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DO INFERNO # 2

1 dezembro 2005


Título: DO INFERNO # 2 (Via
Lettera
) - Série em quatro volumes

Autores: Alan Moore (roteiro) e Eddie Campbell (arte).

Preço: R$ 35,00

Número de páginas: 136

Data de lançamento: Janeiro de 2001

Sinopse: Londres, outono de 1888. Prostitutas são abatidas e evisceradas
pelo primeiro serial killer da História, a quem a imprensa apelidou
de "Jack, o Estripador".

Positivo/Negativo: Prezado leitor, seguimos nossa jornada pela
Londres Vitoriana na companhia de três cavalheiros extraordinários. À
sua esquerda, o senhor Alan Moore, amável escriba. À direita, Sir Eddie
Campbell, gentil artista. E, ao centro, sob elegante chapéu, um estranho,
cuja real identidade não seria de bom tom revelar nesse momento.

Contudo, apenas por ilustração, basta dizer que, não fosse por ele, esta
obra não seria possível. De fato, se levarmos em conta as sugestões propostas
pelo Sr. Moore, não fosse por ele, o próprio século XX como o concebemos
também não.

No objeto desta resenha, o segundo volume da premiada série Do Inferno,
pode-se presenciar a execução de três senhoras pelas mãos de nosso tímido
convidado - num universo de tão notáveis caracteres, como não poderia
deixar de ser, o mais formidável personagem de toda a trama.

Mas não somente os crimes são mostrados. O homem responsável pela investigação,
o inspetor Frederick George Abberline, é apresentado. E, claro, além do
assassino e do policial, é possível assistir aos últimos passos das inevitáveis
vítimas.

Nas quase 120 páginas de quadrinhos do álbum, somos levados das sujas
vielas de Whitechapel aos palácios reais, do soturno leste ao soberbo
oeste, da noite ao dia, de uma Londres a outra, como de um canto a outro
da essência humana. Em meio à decadência. De uma civilização, de um império,
de um século... de uma visão do mundo, da sociedade, do homem.

Sabendo com antecedência o que irá acontecer, e tendo alguns elementos
de circunstância paranormal apresentados no decorrer dos eventos (como
as verídicas previsões de um profeta americano pouco conhecido e as diversas
visões do futuro que teve o perturbado "Jack"), é difícil não se deter
por instantes, a considerar a real natureza da liberdade em contraposição
ao fatalismo do destino, fonte de toda a tragédia (tão explorada pelos
antigos em seus severos dramas, e aqui pelos afortunados autores).

Esta e outras questões dão o tom profundo e complexo de Do Inferno,
e suas inevitáveis conseqüências. Pois a arte, sendo arte, não deve morrer
ao fim de uma mera apreciação, trancafiada à sua forma... mas transcender
sua existência efêmera, reverberando no coração dos olhares, mesclando-se
às asas da alma, eternizando-se na essência de seus fiéis, como um deus
esquecido (e em constante presença).

No primeiro
volume
, é apresentada a pelo menos uma teoria-chave para entender
a tessitura da obra: a idéia da Quarta Dimensão, e sua conseqüente nova
compreensão da natureza do tempo. Durante toda a série, eventos se relacionam
de modo a confirmar a excêntrica teoria.

Uma história que mexe de tal modo com as dimensões profundas da percepção,
onde jazem (semidespertos) os oráculos, instintos reprimidos e divindades
secretas, não poderia prescindir do déjà vu, dos padrões singulares,
coincidências significativas, previsões, observadas aqui de modo curioso
e abismal.

Aliás, essa redescoberta do tempo condiz com a natureza particular da
forma de arte usada: os quadrinhos, cuja característica mais notável (ou
uma das) é a transmutação dimensional de tempo em espaço.

Ao partir de uma estrutura básica simples (nove retângulos regulares,
com variações de sentido dramático ou narrativo, como em Watchmen),
os autores obtêm resultados formidáveis, quanto a ritmo, sobriedade formal,
lógica de seqüências e construção do "clima" de cada cena.

Assim também, a inexistência de onomatopéias (uma característica de Alan
Moore), metáforas visuais criadas para romper a barreira monossensorial
das HQs ao gerar efeitos sonoros imagéticos, imerge o leitor em uma atmosfera
de curioso "silêncio".

Por fim, é de se notar como a arte do senhor Campbell parece mergulhar
o ambiente em névoa. E também como ora afasta os protagonistas do cenário,
ora mergulha-os num caos de linhas nuas e manchas serenas.

Nunca, em momento algum, deixa-se de ter a estranha (e acertada) sensação
de que a história se passa em nossa mente. Num lado vago e sombrio de,
onde coabitam os delírios.

Assim sendo, nada há mais a dizer. Seja bem-vindo, ávido leitor, ao segundo
volume. Até a análise do próximo, boa sorte.

Classificação:

4,0

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