ENTREQUADROS # 1
Autor: Mário César (texto e arte).
Preço: R$ 5,00
Número de páginas: 26
Data de lançamento: Junho de 2009
Sinopse: Esta edição reúne três histórias e algumas tiras do quadrinhista Mário César.
Em A mais bonita, o autor mostra a Morte, em seu dia de folga, se embelezando para um encontro com o anjo Gabriel.
Maria Tereza retrata um relacionamento sob dois pontos de vista.
Por fim, A epopeia do glorioso X-Pancadog conta a história de um cachorro que quer ser super-herói, mas tem dificuldades de ingressar na carreira.
Positivo/Negativo: Mário César, antigo colaborador aqui do Universo HQ, não chega a surpreender com o primeiro número de Entrequadros, sua revista solo. Isso porque não é de hoje que vem apresentando um trabalho leve, sem pretensões e bastante cativante.
Suas colaborações em antologias como a Front e seu material publicado na internet já estavam impregnados com essas características.
Por isso, Entrequadros não é uma surpresa, e sim um momento de consolidação de um trabalho consistente.
A mais bonita, por exemplo, mostra a Morte se preparando para um encontro com Gabriel.
Chama a atenção, logo de cara, a caracterização da Morte como uma personagem. De Mauricio de Sousa a Neil Gaiman, o fim da vida já ganhou várias caras nos quadrinhos. Ou seja, a ideia não é nova, o que sempre complica o trabalho do criador.
Mário César, contudo, conseguiu encontrar o tom de sua originalidade a partir da visão mais clássica - a do esqueleto que se veste com um manto. Sua Morte, ainda que monstruosa, tem desejo de ser bonita para seu amado. Sua vaidade é paradoxal: como ela poderia ser constantemente bela?
Ao mesmo tempo, o anjo amado - belo, como a tradição nos ensina a enxergá-lo - tem um visual punk. Busca outra beleza, nada clássica, no grotesco do moicano, do coturno e das calças rasgadas.
O encontro dos dois é, portanto, o equilíbrio da beleza grotesca e da feiúra vaidosa - embora a Morte, recalcada tal qual uma adolescente, não consiga se enquadrar.
A trama de Gabriel e Morte rende bem mais do que um único conto e um punhado de tiras (uma delas está na última página da edição). Até porque, claro, o fim da vida é um tema poderoso quando tratado decentemente. O desfecho da HQ - por triste acaso, relacionado com manchetes recentes - mostra o potencial do material que Mário César tem em mãos.
Maria Tereza, baseado em um conto de Reginaldo Minas, é uma história singela sobre os pensamentos que a distância provoca durante um relacionamento. O fim, com o encontro do casal, não importa - é previsível, certo, dado.
O motivo de a trama existir é o seu andamento: quando o casal não se encontrou, quando os pensamentos, os gestos e as ações não são lineares nem racionais.
Mais uma vez, porém, fica a sensação de que a trama é pouco explorada - que, mais bem trabalhada, poderia render mais e melhores páginas.
A epopeia do glorioso X-Pancadog destoa um pouco do resto da edição. É uma trama leve e despretensiosa, e ainda um bom trabalho, mas o tema e o tratamento dado ficam mais distantes das histórias que a antecedem e das tiras que vêm a seguir.
A HQ é uma sátira às dificuldades que gente pobre tem de entrar em um curso superior no Brasil. Mário César mistura bichinhos e super-heróis para construir a metáfora. Funciona, mas é outra coisa: é humor. A mudança de clima, mesmo que anunciada no editorial, acaba sendo abrupta. Soa estranho.
As seis tirinhas que encerram a revista são mais um ponto alto - se destacam especialmente as do doutor ateu que é obrigado a cobrar as dívidas com Deus. Mas, ainda assim, são poucas.
As 26 páginas de quadrinhos desta revista (por sinal: bonita, com bom acabamento e bem editada, apesar de alguns erros de português) acabam sendo poucas para o trabalho de Mário César. A sensação que fica é que o autor ficou em dívida com seu leitor.
É que seu texto e sua arte já mostraram que ele está pronto para apostar em trabalhos de maior envergadura. E seria um prazer vê-los nas próximas edições de Entrequadros.
Classificação: