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CRÔNICAS BIRMANESAS

25 junho 2009


Autores: Guy Delisle (texto e arte), Constância Egrejas e Claudio R. Martini (tradução). Publicado originalmente no álbum Chroniques birmanes.

Preço: R$ 48,00

Número de páginas: 272

Data de lançamento: Março de 2009

Sinopse: Nadège, mulher de Guy Delisle, trabalha na ONG Médicos Sem Fronteiras. E é por conta disso que os dois, junto com o filho Louis, acabam em Rangum, então capital de Myanmar (antiga Birmânia), um país dominado por uma ditadura e não reconhecido por diversos países.

É o cotidiano de Delisle por lá que vai alimentar as histórias deste livro.

Positivo/Negativo: Em seus álbuns anteriores, como Shenzhen e Pyongyang, o canadense Guy Delisle já havia mostrado como relatar a vida em uma ditadura em deliciosas histórias em quadrinhos.

A rigor, portanto, não haveria nada de novo neste Crônicas birmanesas, lançamento da Zarabatana.

Na prática, contudo, as coisas não são bem assim.

Crônicas birmanesas está longe de ser a repetição de uma fórmula. É, isso sim, o aprimoramento de uma linguagem pessoal. Que dialoga com outras obras autobiográficas de zonas de conflito, como Persépolis e Palestina - ou mesmo de O fotógrafo, que também retrata a experiência da ONG Médicos Sem Fronteiras.

Por isso, Shenzhen e Pyongyang são, de certa forma, um ensaio para o novo livro - que apara e melhora todas as boas características que Delisle já mostrara antes.

Agora, o quadrinhista alcança um tom perfeito, em que as marcas da ditadura são ofuscadas pelo seu próprio cotidiano - mas também pelos privilégios que os estrangeiros têm em Rangum, como o cobiçado churrasco do Clube Australiano.

Aos poucos, as pequenas histórias vão formando um cenário completo e complexo, que inclui, sim, a ditadura, a censura e a perseguição à oposicionista e Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, mas que inclui a umidade das épocas de chuva, as regras para dar esmolas a monges e as eventuais dificuldades para se achar uma conexão com a internet.

Crônicas birmanesas, sem dúvida, é o principal trabalho do autor. Mais que isso: é um dos melhores lançamentos do ano - mais um belíssimo trabalho da curta, mas poderosa, quadrinhografia da Zarabatana.

 

Classificação:

4,0

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