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CRISE FINAL # 2

2 agosto 2009


Autores: Grant Morrison (texto), J.G. Jones (arte), Alex Sinclair (cores), Jotapê Martins e Fabiano Denardin (tradução) - HQ publicada originalmente em Final Crisis # 2.

Preço: R$ 5,50

Número de páginas: 24

Data de lançamento: Agosto de 2009

Sinopse: A história é retomada em um night club japonês, onde estão os heróis da Equipe Superjovem. No banheiro, Sonny Sumô é abordado por Shilo Norman - o Senhor Milagre de Sete Soldados da Vitória.

Enquanto isso, o Caçador de Marte é velado, e a Lanterna Alfa Kraken investiga a morte de Órion.

E mais: o retorno de um herói.

Positivo/Negativo: Existem duas Crises Finais.

A primeira é aquela de que você ouviu falar: a derradeira consequência da Crise nas Infinitas Terras, a continuação de Crise Infinita e o desfecho de Contagem Regressiva.

Mais que isso: é o grande evento que promete dar cabo de todos os problemas da DC, uma verdadeira panaceia.

Se o discurso soa familiar, é porque essa é a versão adotada pela DC Comics - e replicada aqui pela Panini. O hotsite brasileiro até cita essas HQs na página dedicada a histórias relacionadas.

Na prática, contudo, é difícil de encontrar essa versão na minissérie em si.

Por isso, há duas Crises Finais. Uma é a da campanha publicitária, feita para vender gibi. A outra é a que está impressa nas páginas.

Tal como foi criada por Grant Morrison e J.G. Jones, Crise Final é uma homenagem ao lendário criador de super-heróis Jack Kirby. É como se a dupla erguesse um monumento no centro do Universo DC.

Desenhista brilhante e roteirista inspirado, Kirby fez história na Marvel. Criou o Capitão América, o Quarteto Fantástico, os X-Men, o Surfista Prateado, o Hulk e boa parte dos heróis da "Casa das Ideias".

Mas foi na década de 1970, numa passagem rápida pela DC Comics, que criou, entre outros personagens, o universo ficcional do Quarto Mundo - que retrata a batalha dos Novos Deuses com o vilão Darkseid.

Como no primeiro número, Kirby é citado a todo o momento. Há espaço até para personagens mais obscuros, como Sonny Sumô e Shilo Norman (que Morrison recuperou para recriar o Senhor Milagre em Sete Soldados da Vitória), e para outros que foram completamente incorporados à cronologia usual da DC, como Dan Turpin.

Claro que perceber essas sutilezas é complicado.

Antes de qualquer coisa, porque a campanha da DC (e da Panini) induz o olhar do leitor para procurar outras coisas na história. Por exemplo: o foco vai direto para eventos como o da última página desta edição (e que, de fato, impressiona a ponto de desviar a atenção). E a riqueza da minissérie acaba passando por apenas "mais uma maluquice do roteirista escocês" - designação pejorativa, mas bastante usual, que só ajuda a acomodar o público.

Mas há outro motivo para a dificuldade. Grant Morrison, mais uma vez, quer fazer o leitor trabalhar em conjunto com outros leitores para resolver os enigmas que espalha pela trama. É uma técnica que o autor já usou em Sete Soldados da Vitória, e que o pesquisador Henry Jenkins considera uma das consequências da Cultura de Convergência (para entender melhor o conceito, leia o texto Sete Soldados da Vitória - Guia de Releitura).

Os leitores norte-americanos já leram a Crise Final e Sete Soldados. E, juntos, chegaram a uma série de conclusões sobre o que está acontecendo com o Quarto Mundo. Afinal, o universo de Kirby sumiu, mas vem aparecendo de forma fragmentada ao longo da HQ - como nas diversas citações ao Lado Negro (em inglês, "Dark Side", palavra homófona de "Darkseid"). Os menores detalhes podem ser pistas, como o rosto de Turpin.

Entre os leitores dos Estados Unidos, a interpretação mais usual é que os novos Novos Deuses são os mesmos que os antigos. Mas o Quarto Mundo (que não se situa em nenhum dos universos do Multiverso) seria uma espécie de Matrix (como a do filme). Os tubos de explosão são a ligação entre esse mundo Matrix e o Multiverso. Então, Shilo Norman (na Terra) vira Scott Free no Quarto Mundo, mas esse avatar pode vir pra nossa realidade.

Nos EUA, diversos fóruns se dedicaram a trocar informações sobre Crise Final. Um dos mais interessantes é o blog Final Crisis Annotated, comandado pelo crítico Douglas Wolk (do excelente livro Reading Comics). Com a contribuição dos leitores, ele fez um guia completo e profundo da minissérie e das histórias interligadas. Suas notas são precisas e, se você se ativer ao título correspondente, os riscos de spoilers são mínimos.

Afinal de contas, Crise Final vai muito além de uma HQ comum ao oferecer uma experiência de leitura coletiva - e que deve ser compartilhada.

 

Classificação:

4,0

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