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GÊNESIS APOCALÍTICOS + OS INEFÁVEIS

1 dezembro 2011

GÊNESIS APOCALÍTICOS + OS INEFÁVEIS

Editora: Marca de Fantasia - Edição especial

Autor: Lewis Trondheim (roteiro e arte) e Henrique Magalhães (tradução) - Publicado originalmente em Genèses Apocalyptiques + Les Ineffables.

Preço: R$ 15,00

Número de páginas: 56

Data de lançamento: Outubro de 2011

 

Sinopse

Em Gênesis Apocalípticos, diversas teorias sobre a criação, evolução e fim do mundo são passadas a limpo. Já Inefáveis explora vários temas em tom de fábulas, protagonizados por homens e mulheres "batatas".

Positivo/Negativo

Assim como Patrice Killoffer, o francês Lewis Trondheim é um prolífero e importante quadrinhista, cofundador da L'Association, que inexplicavelmente não tinha nenhum dos seus mais de 100 trabalhos publicados no Brasil.

Para se ter uma ideia da importância do autor, já lhe foi conferido o título de Chevalier des Arts et Lettres, condecoração concedida pelo Ministério da Cultura da França, e o prestigiado Grand Prix de Angoulême, um dos principais festivais do mundo, adotou seu personagem Le Fauve como mascote.

Dois de seus trabalhos são compilados nesta publicação. Gênesis Apocalípticos foi editado originalmente como um álbum exclusivo para assinantes da L'Association e Os Inefáveis saiu parcialmente na revista francesa Lapin.

Na primeira, Trondheim mostra seu peculiar humor nas camadas filosóficas que revestem suas histórias. Os desenhos são simples (os personagens têm forma de "batatas"), a diagramação é hermética (16 quadrinhos de mesmo tamanho por página) e os recordatórios são dinâmicos (geralmente uma frase por quadrinho).

Com uma habilidade estilística e sua perspectiva pessimista, o autor mergulha de cabeça em assuntos complexos, como questões teológicas, metafísicas e científicas, mas sem tomar nenhum partido desses segmentos.

A humanidade é a personagem preferida de Trondheim, cavoucando medos e incertezas como a busca do sentido da vida, a temeridade de vidas extraterrenas, da morte e dos seres divinos. Avanços tecnológicos, criativos, sociais e filosóficos dos seres humanos sempre são vistos como a gênese do fim de tudo. Mesmo com boas doses de humor, o resultado da equação é que a consciência das pessoas rege a maldade no mundo.

Interessante notar um lado mais romântico em algumas ideias, como o homem sendo um heroico explorador espacial, que pode alcançar universos paralelos interdimensionais e, mesmo assim, se destruindo ao final.

Os Inefáveis não tem tantas camadas complexas, mas preserva o humor inteligente de Trondheim, que aumenta seu leque temático, transformando cada página em uma mistura de crônica com fábula.

A estrutura da diagramação muda, mas não inova: cada página abre com um quadrinho horizontal, sendo desenvolvida por outros 12 iguais.

Apesar de suas histórias curtas não apresentarem um traço realista, o desfile de casos fantásticos lembra muito o trabalho do quadrinhista português José Carlos Fernandes, na série A Pior Banda do Mundo (Devir).

A natureza humana ainda permanece na mira do francês, que não descarta situações simplesmente cômicas, envolvendo desde um floco de neve decidindo em que lugar vai parar, passando pelas viagens "furtivas" de uma árvore por várias partes do mundo, até o caso do torcedor azarado que sempre perde o gol pela TV quando se ausenta por instantes.

A edição da Marca de Fantasia contou com o apoio da Embaixada da França no Brasil e da Aliança Francesa de João Pessoa.

O álbum tem capa cartonada com orelhas, boa impressão em páginas offset e uma encadernação bem firme. Outro ponto positivo é o seu formato (16,5 x 24,5 cm), maior que outras edições da editora, como Quando tem que ser, de Killoffer.

As letras, a pedido do próprio autor, foram feitas manualmente pelo editor e tradutor Henrique Magalhães. Um trabalho bastante competente, que procurou manter o lado underground da obra, apesar de, algumas vezes - talvez pelo espaço -, as palavras ficarem perto demais uma das outras, dificultando a leitura.

Ainda houve alguns pequenos "escorregões" de revisão, como se vê a seguir.

Página 34, 12º quadrinho: "pespostas" em vez de "respostas";

Página 40, 5º quadrinho: "Sylvie vê trêm (três) morcegos...";

Página 45, 6º quadrinho: "pequno (pequeno) homem";

Página 46, 11º quadrinho: "descubrisse" (descobrisse);

Página 47, 3º quadrinho: "lingua" sem acento;

Página 48, 13º quadrinho: "o marciano gentl" (gentil);

Página 49, 6º quadrinho: "vôo", deveria estar sem acento, já que a edição está de acordo com a reforma ortográfica;

Página 50, 7º quadrinho: "Bon..." (Bom) e "kilômetros" (quilômetros);

Página 57, 13º quadrinho: "enconraram" (encontraram).

Mesmo com esses erros, o primeiro trabalho de Lewis Trondheim por aqui merece ser conferido, pois serve também para o leitor alargar os horizontes e conhecer o que vem sendo realizado na Europa, um cenário muito maior do que é montado pelas editoras nacionais.

Classificação:

4,0

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