Confins do Universo 203 - Literatura e(m) Quadrinhos
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DUO.TONE

1 dezembro 2011

DUO.TONE

Editora: Publicação Independente - Edição Especial

Autor: Vitor Cafaggi (texto e arte).

Preço: R$ 12,00

Número de páginas: 40

Data de lançamentoNovembro de 2011

 

Sinopse

A edição colorida apresenta duas histórias.

Na primeira, o menino Tim sofre com a mudança de sua família do sítio para a cidade grande.

Na segunda, dois jovens namorados descobrem uma maneira bem divertida de aproveitar o sábado.

Positivo/Negativo

A imaginação pode ajudar a enxergar o mundo de uma maneira muito mais interessante, tornando as cores do cotidiano mais intensas e brilhantes. Em nenhuma fase da existência a imaginação tem um potencial tão vívido quanto na infância.

Entretanto, a imaginação não pode modificar a própria realidade. Por isso, muitas vezes as decepções e revezes extinguem os devaneios e a fantasia.

É a decisão da família de mudar para a cidade que acaba com todo o mundo de brincadeiras do menino Tim. Ele precisa se despedir das árvores, do córrego e da pequena caverna que tinham sido a base pra todas as suas brincadeiras e criações.

Mais uma vez, Vitor Cafaggi demonstra uma extraordinária sensibilidade para construir e transmitir toda a dimensão emocional de seus personagens e situações.

Sem cair em pieguices, a trama explora todo o sentimento de Tim: a tristeza da despedida de seus amigos reais e imaginários e o receio com o futuro que o aguarda na cidade.

Deixando o formato de tiras seriadas dos trabalhos anteriores, como Valente e Puny Parker, o autor explora com desenvoltura o potencial das páginas de quadrinhos.

O domínio da narrativa se revela nos detalhes: ritmo, closes, expressão dos personagens e sequências sem texto.

As referências às histórias do Homem-Aranha são utilizadas de maneira interessantíssima. Aparecem em um gibi que Tim folheia enquanto conversa com sua mãe e criam todo um jogo de significados ao se relacionarem com as palavras do diálogo.

Outra grande referência implícita é a Calvin & Haroldo. O estilo de arte, o design do protagonista e a representação de suas fantasias têm muito a ver com o trabalho de Bill Watterson. Entretanto, o humor não é a principal intenção de Cafaggi, que elabora uma história que é muito mais comovente do que engraçada.

Principal trama da revista, ocupando 30 páginas, Tim termina de maneira provocante, deixando o leitor com vontade de ver mais e descobrir como será o futuro do garoto. Ao mesmo tempo, também funciona como um episódio fechado, sem necessidade de uma continuação.

Em Yoshio, novamente a imaginação é o tema, mas agora de uma maneira bem mais divertida e despretensiosa.

Numa tarde de sábado, Yoshio vai encontrar a sua namorada. Ambos estão um pouco contrariados com suas possibilidades de diversão, que se resumem a ir ao cinema.

Mas, então, no caminho para encontrar Suki, Yoshio encontra um estranho robozinho e decide segui-lo. A partir daí, há uma sucessão de situações fantásticas e bem-humoradas, que inspiram uma série de painéis que poderiam ocupar páginas inteiras.

Um exemplo é o confronto com o monstro gigante, que poderia ser uma splash page nos moldes de certos comics norte-americanos. Mas, em vez disso, é apenas um quadrinho, de mesmo tamanho, peso e importância que outros na página. Os demais, aliás, também teriam potencial para serem pôsteres.

É com essa escolha pelo pequeno, pelo simples, que Cafaggi demonstra que está mais interessado em contar uma boa história do que em desenhar um portfólio. O resultado é uma sequência de acontecimentos fantásticos, que cabem em uma página e preservam um aspecto singelo de fantasia infantil.

Sem o clima melancólico de Tim, Toshio funciona bem como uma trama despretensiosa e muito divertida.

É interessante notar que Tim e Toshio podem perfeitamente coexistir no mesmo universo ficcional, morar na mesma cidade, ser vizinhos. A própria seção de esboços reforça essa impressão. Cria-se a expectativa de um futuro encontro desses personagens e do surgimento de outros.

Duo.tone pode marcar o início de uma série, com um universo fictício próprio. Um novo lugar cheio de imaginação para o leitor passear.

Aguarda-se a próxima visita ansiosamente.

Classificação:

4,0

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