Blecaute é um conjunto de quatro histórias focadas no aspecto fantástico de Ex Machina. Tudo gira em torno de um personagem misterioso que aparenta saber muito sobre a origem e o verdadeiro propósito dos poderes do prefeito Hundred.

Seu nome é Zeller e ele simplesmente apareceu no porto. Possui um uniforme estranho e fala sobre coisas como "tunelamento" e "ponto-filho". Fica angustiado ao perceber que uma das torres gêmeas não existe mais. E está à procura de Mitchell Hundred para que possa "lançar alguma luz sobre o que ele é".

O leitor é levado a suspeitar que sua aparição tem algo a ver com o blecaute que jogou Nova York na escuridão. E, talvez, esse apagão também esteja relacionado com a perda dos dons extraordinários do prefeito. Pela primeira vez em anos, Hundred não pode ouvir ou comandar as máquinas.

Em questão de horas, Zeller acaba tomando por reféns a mãe de Hundred e seu antigo mentor, Kremlin, e exige a presença do prefeito para uma conversa esclarecedora.

O problema da trama é que há várias pistas e situações instigantes, mas nenhuma revelação significativa é feita, embora fique uma estranha advertência sobre uma suposta e ameaçadora "imigração". Entretanto, tudo é vago e confuso e, antes que possa dar alguma informação relevante, Zeller simplesmente desaparece.

A impressão que se tem é que algo realmente fantástico está para acontecer, mas não agora. Um anticlímax.

São mostradas, em pequenas tramas paralelas, algumas situações dos nova-iorquinos frente ao blecaute, mas nem elas são exploradas em toda a sua potencialidade.

Finalmente, ainda há uma ameaça dentro do próprio círculo de assessores do prefeito. Alguém que visa destruir totalmente a sua carreira e figura pública e chega bem perto de pôr as mãos em algo que pode ajudar a realizar esse objetivo. Perto, porém não o bastante.

No todo, Blecaute é uma história boa e instigante, mas que não supre a expectativa que cria. Isso não significa ausência de qualidade, mas apenas uma certa frustração diante das possibilidades.

Fazem falta o característico enfoque nos aspectos mais mundanos, como as situações polêmicas e o difícil exercício da política em uma cidade tão plural quanto Nova York. Ainda assim, é um bom material.

A encadernação da Panini segue fielmente a publicação original norte-americana, porém deixa de fora a edição especial Inside the Machine, que não era propriamente uma HQ da série, mas sim uma coletânea de extras sobre o processo criativo de produção de Ex Machina.

O tradicional glossário também está presente, esclarecendo termos que ajudam a compreender ainda mais o contexto dos diálogos escritos por Vaughan.