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GRANDES ASTROS - BATMAN & ROBIN # 3

1 dezembro 2008


Autores: Frank Miller (texto), Jim Lee (desenhos), Scott Williams (arte-final) e Alex Sinclair (cores).

Preço: R$ 3,90

Número de páginas: 24

Data de lançamento: Março de 2007

Sinopse: Canário Negro trabalhava em um boteco fétido como barwoman. Seu uniforme é uma máscara de gatinho, um maiô, um colete e uma meia arrastão. Uma noite, ela surtou e deu uma surra nos clientes.

Seis meses depois, Batman aparece com o jovem Dick Grayson em seu carro, fugindo da polícia, por conta de ter seqüestrado o trapezista órfão.

Em Metrópolis, Superman lê a notícia e se revolta.

Positivo/Negativo: Antes de tudo, é bom que se chegue a um consenso: Grandes Astros - Batman & Robin é um lixo monumental. Basta ver esta terceira edição: uma Canário Negro bregona fica lutando com marmanjos em poses obscenas por mais de meia revista. Aí aparecem Batman e Robin, em uma cena mequetrefe que não acrescenta nada, talvez apenas para justificar o título da revista. E então Superman tem um chilique.

Pronto, acabou. Ao leitor, resta esperar no mínimo um mês pela nova edição. Isso numa estimativa otimista, pois a série invariavelmente atrasa.

Se fosse uma história qualquer, tudo estaria explicado: é mais um dos inúmeros lixos que as editoras põem nas gibiterias todos os meses.

O que torna a ruindade de Grandes astros - Batman & Robin especial é sua paternidade. Por mais que Frank Miller às vezes erre, ele não costuma cometer estragos dessa magnitude. Não se trata sequer de uma obra com verve para a polêmica, como seu Cavaleiro das Trevas 2. A série é ruim em todo e qualquer aspecto que se possa imaginar.

E, por isso, é uma HQ perturbadora e intrigante, que merece reflexão e discussão.

Há alguns meses, Shaenon Garrity escreveu um artigo no site Comixology em que defendeu uma tese para lá de interessante sobre Grandes Astros - Batman & Robin. Segue o trecho mais emblemático:

"Na real, é isso: Frank Miller nunca poderia fazer outro O Cavaleiro das Trevas porque todos os escribas dos gibis passaram os últimos 20 anos fazendo isso por ele. Então, ele não tem nenhum lugar para ir a não ser para o alto e avante, rumo às alturas estratosféricas da insanidade e inanição dos quadrinhos. E Grandes Astros - Batman & Robin está dando aos fãs tudo que eles pensaram que queriam em uma HQ, só para mostrar como os gostos deles são realmente miseráveis. Você queria Frank Miller de volta ao Batman? Com Jim Lee, o favorito dos fãs segundo a Wizard, desenhando? E o Robin original e a batmitologia original (e toda e qualquer parte dos filmes que os fãs curtam) e um ultradark megamauzão Cavaleiro das Trevas que pode absolutamente espancar Superman, além de muitos palavrões e peitões, um batmóvel voador, dentes serrilhados e lutas na chuva? Tá aí, babacas. Vocês conseguiram."

A hipótese está clara: Miller estaria fazendo um grande pastiche dos piores quadrinhos dos nossos tempos. De quebra, debochando de seus leitores e até do parceiro, o artista Jim Lee.

A confirmação oficial é improvável: dificilmente o autor vai assumir sua brincadeira.

Mas há outra forma de se avaliar se a hipótese está correta. Para isso, basta revisitar a obra do autor. Em uma rápida passagem, encontra-se crítica ácida a tudo: de sistemas ideológicos a programas de TV.

Não é para se estranhar que, uma hora, ele tenha decidido atacar justamente o meio que o forjou. O que não dá para aceitar é que Miller não sabia que estava fazendo um trabalho que, à primeira vista, é o ponto mais baixo de sua carreira. Também é difícil que, inconscientemente, à toa, sua ruindade seja tão parecida com as idiossincrasias que contaminam o mercado norte-americano.

Ainda que seja ruim, e é muito, a batsérie Grandes Astros ganha força ao ser lida como paródia. Ainda mais numa edição como esta, provavelmente o ponto mais baixo de toda a série.

Se for lida como uma história em quadrinhos normal, a nota seria um zero bem redondo e gordo, caprichado. Mas já está claro que não é isso que Frank Miller está fazendo e, portanto, fica inevitável reconhecer seu brilhantismo sádico.

De uma hora para outra, suas páginas passam a rir de todos nós: dos que a compram, dos que a debatem, dos que editam e reeditam, dos que a levam a sério e, principalmente, do coitado do resenhista que tem que determinar quantos balões vale o show.

Classificação:

4,0

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