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O PEQUENO LIVRO DOS BEATLES

1 dezembro 2011

O PEQUENO LIVRO DOS BEATLES

Editora: Conrad - Edição especial

Autor: Hervé Bourhis (roteiro e arte) - Publicado originalmente em Le petit livre Beatles.

Preço: R$ 44,90

Número de páginas: 168

Data de lançamento: Janeiro de 2011

 

Sinopse

Uma biografia dos Beatles, desde o nascimento de cada um de seus integrantes, passando pela dissolução do grupo, as carreiras solo e a morte de John Lennon e George Harrison.

Positivo/Negativo

A Conrad lança mais uma obra do francês Hervé Bourhis no Brasil. A primeira foi O pequeno livro do rock e, agora, uma obra com características editoriais semelhantes, com o mesmo formato (que lembra a de um disco compacto de vinil) e tema, a música.

Este álbum foca a trajetória do grupo mais influente da história da música pop, os Beatles. E o trabalho de Hervé Bourhis é muito bom, tanto nos desenhos quanto no roteiro.

Mas essa qualidade não invalida pelo menos duas questões sobre a obra.

A primeira seria: por que criar mais um trabalho sobre a biografia dos fab four? Qualquer leitor que pesquisar em uma livraria sobre os Beatles encontrará muitas obras de referência, biografias do grupo e de cada integrante, letras, fotos, documentários em vídeo oficiais e não oficiais... Enfim, o material sobre os quatro rapazes de Liverpool é extenso.

Pode-se pensar em razões comerciais, pura e simplesmente. Os beatlemaníacos são muitos e compram quase tudo relacionado ao seu objeto de paixão. Ou ainda é possível cogitar que o próprio autor seja um fã da banda, a prestar sua homenagem.

A segunda hipótese soa mais convincente. Mas não é só isso. Os Beatles encarnam a cultura pop como um todo. Eles são música, desenho animado, filme, camiseta, blogs, sites, tatuagens. Até quadrinhos já foram, fora diversas aparições em revistas como personagens.

Por que não criar uma HQ que conta a trajetória da banda?

E isso leva ao segundo questionamento: O pequeno livro dos Beatles é uma história em quadrinhos?

Se o leitor voltar a alguma das livrarias onde hipoteticamente esteve vasculhando o que havia de material sobre os Beatles e procurar por esta edição da Conrad, vai encontrá-la catalogada tanto em "história em quadrinhos", quanto em "Música", "Artes" e "Biografias".

Um tanto pelo objeto, a banda pop mais famosa da história, um tanto pelo formato que Bourhis escolheu para trabalhar.

O autor francês pode ser qualificado, sem dúvida, como quadrinhista. Tem alguns álbuns não publicados no Brasil em que trabalha com a arte sequencial de modo que leitor algum estranharia.

Mas em O pequeno livro dos Beatles cabem alguma reflexões.

A trajetória da banda e de seus membros é disposta cronologicamente, de maneira linear. As linhas são diversas, mas sucedem-se de forma causal. Ressalte-se que ser ou não linear não define uma obra como história em quadrinhos.

Mas o que define, afinal?

Por exemplo, sabe-se que as ilustrações de Gustave Doré para Dom Quixote não fazem do clássico espanhol uma HQ. Algumas edições do livro trazem uma bela arte de Doré que decodifica imageticamente uma parte do texto de Miguel de Cervantes. Porém, muitos quadrinhos das Eras de Ouro e de Prata apresentam uma relação semelhante entre texto e imagem, no qual a imagem e texto dizem a mesma coisa. Ou quase.

Claro, existe a ideia de intenção. Cervantes escreveu a história do cavaleiro da triste figura para ser um texto em prosa, sem ilustrações. E os quadrinhos citados acima já nasceram como texto e imagem. Além da intenção, há também a relação de quadro com quadro.

Dom Quixote tem uma ilustração a cada dezena de páginas, enquanto as HQs, por mais redundante que seja a relação texto e imagem, desenvolvem-se quadro após quadro.

A ideia de que os eventos acontecem na HQ em seus quadros, tenham eles imagem, texto ou ambos, é mais ou menos válida para a maior parte das produções do que chamamos hoje de histórias em quadrinhos.

Obviamente, pode-se questionar tal afirmação ao se pensar em livros ilustrados, considerando cada página como se fosse uma splash page, recurso abundantemente usado por Jeph Loeb, em seu Hulk Vermelho. Mas o que tem Hervé Bourhis a ver com isso tudo?

Os quadros em O pequeno livro dos Beatles são dispostos como a lembrar um álbum de quadrinhos, mas mantêm entre si relação temática e não de ação. O evento se encerra em cada um daqueles quadros e as ações não vão além de um único quadro.

Os teóricos interessados podem, a partir dessa massa de perguntas e suposições, buscar algumas boas respostas. Ou perguntas e suposições cada vez melhores.

Para o leitor de quadrinhos, existe aqui um álbum num formato interessante para se contar a história que propõe. É funcional, informativo, divertido e opinativo, pois Bourhis não se coíbe de palpitar sobre os discos que mais gosta e dar nota para todos eles.

Para o beatlemaníaco, há mais um objeto de coleção a se conquistar, com belas ilustrações e a opinião de alguém que também ama os fab four, para discordar ou concordar.

Resumindo, ao final de uma dor de cabeça teórica, sobra uma álbum que pode ser muito legal para todos os possíveis interessados: mais festivo, sentimental e experimental. Mas não é assim que são as canções dos Beatles, afinal?

Classificação:

4,0

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