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HABIBI

1 dezembro 2012

HABIBI

Editora: Quadrinhos na Cia. - Edição especial

Autor: Craig Thompson (roteiro e arte).

Preço: R$ 57,00

Número de páginas: 672

Data de lançamento: Julho de 2012

 

Sinopse

Apresentando desertos, haréns e o efeito da desordem industrial moderna como cenários, Habibi narra a história de Dodola e Zam, crianças escravas unidas e separadas pelo destino, que compartilham um amor sem medidas.

Positivo/Negativo

A religião teve um peso enorme na vida de Craig Thompson. Em sua autobiografia, a graphic novel Retalhos, ele expôs os dissabores de crescer numa família fervorosamente católica, na qual o medo de pecar pautava suas ações.

Ele, mais do que ninguém, sabe que todo ato extremado é perigoso. Por isso, condenou a perseguição norte-americana aos muçulmanos, propagandeada pela mídia e pelos políticos no pós-11 de setembro de 2001.

Thompson tem amigos muçulmanos, e percebeu que seguem preceitos morais similares aos católicos. Então, para pôr em xeque a "islamofobia", debruçou-se em pesquisas para prestar homenagem à cultura árabe em toda sua plenitude - escrita, arte, religião, política, economia -, mas sem deixar de inserir uma crítica à realidade social vigente no Islã, mesmo que o cenário da sua história fosse um país fictício, sem recorte temporal definido.

Após sete anos de trabalho, presenteou o mundo com uma obra-prima singular, a graphic novel Habibi, vencedora do Eisner de Melhor Escritor/Artista e do Prêmio BD Virgin, em Angoulême.

Com um quê de Mil e uma noites, a trama narra a vida de Dodola, vendida por seu pai a um experiente escriba, com apenas nove anos de idade. Com o assassinato do marido, ela é levada como escrava e foge com o pequeno Cam (rebatizado de Zam), filho de escravos que não enxergavam um bom futuro para ele.

Morando juntos num barco encalhado nas areias do deserto, conseguem sobreviver por nove anos com uma regra básica: Zam se encarregava de encontrar água, e Dodola, de trazer comida. Como passatempo, ela contava histórias do Alcorão e ensinava o garoto a ler e escrever.

O destino vai testar o sentimento que os une, separando-os. Quando eles se reencontram, não são mais os mesmos. Assim como os vilarejos que conheciam, se outrora prosperavam com o comércio, a realidade mostra que se transformaram em abrigos decadentes, onde os seres humanos vivem em meio a um mar de lixo e escombros.

Habibi foi o primeiro trabalho de Thompson publicado por uma renomada editora, a Pantheon Books, casa de Art Spiegelman e Chris Ware, permitindo que ele pudesse se dedicar com exclusividade à arte sequencial.

Produzir um quadrinho com mais de 600 páginas requer um cuidado extra na elaboração do roteiro e da arte. O esmero com que Thompson tratou sua obra é visível, tanto que, em momento algum, o leitor se entedia. Pelo contrário, fica cada vez mais curioso para saber qual será o desfecho da trama. Isso porque ele emprega humor, erotismo, fantasia, drama social e suspense a uma tortuosa história de amor.

Tal qual uma peça de tapeçaria, ele traçou cuidadosamente as histórias de seus dois protagonistas, Dodola e Zam, interligando-as com as letras do alfabeto árabe, a simbologia do islamismo e os arabescos para compor inspiradíssimas splash pages (páginas-poster), deixando o movimento da caligrafia muitas vezes conduzir seu desenho.

 

Classificação:

4,0

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