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J. KENDALL – AS AVENTURAS DE UMA CRIMINÓLOGA # 53

26 agosto 2009

Autores: Giancarlo Berardi (roteiro) e Roberto Zaghi (arte) - HQ publicada originalmente em Julia # 53.

Preço: R$ 8,90

Número de páginas: 128

Data de lançamento: Abril de 2009

Sinopse: O elevador - Júlia está presa num elevador de um prédio que ficará fechado por 15 dias. Como ela conseguirá sair?

Positivo/Negativo: Um pouco de mais do mesmo, mas não custa repetir: J. Kendall é uma das melhores revistas publicadas no Brasil.

Um enredo simples: uma pessoa presa no elevador de um prédio público, que vai fechar para férias coletivas dos funcionários. O que seria um simples incidente da vida moderna, ganha ar de tragédia.

É o cotidiano que pode acontecer (ou já aconteceu) a qualquer um que vive numa grande cidade. É dessa matéria simples que Giancarlo Berardi monta sua trama. O tom é realista, as situações são verossímeis e, sobretudo, o encadeamento das ações é similar à verdade. Afinal, é essa a proposta do autor em seu roteiro.

Claro, o realismo em si não é virtude. O mérito está em usar isso em prol de uma construção humana da trama, com grande capacidade empática e força narrativa. Fundamentos nos quais Berardi é mestre.

Artes visuais como cinema e quadrinhos, quando assumem propostas de contar histórias, fazem uso de um recurso básico - e que parece até óbvio: tudo o que o personagem puder fazer, ele não fala.

As narrativas se constroem com base em ações. E ação não quer dizer somente carros explodindo ou voadoras com os dois pés (e páginas duplas) na cara do vilão. Um personagem bebe água em vez de dizer que vai beber água.

Em O elevador, é fácil perceber que um espaço restrito, como aquele onde Julia e o personagem coadjuvante Milton Roth estão presos gera pouco impulso à ação. É de se esperar que seja uma história arrastada e modorrenta. Mas não é o que acontece.

A linha narrativa de Julia e Roth presos no elevador é intercalada por Webb, Leo e Emily em busca da desaparecida criminóloga. Nas cenas do elevador há uma sequência extremamente funcional de enquadramentos, que põe o movimento no olhar do leitor: plano de um personagem, contraplano de outro, plano aberto dos dois, close em um deles e detalhe no mesmo personagem.

As páginas passam pela sucessão das cenas intercaladas das duas linhas narrativas; cada uma anda pelos enquadramentos e pela sucessão das ações dos personagens. A turma da busca, investiga, conversa, anda e procura; Julia e Roth discutem e agem por gestos curtos e pelas expressões.

É justamente pelo conteúdo e pelo significado das expressões faciais e corporais que se reconhece o grande talento de Zaghi como desenhista. É a contramão da maior parte dos quadrinhos de super-herói: a sutileza em um quadro no lugar das espalhafatosas splash pages.

Aliadas aos excelentes diálogos de Berardi, as ações se dão de modo sutil externamente e avassaladoras psicologicamente.

Essa opção narrativa representa o que é a revista J. Kendall - As aventuras de uma criminóloga: inteligente, densa e sutil.

 

Classificação:

4,0

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