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KEN PARKER # 32

1 dezembro 2005


Autores: Giancarlo Berardi (história), Maurizio Mantero (roteiro), Carlo Ambrosini (desenhos) e Ivo Milazzo (capa).

Preço: R$ 25,00

Número de páginas: 104

Data de lançamento: Julho de 2004

Sinopse: A Lenda do General - Por muito tempo, o general George Custer foi um mito na formação histórica americana. Herói da Guerra de Secessão, coube a ele comandar o que lhe pareceu ser uma nova guerra civil americana: a inconformidade das tribos indígenas em aceitarem passivamente a invasão de suas terras por colonos e aventureiros brancos.

Contudo, documentos do exército dos Estados Unidos, revelados décadas depois, mostraram que Custer era um matador compulsivo e cruel, que agia impiedosamente contra mulheres, idosos, crianças e até animais. Para ele, era preciso exterminar os índios a qualquer custo - mesmo que tivesse de usar canhões contra arcos e flechas.

Nesta história, Custer surge no caminho de Ken Parker de forma engenhosa. Transferido como batedor para o Forte Lincoln, às margens do rio Missouri, o herói descobre que, por um erro do escrivão, está atrasado um mês em sua apresentação e terá de correr para se juntar ao temido e metódico comandante.

Antes de partir, conhece a esposa do militar, que garante: seu marido é um homem generoso e de alma nobre. Ao mesmo tempo, é avisado por colegas de que Custer tem temperamento difícil.

Na viagem de barco, Parker acompanha um poderoso arsenal bélico requisitado pelo general para combater os índios - que inclui metralhadoras -, e teme pelo encontro. Pra ajudar, ainda precisa derrotar alguns facínoras dispostos a roubar o armamento.

Parker se vê cada vez mais confuso no seu esforço para desvendar a personalidade do general e se preparar para encontrá-lo. Uma índia, por exemplo, o descreve como o homem que massacrou todo o seu povo. Afinal, qual o verdadeiro Custer?

Positivo/Negativo: Muito interessante a forma encontrada para fazer os caminhos de Ken Parker e de Custer se cruzarem. No roteiro, que é assinado por Mantero, mas partiu de uma idéia de Berardi, é mostrado o papel histórico do general na luta sangrenta que o exército americano travou contra os índios na segunda metade do século XX.

Enquanto viaja ao encontro de Custer, o atrasado Ken Parker ouve relatos dos mais díspares sobre o militar - o mesmo homem capaz de chorar no ombro de uma índia mandou executar um de seus homens por protestar (pacificamente) por não receber baixa do exército. E como tudo é baseado em depoimentos de pessoas que conviveram com o militar, os autores deitam e rolam ao descrever suas múltiplas personalidades.

Um dos episódios mais marcantes é o da bela índia Monahsetta, que vivia na tribo Cheyenne de Motovato (Panela Negra). Todos os seus familiares foram assassinados por Custer, que decidiu poupá-la e fez dela sua amante. No entanto, depois de algum tempo, o general partiu ao encontro de sua verdadeira esposa.

Monahsetta foi "libertada" para voltar aos seus, mas já carregava no ventre o filho de Pahuska (Cabelos Longos, como chamava Custer). Desde então, nunca mais o viu. Agora, quer reencontrá-lo, para pedir que crie Yellow Swallow (Andorinha Amarela), para o garoto - já com seis anos - não ter o mesmo destino dos demais índios.

No bem amarrado roteiro, o tão esperado encontro acontece de modo inusitado. Parker "conhece" o temido militar morto, com um tiro na têmpora - ele cometeu suicídio, após cair numa emboscada dos índios, mesmo tendo sido avisado insistentemente. Sua teimosia falou mais alto.

Muito interessante a "cutucada" dos autores, ao mencionar que Custer não teve seu escalpo arrancado, porque para os índios quem se mata não tem valor. Nada de falsos heroísmos. No final, o inconformado Parker decide nunca mais ajudar os "casacos-azuis".

A arte de Ambrosini merece elogios. Ele domina as técnicas de claro-escuro, faz belos enquadramentos e tem ótima narrativa, proporcionando ao roteiro a velocidade adequada a cada cena. Destaque para as páginas em que retrata o sonho premonitório do garoto Yellow Swallow, nas quais faz um traço infantil.

Agora, o ponto baixo da edição foi o grande número de erros de português. Há alguns feios, e a maioria seria evitada com o simples uso de um corretor ortográfico no texto. Veja a seguir.

Página 23: "...a ponto (de) pensar..."

Página 24: "...os soldados se comportaram disciplinamente (disciplinarmente), esperando que o general remidiasse (remediasse)..."; "...vestidos de maneira indiscritível (indescritível)..."; e "...a setença (sentença) será..."

Página 28: "...dei de cara com desses (esses) dois..."

Página 33: "...e tagora (agora) pode estar..."

Página 52: "...não aguenta (agüenta) mais! Ele precisa descançar (descansar)..."

Página 57: "...Major Eliott, de (dê) a volta..." e "Eles nunca mais vão esqueçer (esquecer) de nos!"

Página 77: "...para deixar os inimigos cego (cegos)..." e mais três frases começando em letra minúscula.

Página 78: "viu o que (quê)?"

Página 86: "...basta ser inconciente (inconsciente)..."

Esses erros, que derrubaram a nota desta edição (uma pena, porque é uma grande história), contrariam o zelo que a Tapejara sempre demonstrou em seus belos álbuns. Foi uma exceção à regra, mas é preciso estar atento, pois o leitor de Ken Parker é diferenciado, e merece todo cuidado.

 

Classificação:

4,0

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