Criação máxima do escritor Orson Scott Card, o romance O jogo do Exterminador (Ender's Game, no original) é um dos clássicos mais queridos do universo da ficção científica, justamente por evidenciar com mestria crianças superdotadas num ambiente militarista cruel e desumano, mas cheio de esperança.

O livro recebeu os prêmios Hugo e Nebula - os dois mais importantes do gênero fantástico - em 1985, e sua sequência Orador dos mortos repetiu a façanha no ano seguinte.

Desde então, Card trabalhou numerosas continuações numa série rentável e muito conceituada com os elementos mais significativos da ficção especulativa. Recentemente, o romance foi adaptado para os quadrinhos pela Marvel, e as duas minisséries do projeto foram reunidas num único volume, em Ender's Game Ultimate Collection.

Pesando os pontos positivos e negativos, a empreitada do roteirista Christopher Yost com o ilustrador Pasqual Ferry deixa de lado alguns pontos da trama do livro, mas mantém seu encanto.

A qualidade maior do texto de Orson Scott Card é a forma como ele caracteriza personagens verossímeis num contexto fora do normal, em especial crianças muito espertas e decididas. Ender é um protagonista fascinante, e a experiência de acompanhar o garoto lutando para sobreviver na Escola de Combate é arrebatadora.

O roteiro de Yost é enxuto e direto, mas pesa contra ele o fato de muitas vezes ser difícil entender a ação. Nas cenas transcorridas nas simulações de confrontos em gravidade zero, por exemplo, a confusão predomina. Ainda assim, os diálogos e o senso de alienação estão presentes e não decepcionam. O jogo do Exterminador versa sobre a perda da inocência, e temas universais têm apelo independentemente da mídia em que são narrados.

Há momentos de pura violência que podem chocar, especialmente por serem protagonizados por crianças. Mas nada gratuito e sempre funcionando a favor da história, que suscita reflexões e questionamentos importantes.

A arte de Pasqual Ferry contribui muito para o clima futurista e explora bem as expressões faciais e a linguagem corporal dos personagens - um grande achado para a adaptação.

A interação entre Ender e sua irmã Valentine rende um dos melhores momentos do gibi, e a decisão de dedicar tanto espaço à conversa dos dois foi acertada. Infelizmente, porém, a exclusão das sequências finais do romance tira uma parcela do peso moral da história, logo um traço dos mais marcantes na obra de Card.

A Marvel continuou a lançar obras relacionadas do autor na forma de quadrinhos, com Ender's Shadow (que segue em paralelo a O jogo do Exterminador), e as continuações Speaker for the dead, Ender in exile e A war of gifts, além de duas minisséries que servem de prelúdios, com o título Formic Wars, e seguiram o caminho inverso: primeiro saíram como gibis, para depois apareceram em prosa.

O próprio Orson Scott Card contribuiu com o mundo dos super-heróis da editora, com as minisséries do Homem de Ferro na linha Ultimate, que tiveram boa aceitação do público.

A tendência de adaptar grandes clássicos da literatura aos quadrinhos já provou que veio para ficar, com valor relevante quando se entende que eles não devem substituir os originais, mas complementar a experiência dos leitores. Assim, Ender's Game - Ultimate Collection é um álbum recomendado para os fãs e pode conquistar novos apreciadores para o romance.