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MACANUDO # 1

1 dezembro 2008


Autor: Liniers (roteiro e arte).

Preço: R$ 33,00

Número de páginas: 96

Data de lançamento: Outubro de 2008

Sinopse: Primeira coletânea da série de tiras Macanudo (em espanhol, extraordinário, estupendo) publicadas originalmente no jornal argentino La Nación.

Positivo/Negativo: Liniers estreou Macanudo em 2002, no jornal La Nación, graças a ajuda de Maitena (de Mulheres Alteradas), amiga do cartunista. Desde então, fez um grande sucesso na Argentina e publicou várias coletâneas com as tiras, além de outros livros.

Infelizmente, seus trabalhos ainda eram pouco conhecidos no Brasil, o que pode mudar agora com a iniciativa da Zarabatana, atrelada à grande divulgação que a visita do cartunista recebeu da mídia geral e especializada. Para se ter uma idéia, o jornal Folha de S.Paulo o entrevistou antes mesmo de embarcar para o Brasil e a revista Trip reservou um horário na agenda dele para um bate-papo.

Sobre o material em si, uma rápida leitura de algumas páginas é mais que suficiente para ver que, sim, ele tem toda essa qualidade e merece a badalação. Macanudo é diferente da maioria das tiras típicas de jornal, mas, obviamente, tem como referência os grandes clássicos do gênero, como Calvin, Mafalda e Peanuts; e presta homenagem abertamente para essas fontes de inspiração.

Um exemplo disso é uma das poucas personagens fixas da série, Enriqueta, com seu urso de pelúcia Madariaga e o gato Fellini. Apesar de diferente da maioria das crianças em tiras, ela possui várias semelhanças com Calvin - na página 25 há uma brilhante releitura da tradicional tira em que o garoto e Haroldo dançam.

Além de Enriqueta, é possível destacar outros personagens recorrentes, como os pingüins, Z-25, o Robô Sensível e os duendes. Mas no geral, os personagens não são o centro do trabalho de Liniers - esse posto é ocupado por uma espécie de cotidiano metafórico fantástico.

A proposta do autor era aliviar o leitor do pessimismo diário das notícias do jornal - e ele é bem-sucedido nisso. Sem necessariamente fazer piadas, mas com situações acalentadoras, sensíveis, sutis, Liniers deixa a leitura "mais leve".

Ler Macanudo de uma vez só é uma experiência tão agradável, que o primeiro impulso é querer comprar dezenas de livros e distribuir entre os amigos.

Obviamente, isso não se deve só ao roteiro, pois todo o conceito visual da tira reforça as suas propostas. Esse lado agradável é garantido pela lindas aquarelas. Mesmo de longe, a tira se destaca por suas cores, um efeito importante em um jornal já que ocupa um pequeno espaço em uma grande página cheia de outros elementos.

Outra questão sempre mencionada sobre a arte de LIniers é o trabalho com o espaço da tira. De um tempo para cá, alguns artistas começaram a falar sobre a quebra do padrão tradicional de três ou quatro quadros, como Laerte, na sua recente fase experimental, e Marcelo Campos, em Talvez Isso.

Pelo que se vê em Macanudo # 1, Liniers já se preocupava em ousar no design desde o começo. Quase sempre há uma peculiaridade nessa área. Mesmo quando trabalha com o formato básico da tira, ele geralmente coloca uma moldura (como se fosse uma pintura) em um dos quadros, dando um ritmo diferenciado à leitura. É como colocar um acento em uma palavra para indicar a sílaba tônica.

No geral, as tiras têm seu último quadro como o mais forte. Mas quando Liniers faz uso dessa moldura especial em um dos quadros, muda a entonação da leitura inconscientemente.

Outro detalhe que salta aos olhos é que todos os personagens humanos têm um nariz avermelhado que parece ter sido aplicado no rosto deles. Normalmente, em desenhos animados e cartuns, isso simboliza que a pessoa está embriagada, ou seja, "alegre". Além disso, o nariz vermelho encaixado na cara lembra a simbologia tradicional do palhaço, novamente uma figura que remete à alegria.

Assim, mesmo nos momentos tristes, os personagens de Liniers passam um acalento, uma sensação boa que parece eterna neles.

Enfim, Macanudo # 1 é apaixonante, sutil e belo. Um dos melhores lançamentos do ano.

Classificação:

4,0

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