é possível criar um bom conto de detetive em 22 páginas. E O’Neil ainda arremata a aventura dando profundidade ao “vilão” Orson Payne, um homem que enlouqueceu por amar demais e cuja tragédia pessoal tem relação com uma pessoa próxima do alter ego do herói.

Por sua vez, o lápis de Adams faz de Batman um campeão olímpico: ele pula, rasteja, nada, escala, como se parecesse saltar das páginas.

O juramento da sepultura é uma das mais sinistras e desoladoras HQs de Batman. A trama o coloca num local ermo, acompanhado de párias humanos e com um assassino à espreita. As descrições de O’Neil contribuem para dar o tom claustrofóbico e Adams brilha especialmente na narrativa, prenunciando a técnica cinematográfica que seria usada ad nauseum por Frank Miller em seu Demolidor, tanto na cena da perseguição ao criminoso Kano Wiggins a bordo de um furgão, quanto no diálogo de Batman com Golias na descida do campanário. E o quadro final é acachapante.

Ainda que a solução do mistério pareça simplória, Denny O’Neil elegeu O juramento da sepultura como uma de suas aventuras prediletas à frente do Batman. Bruce Timm e Paul Dini tiveram a mesma opinião e adaptaram a HQ para a premiada Batman – A Série Animada, no episódio Show à parte, substituindo os dois principais antagonistas pelo vilão Crocodilo. A história também foi a primeira aparição do menino-foca Flipper, que faria ainda diversas participações no Universo DC.

Fechando a edição, a dupla Len Wein e Marv Wolfman bola uma das mais tétricas aventuras do Morcego, na qual ele confronta seus maiores temores numa mansão aparentemente assombrada.

A primeira parte tem uma sequência de sério terror psicológico, na qual a habilidade de Neal Adams de transpor emoções extremas pelas expressões faciais dos personagens se destaca ao mostrar um Batman que, embora abalado pelo medo, busca manter-se objetivo e racional. É no mínimo icônica a página em que Batman, apavorado, vê Robin reduzindo-se a pó em seus braços.

A revelação do adversário frustra um pouco, mas a sequência de ação logo à frente compensa e o desfecho retoma o climão do começo da trama.

A edição da Sampa, dentro das suas possibilidades, foi bem feita, com papel de alta gramatura – semelhante ao usado pela Conrad em seus mangás – e a inclusão de um texto curto sobre os trabalhos de Neal Adams.

As únicas ressalvas de Batman de Neal Adams foram o famigerado formatinho – que se diminuiu em parte a qualidade da arte, tornou a edição mais acessível – e o fato de ter parado neste primeiro volume. Se encontrar um exemplar da edição (é relativamente fácil), não deixe escapar.

Depois de Batman de Neal Adams, Opera Graphica e Panini lançaram compilações com conteúdo similar, mas nenhuma até hoje reuniu todos os trabalhos do lendário desenhista com o Cavaleiro das Trevas. Uma pena.

Classificação 

4,5

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