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O RETORNO DO SUPER-HOMEM # 1

1 dezembro 2006


Título: O RETORNO DO SUPER-HOMEM # 1 (Editora Abril) - Minissérie em três partes

Autores: Roger Stern, Dan Jurgens, Karl Kesel e Louise Simonson (roteiro), Dan Jurgens, Tom Grummet, Jon Bogdanove e Jackson Guice (desenhos) e Bret Breeding, Dennis Janke, Doug Hazlewood e Denis Rodier (arte-final).

Preço: R$ 3,20

Número de páginas: 160

Data de lançamento: Setembro de 1994

Sinopse: O mundo é arrebatado pela notícia de que não um, mas quatro pessoas reivindicam ser o Super-Homem ou sucessores de seu legado.

O Homem do Amanhã, que também ficaria conhecido como Superciborgue, é um ser cibernético com apenas uma pequena fração de seu corpo coberta por tecido e os 70% restantes são compostos por uma liga metálica Kryptoniana.

Além de ter o código genético de Kal-El em sua parte orgânica, possui memórias vagas sobre a fazenda Kent. Além disso, é o único a usar o padrão original do uniforme.

O Homem de Aço é John Henry Irons, um trabalhador braçal que, na verdade, é um gênio da tecnologia militar que se vê impelido a manter vivo o legado do Super-Homem e é o único a negar ser o herói.

Superboy é o resultado dos experimentos do Cadmus com o corpo do Super-Homem
durante a minissérie Funeral para
um Amigo
, mas seria mesmo ele um clone de Kal-El?
O Último Filho de Krypton é idêntico ao Super-Homem em fisionomia, mas suas roupas seguem um padrão kryptoniano; e não se parece em nada com o defensor de Metrópolis no tocante à moral, apresentando-se como um justiceiro desalmado ao punir criminosos durante suas missões. Ele conhece a verdade sobre a dupla identidade de Clark Kent e seu envolvimento amoroso com Lois Lane.

Esses quatro indivíduos dividem as opiniões do público e dos amigos íntimos do finado herói, inclusive sua noiva Lois Lane. Afinal, teria ele voltado dos mortos? Seria um desses misteriosos seres o kryptoniano ressuscitado e "melhorado"? Como teria Kal-El vencido a morte após os eventos mostrados em Super-Homem - Além da vida?.

Enquanto isso, os rumores sobre a morte de Apocalypse, o monstro que matou o Super-Homem, parecem ter sido exagerados.

Positivo/Negativo: Entrando em sua reta final, a saga que apresentou a morte, funeral e o destino da "alma" do Super-Homem chega ao momento em que, aparentemente, todos os demais arcos serviram de pretexto para apresentar.

Afinal, desde A Morte do Super-Homem,
todos sabiam que a DC traria o herói de volta. A grande questão
era: como?
O grande mérito da editora foi saber manipular esta dúvida por diversas edições, culminando na saga do O Retorno do Super-Homem, na qual pegou surpreendeu todos trazendo de volta não um, mas quatro Super-Homens. A estratégia criou ainda mais rebuliço na imprensa e nos fãs de quadrinhos e lançou novos enigmas e divagações quando todos acharam que a coisa estava perto do fim.

Este primeiro número - compilação dos seis primeiros capítulos originalmente publicados nos Estados Unidos - é um verdadeiro show no quesito arte e argumento. E, para batizar a saga que redefinira o Super-Homem para os anos 90 e além, a DC optou pelo título (original) Reign of Supermen, ou O Reino dos Super-Homens.

The Reign of Superman foi justamente o nome da primeira história criada por Jerry Siegel com um "super-homem", não o que conhecemos, mas seu embrião: um vilão careca que possuía poderes mentais! Uma clara homenagem dos autores ao verdadeiro legado do Homem de Aço.

A cada equipe dos quatro títulos editados na época foi dada a liberdade de criar um Super-Homem substituto, cada um tendo um dos "apelidos" de Kal-El como codinome.

Dan Jurgens ficou com o Homem do Amanhã, Karl Kesel assumiu o Superboy, Louise Simonson deu vida ao Homem de Aço e Roger Stern, ao Último Filho de Krypton. Cada um possuía uma personalidade distinta e bem trabalhada pelos autores ao longo das histórias desta edição, na qual fica clara a diferença ideológica marcante entre todos. Mas prenunciam-se grandes conflitos quando eles começarem a cruzar o caminho uns dos outros.

Antes de analisar a personalidade de cada um, é preciso entender o contexto histórico em que a trama foi escrita. No começo dos anos 90, o Super-Homem era tido como um herói ultrapassado, monótono, com valores desatualizados e distantes da realidade (ponto de vista que não mudou para muitas pessoas atualmente).

Os comentários freqüentes na época - assim como hoje - eram sobre uma "atualização" do personagem, tornando-o mais "legal" e interessante para os jovens e "antenado" com as realidades do mundo moderno.

Os mutantes da Marvel vendiam milhares de exemplares, assim como o Justiceiro e os heróis ultraviolentos e anabolizados da recém-fundada Image e estes eram os padrões apontados como "bem-sucedidos" comercialmente, justamente por apresentarem uma ou outra das qualidades supracitadas.

A sutileza do argumento dos Quatro Super-Homens passa exatamente por essas questões e é fato que, dez anos depois, muitos fãs ainda não se deram conta! Cada um dos personagens reflete justamente um dos padrões estereotipados dos heróis "legais" da atualidade.

O Superciborgue tem próteses cibernéticas, é cheio de aparelhos embutidos e capaz de ser representado em cenas sensacionais, em que milhares de componentes de desdobram de seu corpo.

