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J. KENDALL - AVENTURAS DE UMA CRIMINÓLOGA # 52

26 agosto 2009


Autores: Giancarlo Berardi e Maurizio Mantero (texto) e Federico Antinori (desenhos). HQ originalmente publicada em Julia # 52.

Preço: R$ 8,90

Número de páginas: 128

Data de lançamento: Março de 2009

Sinopse: Uma negra, mãe de uma garota desaparecida, bate à porta de Júlia Kendall para pedir ajuda para localizar a filha, que teria fugido para o estado sulista do Alabama com seu namorado branco e estaria, portanto, à mercê da Ku Klux Klan.

Para ajudá-la, Júlia convoca o detetive Leo, que recruta para o trabalho um colega, Ralf, que lhe deve favores.

E é quando Ralf aparece morto que Júlia e Leo partem rumo ao sul.

Positivo/Negativo: Vem desde os tempos do caubói Ken Parker o reconhecimento de Giancarlo Berardi como um autor profundamente humanitário, que tem posições firmes em defesa do homem, de seus valores, de sua liberdade e de sua dignidade.

E esta edição de J. Kendall vem reforçar a fama de seu criador.

Ao lado de Maurizio Mantero e Federico Antinori, Berardi expõe a existência não só da Ku Klux Klan nos nossos dias, mas também a do preconceito (de Emily, negra, com outros negros) e da dificuldade de convívio com o outro (de Júlia com Will, seu novo affair).

Tudo isso sem ser panfletário. A denúncia, afinal, não é a linha-mestra da história. A rigor, formalmente, Berardi não chega nem mesmo a tomar um partido. Ele se limita a relatar um absurdo - e o engajamento fica por conta do leitor.

É bem verdade, contudo, que a revista, produzida originalmente em 2003, talvez ecoe melhor ainda neste 2009, ano marcado pela xenofobia crescente, provocada especialmente pelo desemprego causado pela crise global. Num cenário desses, é difícil - e covarde - não tomar uma postura.

Uma história dessas é revigorante por si só - mas vem, como sempre, acompanhada de uma arte excepcional.

A revista só carece de um certo cuidado na transição entre as ortografias. Embora se leia o verbo "veem" na página 78, como demanda a nova ortografia, "freqüentar" (p. 12) e "tranqüilizá-la" (p. 92) permaneceram com trema. Além disso, "extrasensorial" (p. 44) está grafado de um jeito que não é aceito por nenhuma das ortografias.

J. Kendall é, mais uma vez, o azarão das bancas: tem formato e papel de revista de terceira, um logotipo feio de dar dó, uma distribuição errática e, pra piorar, um preço pouco compatível com seu aspecto visual.

Ainda assim, apesar de tudo, é invariavelmente um dos melhores títulos das bancas. Se não é fenômeno de vendas, é de qualidade, de consistência e de opções estéticas. E isso, novamente, é reforçado por esta excelente edição.

 

Classificação:

4,0

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