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O QUINZE

1 dezembro 2012

O QUINZE

Editora: Ática - Edição especial

Autor: Shiko (roteiro e arte) - adaptação do romance de Rachel de Queiróz.

Preço: R$ 29,90

Número de páginas: 88

Data de lançamento: Junho de 2012

 

Sinopse

No sertão do Ceará, em meio ao desengano e à esperança, três histórias se cruzam sobre uma espera sem fim: Conceição tenta convencer a avó a abandonar sua propriedade e levá-la para Fortaleza, onde trabalha como professora; o vaqueiro Chico Bento fica desempregado e, sem dinheiro para o trem, é obrigado a caminhar pelas estradas com a família, vivenciando fome, sede e morte; e apenas Vicente permanece na própria fazenda, lutando contra o sol escaldante e a mortandade do gado.

O ano é 1915, que ficaria marcado para sempre na história por uma das maiores secas que o Nordeste brasileiro já enfrentou.

Positivo/Negativo

Para retratar as agruras do sertão nordestino, só mesmo alguém que conviveu de perto com essa dura realidade, na qual o sol marca impiedosamente tanto o chão quanto a pele daqueles que estão sob seus raios.

Na década de 1930, dois escritores narraram, de forma épica, a tenacidade e a fé dos sertanejos retirantes, que deixavam o Nordeste em prol de uma vida abundante nas regiões Sudeste e Norte: Rachel de Queiróz, em O Quinze, seu romance de estreia, publicado em 1930, e Graciliano Ramos, em Vidas Secas, de 1938.

Se o último ganhou uma primorosa adaptação cinematográfica pelas mãos de Nelson Pereira dos Santos, em 1963, o primeiro acaba de ser adaptado aos quadrinhos por Shiko, que respeitou o texto da autora e, ainda assim, teve personalidade para deixar sua marca nele.

A necessidade de um bom inverno, a estação das chuvas no Nordeste, faz o sertanejo ser um grande devoto de São José. A sabedoria popular diz que se a chuva não vem no dia 19 de março, a colheita e o gado minguarão.

Quando não cai uma única gota d'água durante um mês ou mais, é prenúncio de seca. E no ano de 1915 ocorreu a primeira grande seca do Século 20, no Brasil.

Em O Quinze, são mostradas as diferentes trajetórias de sertanejos, moradores de Quixadá, interior do Ceará, naquele fatídico ano.

Se Dona Inácia solta o gado e as galinhas e parte com a neta Conceição para Fortaleza, Vicente compra algumas reses e resiste em Quixadá até o fim, enquanto Chico Bento e sua família migram a pé para tentar a sorte no perímetro urbano.

O olhar triste de uma vaca moribunda para a família de Chico Bento indica que a jornada não será fácil, pois o cenário conclama a morte.

Na capital, Dona Inácia não entende a neta, que prefere os livros à tradição. Isso porque Conceição carrega o idealismo socialista, chegando a doar seu salário para ajudar os retirantes nos campos de concentração, os currais de gente onde famílias são amontoadas pelo governo, agarrando-se à fé em meio à miséria.

E o amor não declarado entre Vicente e Conceição, um vislumbre de felicidade na trama, padece sob fofocas infundadas, tornando seus corações tão áridos quanto à paisagem.

Assim como Rachel de Queiróz, Shiko é nordestino, nasceu em Patos, interior da Paraíba, e somente aos 20 anos se mudou para João Pessoa.

As reminiscências de menino e a sensibilidade artística fizeram-no produzir um belíssimo álbum, ao registrar com traço realista e pinceladas em aquarela, as expressões, os trejeitos, as cores (que se revezam entre vermelho-cobre, amarelo e algumas porções de azul), os ângulos e enquadramentos (fechados, em sua maioria, dando um tom intimista à obra), a fumaça do cigarro que projeta lembranças, e os delírios causados pela mistura de insolação e fome daqueles forçados a perder o pouco que tinham, trilhando caatinga adentro para garantir a sobrevivência dos seus.

Numa edição que traz contexto histórico, biografia dos autores e curiosidades sobre a adaptação do romance para os quadrinhos e uma das melhores capas do mercado de quadrinhos nos últimos anos, a Ática demonstra todo o esmero que está tendo com seus títulos de quadrinhos.

Não bastasse o Agaquê ter publicado excelentes graphic novels europeias, o selo Clássicos Brasileiros em HQ, ao qual pertence a adaptação de O Quinze tem publicado vários autores nacionais, muito bem escolhidos, diga-se de passagem, diferenciando-se de muitas outras feitas com oportunismo, primando pela quantidade e comprometendo a qualidade.

 

Classificação:

4,0

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