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MARVEL APRESENTA # 36 – MASSACRE RENASCE

1 dezembro 2008


Autores: Jeph Loeb (roteiro) e Rob Liefeld (arte).

Preço: R$ 8,50

Número de páginas: 120

Data de lançamento: Junho de 2008

Sinopse: Quando a Feiticeira Escarlate tirou os poderes da maioria dos mutantes, um ser ressurgiu: o Massacre. Formado por fragmentos da memória de Magneto e os poderes de Xavier, ele quase matou grande parte dos heróis da Terra no passado.

Agora que voltou, seu primeiro objetivo é tomar os poderes de Franklin Richards, o filho de Sue e Reed Richards.

Para fugir da poderosa criatura, o garoto retorna para ao universo paralelo de Heróis Renascem, onde pede ajuda para as versões dos Vingadores e do Quarteto Fantástico.

Positivo/Negativo: Cada época tem a homenagem que merece. Assim, nada mais justo que, passada uma década da publicação de Massacre Marvel, Heróis Renascem e Heróis Retornam, tais séries ganhem uma revista tão ruim quanto elas como edição "comemorativa".

Nos anos 1990, a DC fez o megaevento Zero Hora e, com isso, praticamente reiniciou pela segunda vez toda a sua cronologia (a primeira foi em Crise nas Infinitas Terras). Na esteira disso, a Marvel, pela primeira vez, tentou uma coisa parecida.

Um encadeamento de eventos que se iniciava quando o Magneto retirou o adamantium do corpo do Wolverine. Para dar um basta nas ações do vilão, Xavier apagou a mente dele, mas guardou um backup em seu próprio cérebro.

Muito mais pra frente, a fusão dessas memórias de Magneto com as frustrações de Xavier acabaram formando um corpo próprio e, usando os poderes do líder dos X-Men, Nate Grey (uma versão do Cable da Era do Apocalypse) e Franklin Richards se tornam o poderoso vilão Massacre.

No final, os Vingadores e o Quarteto Fantástico são dados como mortos em combate. Assim, a Marvel se dividiu em duas linhas editorias: a cronologia oficial e a de Heróis Renascem.

Em HR, o leitor conheceu um mundo totalmente novo, praticamente sem heróis, onde aos poucos são contadas as origens dos Vingadores e do Quarteto. Já no universo oficial, continuaram os vigilantes sobreviventes (Homem-Aranha, Demolidor, entre outros), os mutantes que não combateram diretamente o Massacre e um novo grupo, os Thunderbolts (vilões liderados pelo Barão Zemo que se apresentam como novos combatentes do crime para preencher o vácuo deixado pelo sumiço das duas equipes).

Durante esse período, vários problemas editoriais ocorrem nas revistas Heróis Renascem, principalmente envolvendo atrasos e negociações de contratos entre os estúdios que ficaram responsáveis pela arte: Wildstorm Productions, de Jim Lee, e Extreme Studios, de Rob Liefeld.

Com isso, as revistas sofreram com atrasos e uma queda na qualidade, que já era bem duvidosa, mas seguiam o estilo predominante de desenho da época.

Assim, com a série já mal vista pela crítica e pelos leitores, ocorre o evento Heróis Retornam, no qual é revelado que todo aquele novo universo foi criado por Franklin Richards para proteger sua família e os Vingadores do Massacre.

Então, os personagens retornam à cronologia oficial, esse universo compacto criado por Franklin tem a forma de uma bola que ele guarda no seu quarto, e toda a história de reiniciar a cronologia é esquecida pelos editores.

Esse processo durou quase dois anos de tramas duvidosas, sem propósito e logo abandonadas nas dobras da cronologia editorial da Marvel. O tipo de história que a editora poderia deixar esquecida debaixo do tapete. Afinal, comemorar o quê? Até porque, qualquer aventura escrita sobre essa realidade teria, como a desta edição, muitos problemas e furos.

Os problemas começam com a justificativa de Loeb para a volta do Massacre. Ele revela que a causa foi o momento em que Wanda tira os poderes da maioria dos mutantes. Mas já foi dito que os dons de todos os mutantes se canalizaram em um ser, como foi mostrado em Novos Vingadores. Então, não faz sentido só os de Magneto e Xavier saírem por aí "passeando".

Depois, a viagem de Franklin para o mundo de Heróis Renascem. Como os Vingadores e o Quarteto daquele mundo eram, na verdade, os heróis originais, não faz sentido eles continuarem co-existindo naquela realidade esvaziada no evento Heróis Retornam.

Até dá para escapar dizendo que o garoto os recriou para protegê-lo do Massacre. Mas ainda resta o pior de tudo: o elemento-chave da trama ser o Gavião Arqueiro/Wolverine. Nem vale comentário, pois o Gavião Arqueiro não existia em Heróis Renascem e, como foi dito, naquela realidade não havia nenhum mutante.

Por isso, tentar fingir que a identidade do personagem é secreta, é quase ofender o leitor. Ele usa o uniforme do Wolverine na versão marrom, com a única diferença de a máscara ser completa!

Como se isso não bastasse, Loeb se supera e, com extrema falta de criatividade, usa Wolverine da mesma forma que em Dinastia M para resolver a história. De repente, ele tem um surto de memória, lembra de tudo sobre a vida dele, o universo e tudo o mais e ajuda todos a acabarem com o Massacre.

É claro que uma homenagem "aos clássicos" dos quadrinhos dos anos 1990 não estaria completa sem um desenhista como Rob Liefeld, que representa o que de pior proliferou naquela geração.

Se você foi corajoso e comprou esta revista, preste atenção no desenho e veja as proporções anatômicas impossíveis. Ninguém inventou tantos músculos diferentes quanto esse "artista" e seus seguidores. As pessoas são absurdamente compridas, a ponto de ocuparem sozinhas uma página. Afinal, a grande meta era fazer muitas páginas por dia, não importava a que custo.

Para se ter uma idéia do quanto Liefeld enrola, em 111 páginas de HQ, há 13 duplas, ou seja, 26 painéis gingantes sem quadrinhos, com poucos cenários, só com personagens anabolizados.

Das 85 restantes, 11 são splash pages, páginas sem quadrinho algum, geralmente com um ou dois personagens.

Ou seja, em HQ de cinco partes, somente 74 páginas têm alguma narrativa visual e, mesmo nessas, tudo é pouco desenvolvido.

O problema é que, em algum momento, o estilo de Liefeld foi hipervalorizado e ele jamais precisou se esforçar para trabalhar os outros elementos que compõem uma boa história em quadrinhos. Hoje, depois que seu "estilo" saiu de moda, como ele não soube, não quis ou não achou necessário evoluir, acabou virando uma grande piada. Mas uma piada que ainda tem lá seus fãs.

Algo que merece ser dito sobre esta edição é que, nos Estados Unidos, ela foi lançada como um hit semanal com um apelo emocional extra: a maior parte do dinheiro arrecadado com a venda dos cinco números da minissérie seria doado para o Sam Loeb College Scholarship Fund (um fundo de investimentos para financiar uma bolsa de estudos em memória do recém-falecido filho de Jeph Loeb).

E a edição nacional pecou por não ter nenhum texto complementar, que poderia conter algumas informações sobre as séries "homenageadas" e revisitadas e a citação sobre o filho de Loeb. Afinal, foi feita uma grande divulgação em torno disso nos EUA e, como o leitor confere na última página, a revista é dedicada à Sam Loeb.

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