Autor: Hideshi Hino (texto e arte).

Preço: R$ 29,00

Número de páginas: 192

Data de lançamento: Janeiro de 2009

Sinopse: Oninbo é um demônio em forma de garoto que vive para caçar vermes do inferno - criaturas que se alimentam dos traumas das pessoas.

Nas quatro histórias do álbum, ele vai se encontrar com quatro humanos que são atormentados pelos vermes: um jovem nadador, uma estudante, uma moça solitária e a mãe de um bebê.

Positivo/Negativo: O mercado de mangás no Brasil é farto, com certa variedade de gêneros e temas - e um bom punhado de obras distribuídas entre bancas e livrarias. Pois, mesmo no meio de tanta coisa, um título com a assinatura de Hideshi Hino obrigatoriamente se destaca.

Apesar de ter uma tradição recente por estas bandas, de não mais que três anos, e apenas quatro álbuns publicados, o criador já tem uma posição de destaque nas HQs orientais, deixando-o próximo de outros mestres do gênero, como Kazuo Koike e mesmo Osamu Tezuka. Isso porque seu trabalho, ainda que menos conhecido, é costumeiramente denso, fascinante e profundamente expressivo.

Oninbo e os vermes do inferno é o mais recente volume da obra de Hideshi Hino a sair por aqui. Novamente, o trabalho do mangaká é uma curtição para os apreciadores do horror e dos quadrinhos com uma pegada mais underground.

O traço intenso em preto e branco dá forma a uma história com a marca do terror japonês: denso, perturbador, em que o pavor nasce de delírios provocados pelo inconsciente dos personagens como resposta a atos do passado - como se fosse um tratamento de psicanálise feito a fórceps (e uma leitura psicanalítica da obra seria muito bem-vinda).

Mais uma vez, como é constante no trabalho do autor, a obra é protagonizada por um garoto que se relaciona com seres considerados repugnantes - neste caso, vermes.

Nesta história, o garotinho é, na verdade, um demônio - a meninice é apenas a casca para a criatura que se alimenta dos tais vermes do inferno, que trazem ao nível consciente, via alucinações, os terrores armazenados na alma dos humanos hospedeiros.

Como caçador de vermes, Oninbo acaba ajudando as vítimas dos vermes - mas não há bondade alguma nisso. A eliminação das criaturas é apenas uma consequência de sua caça por comida.

Hideshi Hino cria, portanto, um anti-herói absolutamente cínico. Mas sua aparência infantil e dócil acaba criando vínculos com o leitor. É na contradição de ser um demônio indiferente aos humanos e, ao mesmo tempo, um menino corajoso e salvador, que Oninbo se torna um protagonista vigoroso, capaz de levar a série nas costas com facilidade.

Nas quatro histórias, a situação de Oninbo salvar um humano se repete - e em todas as vezes o leitor é dissuadido de aplaudir o egoísta garoto-demônio.

A grande virada da trama se dá no final da quarta história - e do álbum, portanto. Uma situação que fica em aberto deixa a sensação de que talvez seja preciso escolher um lado.

Mas o álbum traz apenas a deixa. Fica o desejo de que a Zarabatana traga logo o segundo e último volume da série, já anunciado na orelha do livro.

 

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