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CRISE FINAL # 1

2 agosto 2009


Autores: Grant Morrison (texto), J.G. Jones (arte), Alex Sinclair (cores), Jotapê Martins e Fabiano Denardin (tradução) - Publicado originalmente em Final Crisis # 1.

Preço: R$ 5,50

Número de páginas: 24

Data de lançamento: Julho de 2009

Sinopse: Na Pré-História, Metron visita Anthro - o primeiro rapaz a andar sobre a Terra - e dá a ele o conhecimento. Não fica claro o que é esse conhecimento, mas logo depois Anthro usa fogo para derrotar o imortal Vandal Savage.

No presente, o agente Dan Turpin encontra um Órion moribundo e, ao vê-lo morrer, pede ajuda. Heróis de todos os cantos começam a se mover - pasmos com a ideia de um Novo Deus morrer.

A Crise Final começou.

Positivo/Negativo: Jack Kirby criou o Capitão América. E depois meio Universo Marvel: Quarteto Fantástico, Thor, Hulk, Surfista Prateado e por aí vai. Foi na casa de Stan Lee que se tornou um dos mais celebrados autores de quadrinhos.

Mas foi na década de 1970, depois de uma briga com Lee, exilado na concorrente DC Comics, que criou alguns de seus personagens mais instigantes.

Debaixo do guarda-chuva chamado Quarto Mundo, Kirby concebeu todo um universo ficcional dentro do Universo DC. Nele, estão os Novos Deuses, Apokolips, o Povo da Eternidade e o Senhor Milagre.

Por conta das baixas vendas, os títulos do Quarto Mundo tiveram um final abrupto. Os personagens renderam muito menos do que seu gigantesco potencial.

Nas décadas seguintes, vários autores chegaram a aproveitar esses personagens em suas histórias. Alguns, respeitosos com o cânone, conseguiram fazer boas HQs. Outros ousaram subverter a ordem do Quarto Mundo e se deram mal.

É fundamental ter isso em mente quando se lê Crise Final.

Afinal, antes de qualquer outra coisa, a minissérie é uma proposta de continuação das histórias do Quarto Mundo.

A palavra "Crise" no nome até confunde. Publicações recentes atrapalham. Mas uma leitura mais atenta revela os fatos.

Antes de ser a terceira parte de Crise nas Infinitas Terras, antes de ser a sequência de Contagem Regressiva (aliás, convém ignorá-la), antes de ser um grande crossover, antes de ser mais um capítulo da novela dos Multiversos, Crise Final é uma leitura da influência de Kirby na DC.

Vale notar, a propósito, a aparição de outras crias de Kirby na trama: Dan Turpin, Kamandi e OMAC.

Essa leitura fica ainda mais instigante por conta de seu autor, o escocês Grant Morrison, um dos mais interessantes autores de quadrinhos do mercado norte-americano.

O escritor já havia apresentado uma versão muito particular dos Novos Deuses na parte dedicada ao Senhor Milagre da minissérie Sete Soldados da Vitória (e que tem ecos neste primeiro número de Crise Final).

Agora, vai além, faz uma maçaroca e cruza as duas realidades com todo o Universo DC.

É cedo para dizer se Crise Final vai funcionar, se vai ser um marco e até mesmo se alguém vai entender alguma coisa.

Por ora, o que se tem é um punhado de ideias soltas - mas são, pelo menos, interessantes, como a do garoto Anthro, a do eterno Vandal Savage e a do Clube Lado Negro (cujo nome em inglês, Dark Side, evoca o vilão Darkseid).

O que fica claro é que há algo grande acontecendo - e que possivelmente tem a ver com transformações na forma como o mundo é percebido.

Morrison, contudo, não entrega as informações de bandeja. Ler a história de cabo a rabo não vai esclarecer muita coisa. É preciso observar detalhes e cavoucar informações. Vale a pena até mesmo procurar fóruns de discussão e sites de leituras anotadas (o crítico de quadrinhos Douglas Wolk manteve um durante a publicação original da série - confira aqui).

Se Morrison veio para confundir (melhor dizendo: para fazer pensar), J.G. Jones é seu oposto. O traço do artista é claro e preciso. Mais que isso: é bonito pra caramba. Encanta já na primeira página, em que Anthro reage perplexo à presença de Metron.

As ideias que Jones precisa passar ao leitor podem ser complicadas, mas, visualmente, sua fruição é impecável.

Morrison, ao lado de Jones, tem um belo desafio pela frente: mostrar que a obra-prima de Kirby pode ser relida, subvertida e enriquecida - e não meramente deturpada.

Se o escocês vai conseguir são outros quinhentos.

Mas um desafio desses, mesmo que falhe, ainda é mais interessante do que a maioria das HQs que a DC tem conseguido produzir.

 

Classificação:

4,0

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