As aventuras de João das Lorotas tendem ao picaresco. Ou seja, se baseiam num tipo de literatura em que tudo é possível dentro da narrativa, desde que resulte em algo divertido. O foco é sempre um personagem materialista e capaz de qualquer coisa para se dar bem.

Os finais de arco, em que o personagem principal acaba sem ter nada do que conseguiu durante a aventura também colabora para essa visão.

Igualzinho o João. Matthew Sturges e Bill Willingham somam todo esse perfil do personagem a um enredo digno da Disney e aumenta essa sensação a inocente fábula Gary, capaz de animar objetos.

Mas isso não é ruim.

Um enredo em que tudo é possível não se torna óbvio, pois se os mandamentos narrativos indicam um caminho, nada do que aconteceu até então na história indica que a trama irá para a mesma direção.

Algumas subtramas poderiam se passar facilmente com o Pato Donald, como os problemas de se ter sorte (ou azar) demais. Porém, aqui, no fim das contas, tudo está dentro de um mundo cruel e sem escrúpulos.

É de se perguntar quanto fôlego uma série assim consegue ter.

Vale dar dois recados ao leitor: a série já terminou nos Estados Unidos, após 50 edições; e, por aqui, a Panini continuou a publicação de João das Fábulas em encadernados.