Confins do Universo 203 - Literatura e(m) Quadrinhos
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E, AGORA, OS NOIVOS PODEM SE BEIJAR

1 dezembro 2009


Autor: Ralf König (texto e arte).

Preço: R$ 34,00

Número de páginas: 144

Data de lançamento: Agosto de 2007

Sinopse: Paul e Conrad, um casal gay que vive junto há 15 anos, decide formalizar sua união, casando-se.

E o leito acompanha, então, todas as repercussões dessa decisão.

Positivo/Negativo: Houve uma época em que os casais formados por pessoas do mesmo sexo precisavam se esconder para viver o seu amor, pois tudo era proibido - até mesmo o homossexualismo era considerado doença.

Hoje, as novas políticas já permitem inclusive uniões legais entre parceiros homossexuais: um grande problema para grupos intolerantes, uma grande conquista dos direitos humanos.

As passeatas gays são comuns na maioria das grandes cidades do mundo, e a estranheza de ver casais do mesmo sexo andando juntos diminui constantemente.

No entanto, mesmo com uma certa abertura, todos têm sua opinião sobre o tema, a favor ou contra, gerando inúmeras relações e conflitos sociais.

E, agora, os noivos podem se beijar é uma comédia de costumes que trata justamente disso, da forma como a sociedade se manifesta com os relacionamentos gays, ainda mais a partir da possibilidade da união estável.

Paul e Conrad formam um casal gay bastante diferente. Conrad segue uma linha intelectual, tocando piano e levando uma vida mais tranquila. Paul vive abertamente sua libido e tem vários casos. Neste livro, eles decidem se casar.

O álbum é muito divertido. O autor faz um belo retrato da sociedade alemã, vista do ponto de vista homossexual. Trata de maneira hilariante o cotidiano, os clichês, a vida dos personagens e suas relações - a família hipócrita de Paul, que quer uma eventual herança da avó; a ex-mulher de Conrad, cujos namorados acabam se descobrindo gays; o traficante turco com quem Paul tem um caso, mas que não "sai do armário" e tem relações com ele apenas para suprir a eventual falta de mulheres.

Enfim, diversos personagens que vão apresentando variados pontos de vista sobre a situação.

A obra trabalha de forma leve um tema que ainda gera muito preconceito, colocando o leitor a par do dia a dia do casal, dos seus problemas, desejos, angústias, dúvidas e alegrias.

Com referências que vão de Patti Smith a Beethoven, de Rilke a Tolkien e seu O Senhor dos Anéis, passando pela cultura e política alemãs, é impossível não se divertir com a história. Os desenhos de König, num estilo "nariz de batata", também colaboram muito para isso, pois as expressões dos personagens são impagáveis.

Alguns momentos merecem destaque: as trocas de mensagens por celular no decorrer da trama são muito bem conduzidas; a perspectiva de como seria um asilo gay quando os personagens ficassem velhos; e o casamento entre duas mulheres e o discurso do pai de uma delas, mostrando o abismo ainda existente para aceitação das uniões gays e a ideia de que isso está levando à decadência da sociedade ocidental.

A edição tem apenas alguns problemas. Há uma citação na página 96 que não aparece no compêndio de notas, o que leva as seguintes a ficarem com a numeração errada.

Também há uma nota cuja numeração não aparece na página 120. E, finalmente, na página 139 é citado o Cardeal Ratzinger (atual Papa Bento XVI), mas nas notas o Cardeal citado é Lustiger.

Uma melhor revisão teria resolvido esses problemas.

A obra também é importante por trazer mais quadrinhos alemães para o Brasil. Ralf König é um autor que trabalha com o tema da homossexualidade em suas obras. Lançou seus primeiros na década de 1980, ficando restrito ao público gay até que lançou O homem ideal, em 1987, grande sucesso de público e crítica, sendo inclusive adaptado para o cinema, e já publicado no Brasil pela Via Lettera.

Para quem quer mais informações sobre quadrinhos alemães, há um ótimo site, em português, que faz um panorama geral, com biografias de vários autores. Para conferir, clique aqui.

Classificação:

4,0

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