O Homem de Aço é a epítome dos personagens do final dos anos 80 e começo dos 90, quando heróis de armadura pipocavam nas revistas mais do que estrelas no céu (o próprio Super-Homem usou uma brevemente num período anterior à sua morte assim como o "Batman" Jean-Paul Valley).

O Superboy é o típico super-herói adolescente, uma versão geração MTV de Kal-El, conforme o próprio Karl Kesel afirmou na época.

E o Último Filho de Krypton, este sim, representa a moralidade dos personagens que estavam/estão "verdadeiramente" ligados ao mundo real para muita gente, um justiceiro implacável, que retribui de forma violenta as ações dos marginais, aleijando, espancando e queimando os criminosos sem a menor piedade. Um padrão moral que muitos acham faltar no Super-Homem, por ele representar uma fé inabalável na justiça e nos direitos humanos.

Ao criarem esses personagens como "substitutos" do finado kryptoniano, Jurgens e cia. estavam criticando todos esses estereótipos e mostrando como o Super-Homem, com seu código de ética e moral, é mais atemporal e virtuoso que modismos. E é justamente aí que reside sua força, pois nenhum dos quatro, no fundo, é capaz de substituí-lo, nem mesmo o bem-intencionado John Henry.

Além de apresentar todos esses dilemas, este primeiro número traz uma profusão de acontecimentos surpreendentes. Sem se preocuparem em explicar muito e mais interessados em confundir ainda os leitores, os escritores e desenhistas fazem um tour pelas primeiras aparições dos quatro heróis, enquanto introduzem uma série de personagens novos relacionados a eles, como Tana Moon e a Coelhinha Branca. Isso sem contar os dramas pessoais de cada um.

É Lois Lane quem faz a ponte entre os quatro personagens e o leitor. Conhecendo Clark melhor que todos, é a maior autoridade para (re)conhecer quem é o verdadeiro, mas até mesmo ela parece confusa diante de tantas informações cruzadas e enigmas.

Ainda assim, são as análises dela que norteiam e servem de pistas sobre quem pode ou não ser o Super-Homem "ressuscitado". O primeiro encontro de Lois com um dos seres é uma referência à primeiríssima vez que viu seu futuro noivo, na minissérie O Homem de Aço, de John Byrne.

Todos os autores se esforçam para contar da melhor forma suas histórias. Tom Grummet captar com mestria a jovialidade e irreverência do Superboy escrito por Kesel, um jovem que não se leva a sério e não parece estar consciente da importância do legado que insiste em carregar.

Mesmo o irregular Jackson Guice parece ganhar novo gás junto à espetacular trama que se desenvolve sob a pena de Roger Stern e ilustra com grande competência suas duas aventuras. Destaque para o confronto entre o Último Filho de Krypton e Guy Gardner (antes de a DC arruinar o personagem no final da primeira metade dos anos 90).

É Dan Jurgens, junto com seu brilhante arte-finalista Brett Breeding,
quem dá um verdadeiro show nas aventuras do Superciborgue, mostrando de
forma empolgante o herói usando seus poderes robóticos, como na invasão
do Cadmus. É nesse momento que, enfim, revela-se o destino do corpo de
Apocalypse, fato que teria mais tarde repercutiria na minissérie Super-Homem
versus Apocalypse - A Revanche
.
O ponto menos interessante são as histórias do Homem de Aço. Apesar de ser um personagem cativante (sua longevidade na DC até hoje atesta isto), a escritora Louise Simonson tropeça ao cair no lugar-comum de apresentá-lo envolvido com as cansativas guerras de gangues norte-americanas.

Ao introduzir aquele que provavelmente se tornaria o segundo maior herói negro da DC (atrás apenas do Lanterna Verde John Stewart), Simonson poderia ter criado uma solução menos estereotipada.

Os traços poderosos de Bogdanove ajudam a passar toda imponência deste novo Super-Homem, mas deixa os fãs com saudade de seu estilo antigo, mais limpo e bem trabalhado.

Uma curiosidade: o nome "John Henry" pertence a um personagem hoje quase mítico que viveu no século XIX no sul dos Estados Unidos. O "original" era um trabalhador braçal das ferrovias que teria derrotado uma máquina ao provar que poderia trabalhar mais rápido que ela, e cuja lenda sobreviveu através de baladas e canções dos operários.

O Retorno do Super-Homem é a coroação de um grande trabalho e exemplo de que a oportunidade de lucrar com determinado evento nos quadrinhos pode (e deve) ser associada a uma direção editorial firme, para criar uma trama coesa com personagens cativantes. Assim, não se aliena os leitores de longa data e consegue-se atrair os novos, propiciando a verdadeira finalidade de uma bela história: divertir seu público.

A Editora Abril deu à minissérie um tratamento ainda melhor do que à Morte do Super-Homem, lançando uma edição sem precedentes em seu trabalho com super-heróis: a revista tinha capa especial, com o formato do símbolo do "S" recortado no centro, deixando visível o escudo (do Superciborgue) na terceira página.

Além disso, foi acompanhada de uma pasta plástica contendo o primeiro número, um fac-símile de Action Comics # 1 (a primeira aparição do Super-Homem), um transfer para ser aplicado em camisetas, uma revista especial contendo ficha dos personagens e adesivos com arte de Jon Bogdanove e do insuperável José Luís Garcia-Lopez.

Justamente aí reside um pequeno problema: o novo visual do Homem de Aço foi apresentado ao leitor antes da conclusão da saga. Uma falha perdoável diante de tantos pontos positivos da história, da produção editorial e dos brindes.

 

Classificação:

4,0

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